Um ano de Open Finance no Brasil: o que conquistamos?

Publicado 27.04.2022, 11:44
Atualizado 27.04.2022, 15:49
© Reuters.  Um ano de Open Finance no Brasil: o que conquistamos?

Chegamos a um ano de Open Banking (agora Open Finance) no Brasil. E aí?

Olhando de relance para os números, até pode parecer que ainda caminhamos a passos lentos: em fevereiro, quando o processo completou um ano, o Brasil tinha cerca de 5 milhões de consentimentos para o compartilhamento de dados financeiros entre instituições.

Esse número pode não ser expressivo diante do número total de adultos do país: são 159,1 milhões (cerca de 34 milhões não têm conta bancária, de acordo com o Banco Central). Mas colocar este dado em perspectiva em relação, por exemplo, ao Reino Unido, que teve cerca de 3 milhões de consentimentos entre 2018 e 2021, nos ajuda a perceber o potencial de crescimento que ainda temos por aqui.

E tudo indica que estamos no caminho para chegar lá: em março, foram 204,3 milhões de chamadas de APIs no Brasil, um aumento de 111,9% em relação ao mês anterior, de acordo com estudo da Bip, divulgado pelo Valor Econômico.

A estrada para o sucesso está trilhada e, ao apontar gargalos e desafios para chegar lá, precisamos dividí-los em duas categorias: o trabalho técnico e a adoção pelo consumidor.

Do lado da infraestrutura, estamos vendo alguns obstáculos de integração que ainda vão se corrigir, como por exemplo a categorização dos dados que circulam entre as instituições financeiras. Felizmente, temos players de extrema qualidade, além do apoio do Banco Central, para que essas questões se resolvam, e estamos aprendendo juntos.

Em termos de cobertura, ainda não contamos com toda a oferta possível: há players relevantes no mercado que, por contarem com adoção voluntária, ainda não entraram na fase 2 da implementação, e portanto ainda não permitem o compartilhamento, como o Banco Inter (SA:BIDI4) e Nubank (SA:NUBR33). Com certeza veremos um aumento significativo no número de consentimentos depois que instituições como essas aderirem.

Mas nosso desafio principal está no lado do consumidor: ainda há pouca compreensão sobre tudo que o Open Finance pode significar em termos de praticidade e acesso para a população.

É preciso conquistar o consumidor

Sabemos que, quando o valor do compartilhamento de dados pelo usuário final é percebido claramente, a taxa de conversão é alta: é o que acontece, por exemplo, quando uma pessoa tem a opção de substituir o processo de oferecer suas informações de forma manual, com o envio de diversos documentos, por simplesmente conectar com a instituição e fazer rápida e automaticamente a transmissão de dados que precisa.

No momento, estamos vendo bancos tentando convencer os usuários a compartilhar suas informações com a proposta de “ofertas de serviço personalizadas”, mas, em muitos dos casos, esse usuário irá conectar a conta e terminou. Ele não recebe, por exemplo, um e-mail do banco explicando exatamente o que isso significa, qual é a vantagem palpável da ação que acabou de tomar. Essa é uma questão que, se não corrigirmos cedo, pode ficar registrada de maneira negativa na mente das pessoas.

Os benefícios oferecidos a esse cliente podem ser variados, desde uma simples opção de cashback ao fazer a conexão até uma oferta de empréstimo mais barato ligada aos dados, mas o usuário tem que perceber de maneira mais clara o que ganha ao compartilhar suas informações.

O último ponto fundamental na jornada até o coração do brasileiro é comunicar com clareza a questão da segurança da informação. Desenvolver um ambiente extremamente seguro para lidar com dados financeiros é uma prioridade para players que desenvolvem soluções de Open Finance, como é o caso da Belvo, que conta com a certificação ISO 27001, e a preocupação com este aspecto precisa estar clara para que o consumidor final escolha dividir suas informações. Felizmente, contamos também com aliados importantes na conscientização pública, incluindo o esforço do Banco Central e a própria LGPD, que facilitam a confiança na proteção de dados.

Acredito, por fim, que veremos um salto importante no número de consentimentos com o aumento do ecossistema de pagamentos. Nesta fase, o usuário poderá fazer a movimentação de dinheiro sem sair do aplicativo em que está — por exemplo, um gerenciador de finanças pessoais, como o Mobills — e ter que abrir o programa do banco.

Depois deste breve panorama, é evidente que, apesar dos desafios que ainda enfrentamos, o alinhamento de todos esses fatores contribui para que tenhamos um landscape extremamente favorável para o Brasil. E, ainda, temos outra vantagem fundamental, que é já estarmos começando com o Open Finance de maneira completa. Isso não aconteceu nos outros países, que avançaram a passos mais lentos, e essa vantagem deverá resultar em ofertas muito mais poderosas e abrangentes para o consumidor – o que ajudará a tornar o Brasil uma referência na implementação do Open Finance para a América Latina e o mundo.

Até que não estamos tão mal.

Por SpaceMoney

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.