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Por Alexander Dziadosz
RAFAH, Egito (Reuters) - Caixas de ajuda destinadas a Gaza, devolvidas por Israel no domingo, pereciam em cima de um caminhão e de um trailer estacionados a metros da fronteira com o Egito, enquanto motoristas exasperados e funcionários da ONU criticavam os atrasos no envio de alimentos e medicamentos para o enclave.
Sete funcionários do setor de ajuda humanitária e três caminhoneiros entrevistados pela Reuters listaram uma série de obstáculos, que vão desde rejeições de remessas por questões menores como embalagem e papelada até um exame minucioso sobre o possível uso militar de uma série de mercadorias, além das poucas horas de trabalho no posto de fronteira israelense.
Os suprimentos vistos pela Reuters na segunda-feira no caminhão e no trailer parados do lado de fora do posto de fronteira de Rafah, no Egito, traziam logotipos azuis da Organização Mundial da Saúde (OMS) e etiquetas descrevendo conteúdos como medicamentos tópicos e dispositivos de sucção para limpar ferimentos.
Um funcionário da OMS que trabalha na fronteira disse que a carga foi bloqueada por transportar "medicamentos ilegais". A Reuters não conseguiu verificar de forma independente por que os caminhões não receberam permissão para entrar em Gaza e a autoridade militar israelense encarregada de coordenar a ajuda não respondeu por que eles não foram autorizados a entrar no enclave.
A Reuters visitou a fronteira do Egito com Gaza na segunda-feira, em uma viagem organizada pelos Elders, um grupo de ex-líderes mundiais criado pelo falecido presidente sul-africano Nelson Mandela, que apoia uma solução de dois Estados para o conflito israelense-palestino.
Alguns membros do Elders têm criticado bastante a conduta de Israel em Gaza, incluindo a ex-presidente irlandesa Mary Robinson e a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Helen Clark, que participaram da viagem pela fronteira.
Em resposta à indignação internacional provocada pelas imagens de habitantes de Gaza famintos, Israel anunciou em 27 de julho medidas para permitir a entrada de mais ajuda em Gaza. Mas as agências de ajuda dizem que apenas uma fração do que é enviado está entrando. Israel nega veementemente que esteja limitando o fornecimento de ajuda.
Ao conversar com jornalistas na passagem de Rafah, Clark expressou choque com a quantidade de ajuda devolvida na fronteira.
"Ver essa passagem, que deveria ser um lugar onde as pessoas interagem umas com as outras, onde as pessoas podem ir e vir, onde as pessoas não estão sob bloqueio, onde as pessoas que estão doentes podem sair -- ver isso simplesmente silencioso para as pessoas, é absolutamente chocante para nós", disse Clark.
OBSTÁCULOS
As aprovações e os procedimentos de liberação que permitiam a passagem de um carregamento pela fronteira de Rafah "em poucos dias" após a chegada ao Egito durante um cessar-fogo no início da guerra agora levam "no mínimo um mês", relatou o funcionário da OMS na fronteira.
Na segunda-feira, o escritório de mídia do governo de Gaza, administrado pelo Hamas, disse que pelo menos 1.334 caminhões entraram em Gaza por todas as passagens terrestres, inclusive do Egito, desde as medidas israelenses anunciadas em 27 de julho, mas isso ficou muito aquém dos 9.000 que teriam entrado caso tivesse sido permitida a passagem de 600 caminhões por dia, número de veículos de ajuda por dia considerado necessário pelos Estados Unidos para alimentar a população de Gaza.
A Reuters não pôde confirmar de forma independente os motivos dos atrasos descritos neste artigo ou os números específicos fornecidos pelos entrevistados.
Questionada sobre sua resposta às alegações de restrições ao fluxo do auxílio humanitário, a agência militar israelense que coordena a ajuda, COGAT, disse que Israel investe "esforços consideráveis" na distribuição de ajuda. Segundo a agência, cerca de 300 caminhões foram transferidos diariamente nas "últimas semanas", a maioria transportando alimentos, por meio de todas as passagens terrestres.
"Apesar das alegações feitas, o Estado de Israel permite e facilita o fornecimento de assistência humanitária à Faixa de Gaza sem qualquer limite quantitativo no número de caminhões de ajuda que entram na Faixa de Gaza", disse a COGAT. A agência não respondeu a perguntas específicas sobre volumes de remessas de ajuda.
Em meados de julho, Israel introduziu a exigência de que as remessas de ajuda humanitária vindas do Egito passem por liberação alfandegária. De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, a medida de Israel levou a "obstáculos burocráticos adicionais, atrasos e custos para as organizações humanitárias".
Mais de 200 habitantes de Gaza morreram de inanição ou fome durante a guerra, de acordo com as autoridades de saúde palestinas, somando-se aos mais de 61.000 mortos, segundo eles, pela ação militar. O escritório de direitos humanos da ONU e vários estudos de especialistas afirmaram que o número provavelmente está subestimado.
Israel contestou os números do Ministério da Saúde de Gaza, que não fazem distinção entre combatentes e civis, e afirma que pelo menos um terço das mortes são militantes. Na segunda-feira, a COGAT disse que uma análise feita por seus especialistas médicos constatou que o número de mortes relatadas pelo Ministério da Saúde de Gaza devido à desnutrição foi inflado e que a maioria das pessoas que "supostamente estão morrendo de desnutrição" tinha doenças pré-existentes.
MERCADORIAS REJEITADAS
Os motoristas que vêm do Egito não podem ir diretamente para o lado de Gaza da passagem de Rafah, que era operada por autoridade de fronteira administrada pelo Hamas, mas agora está fechada. Em vez disso, eles seguem para a passagem israelense de Kerem Shalom, cerca de três quilômetros ao sul, onde as cargas passam por verificações.
Kamel Atteiya Mohamed, um motorista de caminhão egípcio, calculou que dos 200 ou 300 caminhões que tentam passar por essa rota todos os dias, apenas 30 a 50 conseguem.
"Eles dizem, por exemplo, que o palete não tem um adesivo, que o palete está inclinado ou que o palete está aberto por cima. Isso não é motivo para devolvermos o produto", disse à Reuters.
Ele relatou que, embora a passagem egípcia esteja aberta dia e noite, os motoristas frequentemente chegam a Kerem Shalom e a encontram fechada, já que normalmente não funciona além do horário comercial durante a semana.
"Todos os dias é assim", afirmou. "Sinceramente, estamos fartos."
Embora não tenha abordado questões específicas sobre os comentários do motorista e as alegações de horários de trabalho inflexíveis, a COGAT disse que "centenas de caminhões de ajuda ainda aguardam a coleta pela ONU e por organizações internacionais" no lado palestino das passagens de fronteira.
Um local de logística montado pelo Crescente Vermelho egípcio perto da cidade de El Arish, a 40 km da fronteira, onde ocorrem os carregamentos vindos do Egito para Gaza, tem um depósito de tendas de lona dedicado aos produtos devolvidos da fronteira.
Um repórter da Reuters viu fileiras de tanques de oxigênio brancos, cadeiras de rodas e pneus de carro, além de caixas de papelão rotuladas como contendo geradores e kits de primeiros socorros, com logotipos de grupos de ajuda de países como Luxemburgo e Kuwait, entre outros.
A Reuters não conseguiu verificar quando os itens no local do Crescente Vermelho foram devolvidos ou por quais motivos. Trabalhadores humanitários descrevem essas rejeições como rotina.
Um funcionário do Programa Mundial de Alimentos disse, na reunião com os Elders da qual a Reuters participou, que apenas 73 dos 400 caminhões que a agência enviou desde 27 de julho conseguiram chegar.
A agência de refugiados palestinos da ONU, UNRWA, não tem permissão para enviar ajuda para Gaza desde março. Relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) de 6 de agosto afirma que nenhum material de abrigo foi autorizado a entrar em Gaza desde 2 de março e que os materiais disponíveis no mercado local eram "proibitivamente caros e em quantidade limitada".
O funcionário da OMS que trabalha na fronteira disse que o caminhão e o trailer vistos pela Reuters estavam entre os três caminhões rejeitados no domingo. Um manifesto dado para sua carga, visto pela Reuters, incluía bolsas de drenagem de urina, iodo, emplastros e suturas.
(Reportagem adicional de Nidal al-Mughrabi, Maayan Lubell, Alexander Cornwell e Olivia Le Poidevin)