Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - Executivos da área de mercados de capitais permanecem com uma visão positiva em relação a ofertas de ações de companhias brasileiras neste ano, mesmo após um segundo trimestre aquecido e um começo de semestre também movimentado, reflexo de uma melhora da percepção de risco do país.
Por ora, contudo, devem prevalecer as ofertas subsequentes, embora ofertas iniciais de ações, os IPOs, não estejam descartadas, em especial no final do ano.
De acordo com estimativa de Roderick Greenlees, chefe global da área de banco de investimentos do Itaú BBA, que afirma estar construtivo com o cenário, 2023 deve terminar com entre 25 a 35 operações (follow-ons e eventuais IPOs), algo da ordem de 40 bilhões a 50 bilhões de reais.
Neste ano, após uma operação nos primeiros três meses de 2023, em março, o período de abril a junho contou com oito ofertas subsequentes de ações e o mês corrente já registrou outros quatro follow-ons.
Assaí (BVMF:ASAI3), Hapvida (BVMF:HAPV3), Dasa, Orizon (BVMF:ORVR3), Smartfit, Oncoclínicas (BVMF:ONCO3), CVC Brasil (BVMF:CVCB3), Localiza (BVMF:RENT3), Vamos, Direcional (BVMF:DIRR3), Hidrovias do Brasil (BVMF:HBSA3), BRF (BVMF:BRFS3) e MRV&Co acessaram o mercado de capitais.
O volume total das operações, de acordo com dados da B3 (BVMF:B3SA3) e a partir de comunicados das empresas, alcança 22,3 bilhões de reais. Em todo o ano de 2022, foram 19 operações, que somaram 57,7 bilhões de reais, sendo que apenas a capitalização da Eletrobras (BVMF:ELET3) respondeu por 33,7 bilhões desse total. Não aconteceram IPOs.
Este ano houve operações apenas com ofertas primárias ou secundárias ou envolvendo ambas. Também houve negócios em que o controlador acompanhou aportes, outros que serviram para a saída de acionistas com participação relevante. Companhias também aproveitaram para buscar recursos para melhorar estrutura de capital e reduzir dívida, enquanto outras miraram expansão.
JANELA AINDA ABERTA
Greenlees avalia que deve haver mais uma ou duas transações utilizando os resultados do primeiro trimestre, entre julho e agosto, com follow-ons potencialmente voltando no final do próximo mês ou setembro após os balanços do segundo trimestre serem publicados e as férias no hemisfério norte terem acabado.
"As empresas quem têm projetos ou que querem se alavancar não vão esperar...não temos razão para prever um fechamento dessa janela", afirmou o executivo.
Na mesma direção, Pedro Leite da Costa, responsável pela área de Mercado de Capitais do Santander Brasil (BVMF:SANB11), afirma não enxergar nenhum gatilho que indique a não continuidade dessa toada nas operações. Ele vê possibilidade do ano terminar com algo entre 30 a 35 operações.
No pano de fundo das ofertas, está uma melhora no cenário brasileiro nos últimos meses, incluindo alívio da inflação e avanço na pauta no Congresso, notadamente a nova regra fiscal e a reforma tributária, além da consolidação de apostas de que o Banco Central deve começar a cortar a Selic em agosto.
De acordo com Marcello Lo Re, responsável pela área de mercado de capitais e operações de renda variável do Morgan Stanley (NYSE:MS) no Brasil, essa "aceleração" na atividade de follow-ons segue um movimento já visto no mercado norte-americano e encontra respaldo no comportamento recente das ações na B3.
"Preços melhores são mais convidativos", afirmou, ressaltando que não é só uma questão de preços mais altos, mas também múltiplos melhores.
Nos últimos meses a bolsa paulista mostrou uma robusta recuperação, com o Ibovespa acumulando no segundo trimestre uma valorização de 15,9%. Da mínima intradia do ano em março, de 96.996,84 pontos, à máxima até o momento em junho, de 120.518,52 pontos, a alta supera 24%.
Entre as ações de empresas que foram a mercado, dez acumulavam até a véspera valorização em relação ao preço fixado na oferta. E em comparação ao Ibovespa, no mesmo período, nove companhias tiveram uma performance melhor.
"As ofertas estão gerando resultado" afirmou Costa, do Santander Brasil. "Isso, para mim, é o ponto mais importante de todos... Sucesso gera sucesso, atrai mais vontade de fundos de olharem outras oportunidades", acrescentou.
Os executivos relataram que têm sido bastante procurados por empresas de diversos setores, incluindo infraestrutura, saúde, energia, educação, bens de capital, entre outros, buscando se capitalizar, aproveitar a janela. Umas das operações amplamente esperadas para o ano é a capitalização da Copel (BVMF:CPLE6).
A companhia de energia elétrica paranaense estimou recentemente um andamento célere das discussões nos órgãos de controle TCU e TCE-PR, consideradas as principais pendências para o lançamento da oferta de ações que levará à privatização da empresa, embora ainda não haja um cronograma fechado.
Uma boa parte do elenco que fez follow-on neste ano sinaliza uma atuação mais comedida de investidores, que, têm optado por papéis de companhias maiores, mais líquidas, líderes em seus segmentos, mirando rentabilidade no curto prazo, não no futuro.
"Nós estamos muito mais interessados hoje nas ofertas do que estávamos há dois anos", disse Pablo Riveroll, diretor de renda variável da Schroders (LON:SDR) para Brasil e América Latina, acrescentando que a gestora participou de alguns dos últimos follow-ons, embora de forma ainda limitada.
Riveroll afirmou que a Schroders, que tem 16 bilhões de reais investidos em ações de empresas brasileiras, está procurando setores que tiveram consolidação, que viram queda na concorrência desde a pandemia, empresas líderes em seus segmentos, que podem, com a retomada esperada da economia, ganhar market share.
Ainda de acordo com Riveroll, a Schroders tem participado de operações para fortalecer o balanço de empresas que acreditam que podem usar os recursos para acelerar o crescimento.
IPOS NO 4º TRI
Em relação a IPOs, Greenlees, do Itaú BBA, avalia que se os follow-ons mantiverem o desempenho recente será possível viabilizar as primeiras ofertas iniciais de ações eventualmente no quarto trimestre. E ele calcula que não serão operações menores que 1,5 bilhão de reais e que haverá mais seletividade.
"Não será como foi o ultimo 'boom' que tivemos, com todos os setores, tamanhos...serão operações que terão liquidez", disse. "Uma lição que o mercado aprendeu é que operações menores geram menos liquidez, o que é ruim no momento de retração do mercado, porque você não consegue sair da posição com muita facilidade."
Em 2021, foram 46 IPOs e os papéis de várias empresas novatas sofreram, em meio a uma piora nos cenários político e fiscal no país e preocupações com o ritmo de crescimento mundial. Março daquele ano também marcou o início do ciclo de aperto monetário no Brasil. O Ibovespa caiu quase 12% em 2021.
Costa, do Santander Brasil, afirmou acreditar que também haverá IPOs, mas poucos, este ano. Ele avalia que esse movimento dependerá muito da performance da bolsa brasileira, quanto as ações ainda podem subir, como será a reação à decisão de juros do BC no dia 2 de agosto e qual será o desfecho da reunião do Copom em setembro.
"Se a bolsa reagir bem, acho que podemos ver alguns IPOs... Uma mão cheia (de IPOs) eu acho bem possível", estimou.