Os juros futuros estiveram em queda durante toda a quinta-feira, assegurada pelo ambiente externo favorável e, internamente, na ausência de novidades negativas, a saída de cena do impasse em torno do Orçamento voltou a servir de argumento para devolução de prêmios, dada a avaliação de que pode abrir espaço agora para a discussão das reformas. O texto, no entanto, ainda não havia sido sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro até o fim da tarde. O dólar abaixo de R$ 5,50 e o rendimento da T-Note de dez anos rodando perto de 1,55% encorajou ordens de venda, em dia de leilão do Tesouro. A instituição reduziu o volume da oferta de prefixados, o que também ajudou a não adicionar risco ao mercado.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 4,63%, de 4,702% no ajuste de terça-feira, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 7,986% para 7,77%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 8,42%, de 8,634%.
As taxas terminaram a sessão regular nas mínimas, renovadas no fechamento dos negócios, na medida em que o dólar desceu à casa dos R$ 5,44 e os juros dos Treasuries passaram a recuar. "Temos hoje um 'catch up' do mercado, pois ontem o dia lá fora foi marginalmente positivo para as moedas emergentes e hoje esse ambiente, ao menos para o real, permanece", afirmou o estrategista de renda fixa do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, lembrando ainda que a T-Note de dez anos está em torno de 1,55%, distante da marca de 1,70% atingida semanas atrás.
André Alírio, operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos, credita parte da redução da inclinação da curva nesta quinta-feira ao otimismo dos agentes com a recuperação da economia internacional - embora se saiba que isso se dará forma desigual entre os países - e parte à melhora na percepção de risco fiscal pós-Orçamento. "Em que medida isso vai vir e quanto tempo vai durar o alívio é uma incógnita", afirmou.
A quinta-feira é a data limite para a sanção do Orçamento, que deve sair em edição extra do Diário Oficial, e a demora na publicação suscita otimismo de que o valor dos vetos possa ser maior do que os R$ 10 bilhões conhecidos. O acordo entre Executivo e Legislativo deixou R$ 125,8 bilhões de despesas relacionadas à pandemia fora da regra do teto de gastos, mas tornou o Orçamento agora "exequível" na avaliação do Ministério da Economia. Para a equipe econômica, o mais importante é que o acerto deu instrumentos para o governo bloquear despesas discricionárias (que incluem custeio e investimentos) quando o limite do teto de gastos for ultrapassado e não foi preciso acionar novamente o estado de calamidade.
"Embora não tenha sido a ideal, foi a solução menos pior dentro do que estava sendo ventilado, com alguma margem de manobra para o governo respeitar o teto. O assunto agora sai da pauta e dá espaço para a discussão das reformas", disse Rostagno.