Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após o forte recuo da sessão anterior, as taxas dos DIs fecharam a segunda-feira em alta no Brasil, em um dia de expectativa no mercado pela agenda do restante da semana, que traz decisões sobre juros no Brasil, nos EUA e no Japão.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo -- estava em 10,73%, ante 10,763% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,725%, ante 11,693% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 12,005%, ante 11,937%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,19%, ante 12,151%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,17%, ante 12,139%.
A expectativa antes das decisões de política monetária dos bancos centrais do Brasil, dos EUA e do Japão -- todas na quarta-feira -- permeou os negócios nesta segunda-feira.
As taxas dos DIs chegaram a ter ganhos mais firmes em diferentes momentos da sessão, mas profissionais ouvidos pela Reuters atribuíram isso a fatores técnicos -- e não necessariamente à agenda do dia.
A taxa do contrato para janeiro de 2027, por exemplo, atingiu um pico de 12,04% às 12h15, em alta de 10 pontos-base ante o ajuste da véspera, para depois encerrar com alta de 7 pontos-base.
“Não temos fatores específicos explicando o movimento de hoje. Há uma preocupação mais difusa sobre o que teremos de decisão dos bancos centrais nesta semana”, comentou Carlos Lopes, economista do banco BV.
Os agentes do mercado seguiram “em compasso de espera” pela quarta-feira, que pode trazer gatilhos para mudanças maiores de posições.
No caso do Federal Reserve, os investidores estarão em busca da confirmação de que o início do ciclo de corte de juros ocorrerá de fato em setembro, como vem precificando o mercado. Na sessão desta segunda-feira os rendimentos dos Treasuries cederam.
Já a expectativa para o encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil é de manutenção da taxa básica Selic em 10,50% ao ano, mas os agentes estarão atentos às pistas para os próximos encontros. Uma das dúvidas é se o colegiado poderá subir juros nos próximos meses -- uma possibilidade que vem ganhando força entre algumas casas.
“Tem crescido esta possibilidade, a precificação de mercado mostra isso”, confirmou Lopes. “E o BC não tem ido contra esta percepção, nem a favor. O cenário é de bastante incerteza, então não acho que a gente vai ter uma comunicação do Copom que feche a porta para a próxima reunião”, acrescentou.
Perto do fechamento desta segunda-feira a curva precificava 85% de chances de manutenção da taxa básica Selic em 10,50% ao ano nesta semana. A probabilidade de alta de 25 pontos-base estava em 15%. Na sexta-feira, os percentuais eram de 80% e 20%, respectivamente. A curva precifica ainda chances majoritárias de pelo menos uma alta da Selic ainda em 2024, em novembro.
Externamente, destaque ainda para a decisão sobre juros do Banco do Japão, também na quarta-feira, que ganhou importância em função da expectativa de que a instituição possa apertar sua política monetária.
Nas últimas semanas a valorização do iene provocou uma liquidação de operações de carry trade, impulsionando o dólar ante moedas de países emergentes -- incluindo o real. Dependendo do resultado do encontro do BC japonês uma nova rodada de ajustes não está descartada, com impactos no câmbio e, consequentemente, na curva de juros brasileira.
“Qualquer sinalização do BOJ de atitude dura (com a inflação), vai confirmar o ‘trade’ que o mercado tem feito. Do contrário, pode ser que reverta forte”, ponderou o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado.
No Brasil, os números divulgados no dia não foram favoráveis, o que também contribuía para o viés positivo para a curva a termo.
O Banco Central informou pela manhã que o setor público consolidado registrou um déficit primário de 40,873 bilhões de reais em junho. Economistas consultados em pesquisa da Reuters esperavam saldo negativo de 37,9 bilhões de reais.
Já o Tesouro informou à tarde que a dívida pública federal subiu 2,25% em junho ante maio, para 7,068 trilhões de reais.
No relatório Focus, divulgado pela manhã, a mediana das expectativas do mercado para a inflação em 2024 passou de 4,05% para 4,10%. No caso de 2025, foi de 3,90% para 3,96%.
Às 16h42, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 3 pontos-base, a 4,171%.