Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Numa semana de forte pressão sobre os ativos brasileiros, as taxas dos DIs fecharam a sexta-feira em forte queda, com os dados de atividade mais fracos que o esperado no Brasil e a queda dos rendimentos dos Treasuries no exterior abrindo espaço para novo alívio nos prêmios da curva a termo, ainda que permaneçam no mercado as preocupações em torno da área fiscal.
O movimento foi mais intenso nos contratos a partir de janeiro de 2026, enquanto na ponta curta da curva permaneceu a precificação de fim do ciclo de cortes da taxa básica Selic na próxima semana, quando haverá reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo -- estava em 10,65%, ante 10,665% do ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,19%, ante 11,246% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,505%, ante 11,604%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2029 estava em 12,905%, ante 12,038%, e o contrato para janeiro de 2033 marcava 12,09%, ante 12,243%.
Na sessão de quinta-feira as taxas já haviam recuado após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defender o equilíbrio fiscal e o trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Nesta sexta-feira o movimento continuou com o auxílio de dados divulgados no Brasil e nos EUA.
Números do Banco Central mostraram que a economia brasileira abriu o segundo trimestre com estagnação, depois de ter apresentado desempenho positivo no início do ano, frustrando fortemente as expectativas. Em abril, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), considerado um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), teve variação positiva de 0,01% na comparação com o mês anterior, em dado dessazonalizado.
O resultado marcou uma melhora em relação à queda de 0,36% do indicador em março, mas ficou bem aquém da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,45%.
No exterior, os yields dos Treasuries exibiram leves baixas ao longo do dia, dando continuidade ao movimento visto durante a semana após dados de inflação nos Estados Unidos darem força às apostas de dois cortes de juros no país ainda em 2024.
Neste cenário de atividade não tão acelerada no Brasil e queda dos yields no exterior, as taxas dos DIs cederam durante praticamente toda a sessão. A taxa do contrato de janeiro de 2027 -- um dos mais líquidos -- atingiu a mínima de 11,465% às 12h03, em queda de 14 pontos-base ante o ajuste da véspera.
“A curva (brasileira) vinha com muito prêmio de risco colocado. Ainda temos, óbvio, muito prêmio nela, mas o que vem ajudando na baixa das taxas são os dados norte-americanos comportados, que fizeram os (yields dos) Treasuries caírem”, comentou durante a tarde o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado.
“No Brasil, também ajuda a sinalização dada ontem (quinta-feira) por Haddad e (a ministra do Planejamento, Simone) Tebet, no sentido de cortes de gastos. Ainda é muito cedo para acreditar que alguma revisão significativa virá, mas isso já trouxe um pouco de alívio”, acrescentou Machado.
Na véspera, Haddad afirmou que a equipe econômica intensificou o trabalho relacionado à revisão de gastos públicos com foco no fechamento do Orçamento de 2025. Já Tebet disse que levará ao presidente Lula um “cardápio” de medidas para cortar gastos.
Como os prêmios da curva brasileira seguiam elevados em função das disparadas no dia 7 de junho e na última quarta-feira, na sessão desta sexta havia espaço para ajustes. Ainda assim, a curva seguiu precificando o fim do ciclo de cortes da Selic, hoje em 10,50% ao ano, já na próxima semana.
Perto do fechamento a precificação da curva indicava 90% de chances de manutenção da Selic em 10,50% no encontro do Copom. Havia outros 10% de probabilidade precificados em um aumento de 25 pontos-base da Selic na próxima semana.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em baixa no fim de tarde.
Às 16h39, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 3 pontos-base, a 4,207%.