Por Robert Zach
Investing.com – Apesar do temor de uma recessão, refletido na profunda inversão da curva de juros, o mercado acionário dos EUA conseguiu até agora manter grande parte da sua recuperação recente.
Desde as mínimas de outubro, o lucros corporativos.
De acordo com Lisa Shalett, estrategista-chefe de investimentos da unidade de gestão de patrimônio do Morgan Stanley, o mercado ainda está precificando lucros corporativos muito elevados. O otimismo dos investidores de ações, na expectativa de que o Federal Reserve Fed consiga desaquecer a economia e reduzir a inflação sem provocar uma recessão, “está refletido nas estimativas consensuais de lucros corporativos de 2023 para o índice S&P 500 a US$ 230 por ação”, escreveu em uma nota emitada aos clientes na segunda-feira.
O banco se contrapõe a essa visão, defendendo que, mesmo sem uma recessão, os lucros corporativos poderiam cair devido à queda das vendas e ao menor poder de imposição de preços, razão pela qual resolveu reduzir sua estimativa de LPA de 2023 para US$ 195, explicou a especialista.
“Quando levamos em consideração fatores como os dados do índice de gerentes de compra (PMI), a curva de juros e a correlações entre o crescimento do lucro e a velocidade das altas de juros do Fed, chegamos à conclusão de que o crescimento dos resultados em 2023 na comparação anual deve ficar bastante negativo”, escreveu Shalett.
Diante da estimativa consensual atual de US$ 230 por ação, o índice preço/lucro esperado para o S&P 500 (atualmente a 3995 pontos) é de 17,4. Se considerarmos o índice P/L médio em períodos de recessão (14,5) e as estimativas do Morgan Stanley, o resultado faria com que o S&P 500 recuasse até o nível de 2.830 pontos.
O Morgan Stanley ressalta dois cenários em que seria possível evitar um recuo nos lucros corporativos. Porém nenhum dos dois é muito provável, segundo a analista.
O primeiro apontado pela estrategista envolveria medidas de corte de custos, como demissões, o que compensaria a queda nas vendas. Entretanto, trata-se de uma “faca de dois gumes”, segundo Shalett. “A alta do desemprego restringe os gastos com consumo, um impulsionador importante do crescimento econômico, aumentando o risco de um ‘pouso forçado’ na economia de forma geral”, acrescentou.
No segundo cenário, ela destaca a força do mercado de trabalho dos EUA, em que a taxa de desocupação ainda se encontra na mínima recorde de 3,7%, bem como a robustez do consumo no país, o que poderia manter o lucro corporativo elevado em 2023. Mas, por outro lado, isso pode fazer o Fed acentuar as altas de juros e manter as taxas elevadas por um período maior, o que, por sua vez, “geraria mais obstáculos para a economia”.
O Fed elevou ontem sua taxa referencial em mais 50 pontos-base (pb) para a faixa de 4,25% a 4,50%, revisando para cima, ao mesmo tempo, a previsão do pico da taxa para 5,1% em 2023. Isso corresponde a 50 pb a mais do que as projeções de setembro. O presidente da instituição, Jerome Powell, declarou, durante a coletiva de imprensa após a decisão de juros, que não haveria problema em realizar cortes nas taxas no ano que vem. A expectativa do mercado era que a primeira redução ocorresse perto do fim de 2023. “Nosso foco neste momento é adotar uma política monetária que seja restritiva o suficiente para garantir um retorno da inflação para a nossa meta de 2% com o tempo, e não cortar juros”, declarou chefe do Fed de acordo com a Reuters.
A especialista do Morgan Stanley não recomenda usar os índices acionários dos EUA como fonte de renda passiva. O mais recomendado é vender esses ativos no prejuízo antes do fim do ano, a fim de obter benefícios tributários que podem ser abatidos do imposto sobre o lucro de outros ativos financeiros. Além disso, recomenda investimentos de alto rendimento, como títulos governamentais e corporativos, bem como ações pagadoras de dividendos, ações de valor e fundos imobiliários.