Por Marta Nogueira e Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Vale (SA:VALE3) tem interesse em investir na fabricação no Brasil de Hot Briquetted Iron (HBI), um produto à base de minério de ferro com maior valor agregado, caso haja um barateamento do custo do gás natural, combustível necessário para a produção, disse a empresa nesta sexta-feira à Reuters.
O HBI, que tem como matéria-prima pelotas de minério de ferro, é usado na produção de aço por meio de fornos elétricos, em um processo que gera baixa emissão de CO2.
"Como maior produtor mundial de pelotas de minério de ferro, matéria-prima necessária para a produção de HBI, a Vale tem confiança que será possível atrair investidores para viabilizar esta indústria no Brasil", afirmou a mineradora em nota à Reuters.
"A condição para esta iniciativa é o barateamento do custo do gás, combustível usado no processo de produção do HBI."
A afirmação da Vale veio após o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter afirmado em um evento no Rio de Janeiro que a mineradora iria investir 20 bilhões de dólares, nos próximos dez anos, na construção de gasodutos, como parte de um projeto para a fabricação de HBI.
Guedes citou que o preço do HBI é "dez vezes" maior que o do minério de ferro.
A Vale não fez comentários sobre o investimento apontado por Guedes, mas o aporte não está previsto no planejamento estratégico publicado pela companhia, que atualmente está ainda lidando com questões complexas relacionadas com o rompimento mortal de sua barragem em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro.
A empresa não anuncia aportes em novos projetos de grande porte, desde o início da operação comercial da mina gigante de minério de ferro S11D, no Pará, no início de 2017. Nos atuais planos, a empresa planeja aportes totais de 4,4 bilhões de dólares em 2019 e de 4,5 bilhões de dólares, por ano, entre 2020 e 2023.
A fala de Guedes ocorreu como um exemplo do potencial que a indústria teria com o gás natural mais barato.
O governo federal aposta em um programa ainda em construção chamado de "Novo Mercado de Gás Natural", que tem como objetivo implementar um conjunto de medidas que poderia gerar "um choque de energia barata" para a indústria.
"O choque da energia barata —colocar o gás um ano, um ano e meio pela metade do preço— permite a reindustrialização do Brasil. O Brasil vai se reindustrializar", disse Guedes, ao discursar em um evento no Rio.
Em seu discurso, Guedes voltou a criticar também o chamado monopólio no setor de gás natural, devido à ampla presença da Petrobras (SA:PETR4), que tem buscado se desfazer de ativos e abrir espaço para outras companhias atuarem.