Por Emma Rumney e Alistair Smout
JOHANESBURGO (Reuters) - Com um aperto de mãos, os líderes de Moçambique esperam encerrar um conflito de décadas nesta terça-feira. Mas uma eleição em outubro e novas causas para a violência significam que uma paz duradoura está longe de assegurada.
Depois de lutarem em lados opostos de uma guerra civil que irrompeu após a independência de Portugal e matou mais de 1 milhão de pessoas entre 1977 e 1992, o partido governista Frelimo e o ex-movimento guerrilheiro Renamo assinaram um cessar-fogo que acabou com a maior parte do derramamento de sangue.
Mas episódios de violência ocorreram de forma periódica nos anos posteriores, especialmente perto das eleições.
Analistas dizem que o novo acordo, que inclui o fim permanente das hostilidades, mudanças constitucionais e o desarmamento e a reintegração dos combatentes do Renamo às forças de segurança ou à vida civil, representa a maior esperança já surgida de uma solução longeva para o conflito.
"Todos nós temos que ser otimistas, porque se ninguém acreditar na paz, não haverá paz", disse Felipe Donoso, chefe da missão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Moçambique.
O presidente Filipe Nyusi e o líder do Renamo, Ossufo Momade, que assinarão o acordo, esperam que este lhes renda pontos políticos antes das eleições presidenciais, parlamentares e provinciais de 15 de outubro.
A votação poder ser um tudo ou nada para o acordo, disseram especialistas. Será a primeira vez que o Renamo, agora o principal partido de oposição do país, poderá competir nas províncias, o que satisfaz suas exigências de inclusão política e de controle sobre áreas que domina.
Os governos provinciais oferecem ao Renamo a chance de demonstrar que é um partido político em funcionamento e capaz de governar com eficiência, disse Edward Hobey-Hamsher, analista de pesquisa sênior da consultoria de risco Verisk (NASDAQ:VRSK) Maplecroft, sediada no Reino Unido.
Ele e outros especialistas entrevistados pela Reuters citaram esta como a principal razão da possibilidade de o acordo ter sucesso onde os anteriores fracassaram.
Mas se o Renamo não atingir suas metas eleitorais conquistando governos e se sentir enganado pelo Frelimo, o pacto pode se desfazer rapidamente.
"Aí a coisa toda vai desmoronar", alertou Joseph Hanlon, professor visitante da London School of Economics.