Ibovespa defende a linha dos 124 mil pontos apesar da pressão no câmbio

Publicado 02.07.2024, 14:52
Atualizado 02.07.2024, 18:10
© Reuters.  Ibovespa defende a linha dos 124 mil pontos apesar da pressão no câmbio
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Apesar do prosseguimento da pressão no câmbio, que colocou o dólar a R$ 5,70 na máxima desta terça-feira, o Ibovespa avançava para a linha dos 125 mil pontos, cedida nos ajustes finais, pouco acima da estabilidade no fechamento e no maior nível desde 22 de maio, então aos 125.650,03. Hoje, o índice da B3 (BVMF:B3SA3) oscilou dos 124.310,24 aos 125.490,73 pontos, saindo de abertura aos 124.720,19 pontos. Ao fim, mostrava leve ganho de 0,06%, aos 124.787,08 pontos, com giro a R$ 20,0 bilhões. Na semana e no mês, sobe 0,71%, limitando a perda do ano a 7,00%.

Ao comentar a alta do dólar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve as baterias voltadas nesta terça-feira ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, a quem acusou de viés político - e que, dessa forma, não deveria estar à frente da instituição, no entender de Lula. O mandato de Campos Neto termina no fim do ano, e o mercado segue auscultando sinais, até aqui desfavoráveis, sobre como ficará a autarquia no ano que vem, sob fogo cerrado de Lula e do PT nas últimas semanas.

A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, afirmou hoje que Campos Neto seria o responsável por suposto ataque especulativo ao real, e que a autoridade monetária estaria de "braços cruzados", sem fazer operações no mercado de câmbio para conter a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar.

Em contraponto a Lula e Gleisi, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, procurou garantir que não há nada que o governo esteja planejando no sentido de conter o câmbio, mas que é preciso "acertar a comunicação" sobre a autonomia do Banco Central e a "rigidez" do arcabouço fiscal. Haddad fez referência à declaração dada pelo presidente Lula mais cedo - que, na avaliação do ministro, "elogiou" o arcabouço e a autonomia da autoridade monetária. Para Haddad, é esse encaminhamento que irá "tranquilizar" as pessoas.

Para além da boa vontade de bombeiro que analistas ainda atribuem a Haddad, as declarações políticas contra a autonomia do BC têm aprofundado a desconfiança do mercado quanto às intenções do governo sobre as contas públicas, punindo especialmente câmbio e juros futuros, com a imposição de mais prêmios frente à incerteza que tem se enraizado para 2025. Ante o fogo cerrado, o Ibovespa tem conseguido, até aqui, defender a recuperação iniciada na segunda quinzena de junho - mas o fôlego tende a ser encurtado pela pressão derivada do enfraquecimento do real e da imposição de prêmios crescentes na curva do DI.

"Ainda que se queira atuar sobre a Selic com imediatismo, o que conta, no fim do dia, é a ponta longa da curva de juros, que tem mostrado mais exigência de prêmio pelo mercado. Se não tem boa indicação sobre o fiscal, isso não muda. E o ajuste pelo lado das despesas já mostrou seus limites, é preciso cortar gastos", observa Cesar Mikail, gestor de renda variável na Western Asset.

Na B3, o dia foi misto para Petrobras (BVMF:PETR4) (ON +0,27%, PN -0,31%) e negativo, mas moderadamente, para Vale (BVMF:VALE3) (ON -0,33%) no fechamento, os carros-chefes do Ibovespa. Por sua vez, os grandes bancos operaram na maioria em alta, movimento que chegou a ensaiar um pouco mais de dinamismo em direção ao encerramento, à exceção de Bradesco (BVMF:BBDC4) (PN -0,16%) - destaque para Itaú (BVMF:ITUB4) (PN +1,30%, na máxima do dia no fechamento). Na ponta ganhadora, PetroReconcavo (BVMF:RECV3) (+5,49%), BRF (BVMF:BRFS3) (+2,56%) e Minerva (BVMF:BEEF3) (+2,39%). No lado oposto, CVC (BVMF:CVCB3) (-7,69%), Cogna (BVMF:COGN3) (-7,26%) e São Martinho (BVMF:SMTO3) (-4,79%).

Hoje, o minério de ferro e o petróleo não caminharam na mesma direção - com o primeiro ainda em alta em Dalian, na China, de 1,44%, e a commodity de energia em baixa em Londres (Brent) e Nova York (WTI). Ainda assim, até aqui na semana, o desempenho do setor metálico e de energia tem sido um contraponto importante à performance ainda majoritariamente negativa do setor financeiro, à exceção, entre os grandes bancos, de Itaú (PN +0,83% na semana).

Mesmo com a baixa entre 0,4% (Brent) e 0,7% (WTI) nesta terça-feira, "o petróleo permanece próximo da máxima em dois meses, devido às tensões no Oriente Médio e a preocupações com o início da temporada de furacões no Atlântico", observa em nota a Guide Investimentos. Por sua vez, "o minério de ferro mantém-se próximo do fechamento mais alto em cerca de um mês, enquanto os investidores avaliam as perspectivas de demanda e se a China implementará novas medidas para o setor imobiliário", acrescenta a Guide.

"Apesar de não fazer tanto preço na Bolsa, com o mercado se acostumando à instabilidade política e às inseguranças fiscais, o dólar seguiu em trajetória altista hoje, em meio à insistente despreocupação do governo com o déficit fiscal, o que faz com que os investidores sigam em retirada", diz Felipe Castro, sócio da Matriz Capital, destacando que o giro financeiro na B3 deve se enfraquecer nas próximas sessões com o feriado de 4 de julho nos EUA.

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