Investing.com – A política francesa foi abalada ontem, com a derrubada do governo liderado pelo primeiro-ministro Michel Barnier, após um voto de desconfiança no Parlamento. O evento foi desencadeado pelo uso polêmico do artigo 49.3 da Constituição, que permitiu ao governo aprovar à força o orçamento da Seguridade Social de 2025, peça central do planejamento financeiro nacional.
Segundo análise do departamento de pesquisa do UBS (NYSE:UBS), publicada nesta quinta-feira, 5, a responsabilidade pela condução da crise agora recai sobre o presidente Emmanuel Macron, que precisa nomear um novo primeiro-ministro. Contudo, as regras constitucionais impedem a convocação de eleições legislativas antes de julho de 2025, o que prolonga o período de incerteza política.
Uma pesquisa citada pelo UBS revelou que 63% dos franceses apoiam a renúncia de Macron. Caso isso ocorra, novas eleições presidenciais teriam de ser organizadas em até 35 dias, conforme o artigo 7 da Constituição. Ainda assim, os analistas consideram improvável que Macron deixe o cargo neste momento.
Garantir a continuidade orçamentária é uma prioridade imediata para evitar interrupções nos pagamentos do Estado. O UBS aponta que opções legais incluem a votação de uma lei especial para arrecadar impostos existentes e o uso de decretos para prolongar os créditos do orçamento de 2024. Essa solução, embora viável, é complexa e não assegura a implementação de medidas previstas no orçamento de Barnier, como aumento de impostos para empresas e grandes fortunas.
A simples extensão do orçamento de 2024 pode ter consequências fiscais negativas, incluindo a suspensão de ajustes automáticos, como a indexação do imposto à inflação, o que resultaria em maior carga tributária para contribuintes.
A instabilidade política já começa a impactar a confiança do mercado. O banco destaca o aumento dos spreads das obrigações soberanas francesas, refletindo uma percepção de maior risco pelos investidores. A incerteza também pode afetar as decisões de negócios e o apetite por investimentos no país.
O relatório conclui que a queda do governo de Barnier representa um ponto de inflexão para a França, expondo os desafios de governar sem uma maioria parlamentar em um cenário econômico difícil. O UBS enfatiza a necessidade de uma transição política organizada e de esforços para restaurar a estabilidade fiscal, a fim de reconquistar a confiança do mercado.
Com a nomeação de um novo primeiro-ministro e negociações orçamentárias no horizonte, as decisões políticas nos próximos meses terão repercussões profundas. Nesse cenário, a instituição recomenda cautela aos investidores enquanto o panorama político e econômico segue em evolução.