Por Jeff Mason e Sabine Siebold e Robin Emmott
BRUXELAS (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou a Alemanha nesta quarta-feira de estar "refém" da Rússia devido à sua dependência energética, em uma crítica surpreendente antes de uma cúpula da Otan na qual pressionou aliados a mais do que dobrarem os gastos com suas próprias defesas.
Após repetidas críticas aos países-membros da Otan pelo que afirma ser um investimento em defesa aquém do necessário por não gastarem uma meta de 2 por cento de seus PIBs no setor, o que ele diz fazer com que os contribuintes norte-americanos tenham que pagar para mantê-los a salvo da Rússia, Trump disse nesta quarta-feira aos líderes da aliança que gostaria de uma meta de 4 por cento do PIB --semelhante aos níveis dos EUA--, de acordo com autoridades norte-americanas e estrangeiras.
Isso representaria uma enorme reviravolta nas prioridades orçamentárias na Europa, onde a Alemanha e muitos outros prometeram chegar a 2 por cento de gastos com defesa até 2030. Solicitado a confirmar a proposta de Trump, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, não deu uma resposta direta, mas disse que o primeiro objetivo era chegar a 2 por cento.
Uma autoridade da Casa Branca disse que 4 por cento não é uma proposta formal. Os gastos com defesa dos EUA em 2017 foram de 3,6 por cento do PIB.
Os líderes dos países-membros da Otan reiteraram formalmente seu "compromisso inabalável" de aumentar os gastos e dividir melhor os custos da defesa conjunta.
Antes da reunião com os outros líderes, Trump disse a Stoltenberg que a Alemanha estava errada em apoiar um gasoduto no Mar Báltico de 11 bilhões de dólares para importar ainda mais gás russo, enquanto tem sido lenta para cumprir as metas de gastos com a Otan justamente para proteção contra a Rússia.
"Deveríamos estar nos protegendo contra a Rússia, e a Alemanha vai e paga bilhões e bilhões de dólares por ano para a Rússia", disse Trump na presença de repórteres.
Trump pareceu exagerar substancialmente a dependência alemã na energia russa e por sugerir que Berlim estava financiando um gasoduto que a chanceler alemã, Angela Merkel, diz ser um empreendimento privado.
Merkel respondeu à observação de Trump de que "a Alemanha é totalmente controlada pela Rússia" devido às importações de gás contrastando sua própria experiência de criação na Alemanha Oriental controlada pelos soviéticos com a soberana Alemanha unida que agora desempenha um papel importante na Otan.
Trump e Merkel mais tarde tiveram uma conversa bilateral nos bastidores da cúpula. Trump disse que tem um "relacionamento muito bom" com Merkel, que descreveu sua relação com Trump como de "bons parceiros".
"REFÉM DA RÚSSIA"
Uma fonte próxima ao presidente francês, Emmanuel Macron, disse que Trump expressou seu "apego pessoal" à Europa e deu "mensagens positivas e construtivas" a seus aliados.
Mas com as tensões em alta na aliança ocidental devido às tarifas comerciais de Trump sobre o aço europeu e suas demandas por mais contribuições de defesa para aliviar o fardo sobre os contribuintes dos EUA, suas observações sobre a Alemanha alimentaram preocupações entre aliados para o papel dos EUA em manter a paz que tem reinado desde a Segunda Guerra Mundial.
Stoltenberg, da Otan, disse a repórteres que Trump, que se encontrará com o presidente russo, Vladimir Putin, na semana que vem, usou "linguagem muito direta", mas que os gastos da Otan tem aumentado fortemente.
Depois de brincar que seu café da manhã com Trump na residência do embaixador dos EUA tinha sido pago pelos Estados Unidos, o chefe da Otan foi franco sobre o impacto das críticas de Trump aos aliados ocidentais em um nível mais amplo.
"Há divergências sobre o comércio. Isso é sério. Minha tarefa é tentar minimizar o impacto negativo na Otan", disse.
"Até agora, isso não impactou muito a Otan. Não posso garantir que esse não será o caso no futuro. O laço transatlântico não é apenas um, são muitos laços, alguns deles foram enfraquecidos".
Trump disse que o fechamento de usinas nucleares e de carvão da Alemanha por motivos ambientais aumentou a dependência energética do país, como de grande parte do restante da Europa, do gás russo, e a tornou "refém da Rússia".
"Estamos protegendo a Alemanha, estamos protegendo a França, estamos protegendo todos esses países. E então muitos dos países saem e fazem um acordo de oleoduto com a Rússia, onde estão pagando bilhões de dólares para os cofres da Rússia", disse. "Eu acho isso muito inapropriado."
Ele ainda acrescentou: "A Alemanha é totalmente controlada pela Rússia porque está recebendo entre 60 por cento e 70 por cento de sua energia da Rússia". Na realidade, cerca de 20 por cento do consumo energético alemão vem das importações de petróleo e gás da Rússia.
(Reportagem adicional de Robin Emmott, Alissa de Carbonnel, Humeyra Pamuk e Phil Stewart)