Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a quarta-feira em queda, em especial entre os contratos com prazos mais longos, com a curva a termo reagindo positivamente à elevação da nota de crédito do Brasil pela agência Moody’s, na véspera.
Entre os contratos de curto prazo, as taxas passaram a precificar chances um pouco maiores de o Banco Central subir a Selic em apenas 25 pontos-base em novembro, e não em 50 pontos-base. Ainda assim, o aperto monetário maior segue como mais provável, conforme a precificação na curva.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 -- que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo -- estava em 11,006%, ante 11,012% do ajuste anterior.
A taxa para janeiro de 2026 estava em 12,22%, ante o ajuste de 12,258%, e o vencimento para janeiro de 2027 marcava 12,265%, ante 12,318%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,35%, ante 12,403%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,3%, ante 12,36%.
No fim da tarde de terça-feira a Moody's elevou a nota do Brasil de Ba2 para Ba1 e manteve a perspectiva positiva. A mudança da nota deixou o Brasil a um degrau do chamado "grau de investimento", classificação dada a países com baixo risco de calote.
Em nota, a Moody´s destacou que o país tem tido um crescimento mais robusto do que o previsto anteriormente e um histórico crescente de reformas que têm dado resiliência ao seu perfil de crédito, ainda que a credibilidade do arcabouço fiscal seja "moderada".
A melhora no rating do Brasil surpreendeu boa parte do mercado, avaliou Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos.
“Surpreendeu bastante o mercado justamente por conta do momento de deterioração fiscal e de aumento da trajetória da dívida pública no Brasil”, comentou Sueishi nesta quarta-feira.
Em sessões recentes, o desconforto dos investidores com o cenário fiscal vinha elevando os prêmios na parte longa da curva de juros. Com o anúncio da Moody’s, a quarta-feira foi marcada pela queda do dólar à vista ante o real e por certa redução dos prêmios nos DIs, além de alta firme do Ibovespa.
No melhor momento do dia, às 11h11, a taxa do DI para janeiro de 2033 atingiu a mínima de 12,22%, em baixa de 14 pontos-base ante o ajuste da véspera.
“Este aumento do rating pela Moody's ajuda, mas se o governo não endereçar adequadamente as questões fiscais, o risco seguirá elevado, o que impediria o retorno do grau de investimento”, alertou Sueishi.
Outros analistas ponderaram que, a despeito das dificuldades do Brasil, o país não está numa situação limite.
“Se a situação fiscal é desafiadora, há também que se reconhecer a inexistência de risco de insolvência do setor público. Tanto é assim que a demanda por títulos públicos é firme e intensa”, afirmou Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, em comentário enviado a clientes.
O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, seguiu na mesma linha: “Temos um problema fiscal? Temos. Mas todo mundo tem um problema fiscal. Este é o ponto... o fiscal de todo mundo é difícil”.
Na ponta curta da curva também houve certa acomodação nesta quarta-feira, na esteira do anúncio da Moody’s. Perto do fechamento a curva brasileira precificava 71% de probabilidade de o BC subir a Selic em 50 pontos-base em sua próxima decisão, enquanto na véspera o percentual era de 79%. Há agora 29% de precificação na alta de 25 pontos-base, contra apenas 21% na véspera.
A queda das taxas no Brasil ocorria na contramão do exterior, onde os rendimentos dos Treasuries tinham ganhos firmes após dados de emprego da ADP mostrarem que a criação de vagas de trabalho no setor privado dos EUA chegou a 143.000 em setembro. O resultado ficou acima da estimativa de 120.000 dos economistas consultados pela Reuters.
Às 16h36, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 5 pontos-base, a 3,789%.