Investing.com – Analistas entendem como positiva a proximidade de um acordo da mineradora Vale (BVMF:VALE3) a respeito do desastre ambiental de Mariana (MG), ocorrido em 2015, mas permeiam as dúvidas sobre a concentração de pagamentos pagos pela empresa e como as reparações podem afetar a capacidade de distribuição de proventos da companhia.
A percepção foi de que a proximidade de um eventual acordo é favorável para a tese, pois vai permitir que a administração se concentre nas estratégias operacionais da Vale, mas analistas ponderam para uma possível diminuição nos dividendos a curto prazo, a depender do calendário para o fluxo de pagamentos.
As ações iniciaram o pregão desta segunda em alta, mas agora operam em queda, ainda que próximo da estabilidade. Às 13h45 (de Brasília), os papéis recuavam 0,05%, a R$60,52. As American Depositary Receipts (ADRs), por sua vez, caíam 0,33%, a US$10,60.
Solução ganha-ganha?
A formalização de um acordo seria uma vitória, na opinião de analistas, mas há incerteza sobre os proventos no curto prazo. Os valores do acordo da Vale, BHP Billiton e a Samarco, que ainda não foi assinado, chegariam a R$ 170 bilhões. Do montante, R$38 bilhões são referentes a valores já investidos em medidas de remediação e compensação; R$100 bilhões pagos pelas próximas duas décadas ao Governo Federal, aos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo e aos municípios, enquanto R$32 bilhões seriam pagos em obrigações de execução da Samarco.
Esta seria uma solução ganha-ganha, disse o Itaú BBA, que possui indicação outperform para os papéis da Vale, com preço-alvo de R$74 para ações ordinárias e US$ 13 para American Depositary Receipts (ADRs).
“Esta é uma vitória para o governo e a sociedade, bem como para a Vale. Se um acordo for realmente alcançado, será um dos maiores assentamentos da história do Brasil”, afirmaram Daniel Sasson, Edgard Pinto de Souza, Marcelo Furlan Palhares e Barbara Soares.
“Todas as partes interessadas ganham”, concorda o BTG (BVMF:BPAC11), que possui neutro na ação, com preço-alvo de US$12, mas aponta para a remoção de uma questão relevante para a tese da companhia.
Ainda que não opine sobre o resultado das negociações, o Goldman Sachs (NYSE:GS) entende que, tendo em vista que as incertezas sobre o tema trazem riscos para a tese, “um acordo definitivo permitirá que os investidores e a empresa se concentrem em outros aspectos que direcionam o botton-line, incluindo a notável melhoria do desempenho operacional, o que por sua vez deverá permitir uma reclassificação”. Os analistas Marcio Farid, Gabriel Simoes e Henrique Marques seguem com compra no papel, com alvo de US$15,50.
Dividendos podem ser afetados
Os analistas ponderam, no entanto, que há incerteza sobre o fluxo do pagamento pelas empresas dos R$ 100 bilhões em dinheiro ao longo dos próximos 20 anos, pois existe a possibilidade de concentração dos gastos nos dois primeiros anos, no entendimento do Itaú BBA. Se este for o caso, a geração do fluxo de caixa pode ser limitada, assim como os dividendos no curto prazo.
“Para a Vale, as provisões adicionais necessárias (a serem feitas nos resultados do 3T24) são fixadas em US$ 956 milhões, valor inferior à nossa estimativa (e consensual) de US$ 2,5 bilhões”, adiciona o banco.
Os analistas do BTG Leonardo Correa e Marcelo Arazi concordam que, para cumprir essas obrigações, o perfil do fluxo de caixa seguirá pressionado nos próximos anos.
“Com os preços do minério de ferro presos na faixa de US$ 90-100/t, a empresa provavelmente não terá espaço para pagamentos de dividendos extraordinários”, lamenta o BTG.