Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda de mais de 1% nesta quinta-feira, em meio a noticiário corporativo intenso, com Hapvida despencando mais de 30% por receios sobre a solvência da empresa de serviços de saúde, que avalia opções para fortalecer sua estrutura financeira, incluindo emissão de ações.
A piora em Wall Street, em dia de forte queda de bancos e antes de dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos na sexta-feira, acelerou a trajetória negativa no final do pregão na bolsa paulista.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,38%, a 105.071,19 pontos, terminando perto da mínima da sessão, de 105.053,24 pontos. O volume financeiro somou 26,75 bilhões de reais.
Em Nova York, o S&P 500 recuou 1,8%, conforme prevaleceu a cautela antes do relatório de emprego de fevereiro, principalmente após o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, abrir a porta para um aumento maior e mais rápido dos juros dos Estados Unidos.
Papéis de bancos também pesaram no mercado norte-americano, após anúncio de venda de ações pelo SVB Financial Group, que desencadeou preocupações com a capitalização no setor, principalmente daqueles mais expostos a startups em meio a uma seca de financiamento de venture capital.
Investidores do mercado brasileiro também continuam no aguardo da nova regra fiscal para o país, prometida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para março.
"Vai agradar a todos, inclusive o mercado", disse a ministra do Planejamento, Simone Tebet, a jornalistas ao deixar o Ministério da Fazenda na parte da tarde, após se reunir com Haddad para tratar do tema.
Ela disse que o arcabouço atenderá tanto à preocupação de zerar o déficit primário e estabilizar a dívida pública como ao desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de garantir recursos para investimentos necessários ao crescimento do país.
As declarações de Tebet "corroboram cenário de boas regras fiscais", avaliou o economista-chefe especialista em política fiscal da Warren Rena, Felipe Salto, destacando a importância de se reforçar o compromisso com a responsabilidade fiscal.
"Trata-se de peça chave para a esperada inflexão na política monetária, em contexto de uma fragilidade já bastante evidente nos dados de atividade econômica", afirmou em nota a clientes.
Economistas têm citado que uma proposta que leve à sustentabilidade fiscal é necessária para que as expectativas de inflação comecem a ceder no médio prazo e permitam ao Banco Central reduzir os juros mais cedo.
Destaques
- HAPVIDA ON (BVMF:HAPV3) afundou 33,56%, a 1,94 real, renovando mínimas históricas e perdendo 7 bilhões de reais em valor de mercado, após a empresa de serviços de saúde anunciar que está avaliando alternativas para fortalecer sua estrutura financeira, incluindo a possibilidade de um aumento de capital por meio de emissão de novas ações. O anúncio trouxe receios de um cenário mais estressado do que o esperado em relação ao resultado e fluxo de caixa da companhia.
- CSN ON (BVMF:CSNA3) caiu 8,06%, a 16,54 reais, conforme o balanço do quarto trimestre mostrou aumento no endividamento, com a métrica dívida líquida sobre Ebitda ajustado de 2,21 vezes ante 0,76 vez no fim de 2021 e 1,69 vez no terceiro trimestre do ano passado. Em teleconferência, executivos afirmaram que a alavancagem em janeiro foi de 2 vezes. Também disseram que veem espaço para elevar preços de aços planos a partir de abril.
- ITAÚ UNIBANCO PN (BVMF:ITUB4) cedeu 1,91%, a 24,66 reais, também pesando no Ibovespa, enquanto BRADESCO PN (BVMF:BBDC4) fechou com variação negativa de 0,36%, a 13,97 reais.
- VALE ON (BVMF:VALE3) recuou 1,31%, a 84,98 reais, também pressionando o Ibovespa, mesmo com a alta nos preços futuros do minério de ferro na China. O contrato mais negociado na Dalian Commodity Exchange encerrou as negociações diurnas com alta de 0,6%, a 916,5 iuanes (131,45 dólares) a tonelada, após dados mostrando uma produção de aço mais alta.
- AZUL PN (BVMF:AZUL4) disparou 18,95%, a 14,25 reais, ampliando significativamente os ganhos no ajuste de fechamento, após a companhia aérea divulgar crescimento de 25,9% no tráfego consolidado de passageiros em fevereiro frente ao mesmo mês do ano passado, enquanto a capacidade aumentou 25,6% na mesma base de comparação. GOL PN (BVMF:GOLL4) valorizou-se 9,15%.
- CVC BRASIL ON (BVMF:CVCB3) avançou 9,74%, 4,17 reais, estendo a forte recuperação recente, na sequência de notícias sobre reestruturação de dívidas corporativas, principalmente da Azul, além de dados melhores sobre a demanda por viagens divulgados recentemente pelas companhias aéreas. A CVC também mantendo negociações para "reperfilamento" de sua dívida, embora tenha dito no começo da semana que, "no momento, não há nenhuma formalização dos termos e condições finais dessa negociação".
- DEXCO ON (BVMF:DXCO3) saltou 8,8%, a 7,05 reais, após renovar mínimas intradia desde maio de 2020 no começo da semana. A empresa de louças e produtos para construção civil reportou queda de 62,5% no lucro líquido no quarto trimestre de 2022 frente a igual período do ano anterior e afirmou que o início de 2023 foi "ainda mais difícil" que o fim de 2022, mas que espera entrar em caminho de recuperação de margem Ebitda a partir do segundo trimestre.
- MRV&CO ON (BVMF:MRVE3) subiu 6,38%, a 6,34 reais, mesmo após prejuízo líquido ajustado de 146 milhões de reais no quarto trimestre, conforme reduziu o consumo de caixa na comparação trimestral, enquanto tem meta de conseguir elevar o preço médio de seus imóveis para 230 mil reais até o final do ano, o que deve ajudar a produzir uma margem bruta de novas vendas de 33% ante 29% no fim do ano passado.
- MÉLIUZ ON (BVMF:CASH3) avançou 2,08%, a 0,98 real, após a companhia divulgar na véspera que avançou na consolidação da parceria com o BV, do Grupo Votorantim, informando entre outras coisas que está em estágio final de negociação para a venda do Bankly ao banco, o que deve ocorrer até o final do mês. Na máxima, os papéis chegaram a 1,05 real.
- LOCAWEB ON (BVMF:LWSA3) disparou 7,52%, a 5,72 reais, estendendo ganhos da véspera. Em relatório a clientes na noite de quarta-feira, o Citi destacou que a companhia tem posição líquida de caixa de mais 1 bilhão de reais, que permitiria recompras mais fortes de ações ou potencial oferta pública de aquisição dada a queda acentuada dos papéis. Desde a máxima histórica em fevereiro de 2021, as ações acumulam perda de mais de 80%. Em 2022, caíram quase 47% e em 2023 ainda perdem 18,5%.
- 3R PETROLEUM ON (BVMF:RRRP3) perdeu 6,09%, a 31,33 reais, tendo como pano de fundo balanço do último trimestre, com prejuízo líquido de quase 39 milhões de reais, enquanto o Ebitda ajustado ficou positivo em 112,6 milhões de reais. No setor, PRIO ON (BVMF:PRIO3) caiu 3,02%.
- PETZ ON (BVMF:PETZ3) recuou 7,09%, a 6,29 reais, após queda no lucro líquido ajustado do quarto trimestre frente ao mesmo período do ano anterior, a 24,9 milhões de reais.
- PETROBRAS PN (BVMF:PETR4) caiu 0,43%, a 25,31 reais, conforme os preços do petróleo Brent fecharam em queda de 1,29%, a 81,59 dólares o barril.
- IRB BRASIL ON (BVMF:IRBR3), que não está no Ibovespa, subiu 4,97%, a 20,69 reais, tendo chegado a 22,59 reais na máxima do dia, após encerrar o quarto trimestre com prejuízo líquido de cerca de 40 milhões de reais, mas queda na sinistralidade total no período. Em teleconferência com analistas, o presidente da resseguradora voltou a afastar a possibilidade de um novo aumento de capital pela companhia, caso o curso de seus negócios se mantenha dentro da normalidade.