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Mais um ano bastante volátil espera os investidores em 2023

Publicado 03.01.2023, 10:12
Atualizado 09.07.2023, 07:31
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  • As ações americanas sofreram sua pior queda desde 2008;
  • O mercado pode subir em 2023, se o Fed reduzir as elevações de juros, e as tensões geopolíticas arrefecerem;
  • Mas não espere que os juros voltem para perto de zero em breve.
  • Vários foram os destaques dos mercados financeiros em 2022, como:

    • Correção de parte das distorções de preço;
    • Poderia ter sido pior, como em 2008;
    • Muitas pessoas que se julgam inteligentes interpretaram mal o mercado.

    O que levanta a questão: O que esperar a partir de agora?

    Se você está esperando uma rápida recuperação, a história não oferece muita esperança, com exceção da retomada de 2020, após o primeiro choque da pandemia de Covid-19.

    Perdas como as ocorridas em 2022, que começaram em janeiro e não cessaram, mesmo com alguns ralis de alívio, geralmente levam meses para serem recuperadas.

    A bolha das empresas "ponto com” no início de 2000 só formou um fundo em outubro de 2002, em parte por conta do trauma gerado pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

    A crise financeira de 2008 realmente começou quando as ações tocaram o topo em outubro de 2007. O S&P 500 registrou seu fechamento mais alto em 1.565,15. Em seguida, afundou 56,8% ao longo de 16 meses, até o fundo de março de 2009. Foram necessários mais quatro anos para que o S&P 500 voltasse para 1.565.

    O dano em 2022 foi o seguinte:

    • O S&P 500 despencou 19,44% no ano, com apenas 141 ações apresentando ganhos.
    • O Dow Jones Industrial recuou 8,78%. Apenas dez ações encerraram o ano em alta.
    • O índice composto da Nasdaq teve uma queda de 33,1%.
    • Já o Nasdaq 100, que rastreia as maiores ações da Nasdaq, recuou 33%, com apenas 24 papéis se valorizando.

    Grande parte dessa queda poderia ser atribuída ao Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). O que também contribuiu para o desempenho ruim do mercado acionário foi, sem dúvida, a eclosão do conflito no leste europeu.

    A guerra exacerbou a inflação mundial, na medida em que os países da Opep e a Rússia se uniram para alçar os preços do petróleo até US$ 130 por barril no primeiro semestre de 2022. Os preços da gasolina nos EUA superaram US$ 5 por galão em junho, antes de recuar para cerca de US$ 3,20 em 31 de dezembro.

    Os preços dos alimentos saltaram em todo o mundo, na medida em que a Rússia e a Ucrânia são dois grandes exportadores de grãos.

    Em novembro de 2021, o Fed anunciou que elevaria os juros ao longo de 2022 e possivelmente por mais tempo. O objetivo era fazer a inflação nos EUA sair da máxima de 9% e convergir novamente para a meta de 2% ao ano. O primeiro aumento de juros ocorreu em março, com o Fed elevando a taxa básica várias vezes durante o ano, da faixa de 0% a 0,25% para 4,25% a 4,5% em sua reunião de dezembro de 2022.

    A expectativa é que o banco central americano eleve os juros para a faixa de 4,75% a 5% em 1 de fevereiro. Alguns dirigentes do Fed veem os juros atingindo 5,1% neste ano, talvez até mais, antes de recuar em 2024.

    Não foi apenas a alta dos juros que deixou os investidores e economistas de cabelos em pé, como Jeremy Siegel, da Wharton School, que alertou, em várias aparições na TV, para agressividade excessiva da campanha do Fed.

    A obstinação do Fed é um problema. Quando o ciclo de alta de juros iniciou, os analistas de Wall Street esperavam que o aperto se desse de forma lenta e breve, com as ações resistindo à pressão. De fato, no fim de março de 2022, estrategistas de várias casas de análise estavam projetando que o S&P 500 superaria a marca de 5000 pontos em 2022.

    Na verdade, os movimentos do Fed não tiveram nada de lentos. Foram rápidos e intensos. E toda vez que alguém em Wall Street vaticinava que os aumentos de juros haviam acabado ou moderado, dirigentes do Fed, sobretudo o presidente Jerome Powell, insistiam, em seus discursos e coletivas de imprensa, que era necessário aumentar as taxas, inclusive no próximo ano.

    2022 foi o ano do setor de energia

    Os investidores parecem preferir um crescimento decente, lucros reais (em vez de meros aumentos de receita) e dividendos.

    E o setor de energia satisfaz todos esses requisitos. No ano passado, dos onze setores do S&P 500, o único destaque foi energia, com uma alta de 59,1%. Das dez ações do índice que mais se valorizaram em 2022, nove eram do segmento de petróleo e gás, com destaque para a Occidental Petroleum (NYSE:OXY), com uma valorização de 117%, além de Hess Corporation (NYSE:HES), que subiu 92%. A Exxon Mobil (NYSE:XOM) saltou 80.3%, e a Chevron (NYSE:CVX) teve o melhor desempenho no Dow, com um avanço de 53%.

    Os lucros reportados foram elevados. E os fluxos de caixa foram ainda melhores. E essas empresas pagam dividendos e/ou recompram suas ações.

    A guerra na Ucrânia e a esperança de reabertura da economia da China melhoraram as perspectivas para o setor.

    As ações dos setores de utilidade pública, saúde e consumo básico sofreram leves perdas, pois os investidores buscavam receitas, lucros e dividendos consistentes.

    Quem se destacou nesse cenário foi a Campbell Soup (NYSE:CPB), fundada em 1869. As ações da empresa subiram 5,6% em dezembro e ficaram na décima posição do S&P 500 no mês. O avanço anual foi de modestos 4,1%. Mas esse resultado foi excelente em comparação com o que ocorreu no setor de tecnologia.

    E o que dizer de Warren Buffett, muitas vezes ridicularizado como “velho”? É verdade que a gestora do lendário investidor de 92 anos, a Berkshire Hathaway (NYSE:BRKb), recuou levemente em dezembro. Mas acumulou uma alta de 15,7% no quarto trimestre, encerrando 2022 com uma valorização de 3,3%.

    O setor de saúde está sendo promovido pelo envelhecimento populacional no mundo desenvolvido. Merck & Company (NYSE:MRK) e Amgen (NASDAQ:AMGN) ocuparam a segunda e quarta posições entre as melhores ações do Dow Industrial, com uma alta de 44,8% e 16,7%, respectivamente.

    A grande carnificina ocorreu em tecnologia e segmentos relacionados, bem como em jovens empresas de biotecnologia e software. Houve uma queda nas ofertas públicas de ações.

    A Tesla (NASDAQ:TSLA) recuou 36% em dezembro e 65% em 2022, seu pior ano como empresa pública, com os investidores preocupados com a redução do crescimento da fabricante de veículos elétricos. Além disso, muitos investidores também se mostraram preocupados com a distração e os problemas do CEO Elon Musk após sua aquisição do Twitter por US$ 44 bilhões.

    A Tesla foi a quinta pior ação do S&P 500 no ano e a oitava pior no índice Nasdaq 100. As duas concorrentes da Tesla no mercado de veículos elétricos, Rivian Automotive (NASDAQ:RIVN) e Lucid Group (NASDAQ:LCID), foram tiveram o pior desempenho entre as ações do Nasdaq 100 no ano, com uma desvalorização de 82,2% e 82,1%, respectivamente.

    A Tesla anunciou, na segunda-feira, que suas entregas no quarto trimestre tiveram uma alta de 18% frente a um ano atrás, mas ficaram levemente abaixo das estimativas de Wall Street. As entregas da Tesla somaram 405.000 veículos, quando o consenso era de 420.000 unidades. Em todo o ano de 2022, a Tesla vendeu 1,3 milhão de modelos, uma alta de 40% em relação a 2021, mas abaixo da meta de crescimento de 50% estabelecida pela própria companhia.

    A Amazon.com (NASDAQ:AMZN) recuou 49,6% após alertar que enfrentaria obstáculos econômicos no mundo e, por isso, decidiu realizar demissões em massa. Sua capitalização de mercado atingiu US$ 1,88 trilhão em julho de 2021, mas, em 31 de dezembro, já havia retrocedido para US$ 856,9 bilhões.

    A Meta Platforms (NASDAQ:META) controladora do Facebook, caiu 64%.

    As ações de semicondutores tampouco foram poupadas. A Nvidia (NASDAQ:NVDA) , que oferece soluções de desempenho para videogames e grandes máquinas usadas na mineração de criptomoedas, teve uma queda de 50,3% no ano e de 13,6% apenas em dezembro.

    A Intel (NASDAQ:INTC) se desvalorizou 12,1% em dezembro, acumulando uma perda de 48,7% em 2022, pior desempenho entre os 30 componentes do Dow.

    As grandes empresas de tecnologia também entraram na espiral de baixa.

    A Apple (NASDAQ:AAPL) caiu 26,8%. A Microsoft (NASDAQ:MSFT) baixou 28,7%. E a Alphabet (NASDAQ:GOOGL), controladora do Google, se desvalorizou 38,7%.

    E não é segredo para ninguém que o mercado de criptomoedas está enfrentando dificuldades, com a quebra de várias empresas de renome no segmento, como a FTX, devido a acusações de fraude. O bitcoin encerrou o ano passado a US$ 16.549, com uma queda de 3,23% em dezembro e um recuo acumulado de 64% em 2022, além de fechar 75% abaixo do pico tocado em novembro de 2021.

    Mais aumentos de juros pela frente

    Os efeitos dos aumentos de juros do Fed estão se disseminando além dos mercados financeiros, atingindo a economia real dos EUA e as criptomoedas. Em outros países, os bancos centrais também estão preocupados com a inflação. O que o Fed deseja ver é um crescimento mais fraco dos salários, a fim de reduzir a pressão sobre os preços domésticos.

    Os economistas acreditam que os dados oficiais começarão a mostrar uma queda nos preços no início deste ano. A questão é saber quando.

    O que provavelmente não ocorrerá é um retorno das taxas para perto de 0%. Aliás, essa flexibilização excessiva é geralmente tida como a responsável por fazer as ações atingirem níveis sobrecomprados antes e depois da pandemia.

    A estabilidade do mercado de trabalho está mantendo forte o crescimento dos salários. A taxa de desocupação nos EUA ficou em 3,7% em novembro. Na sexta-feira, teremos mais dados da agência de estatísticas laborais. A estimativa consensual é de um avanço de 3,7%.

    Os preços e a atividade no mercado imobiliário também tiveram uma queda, sobretudo em mercados mais caros. Os aumentos dos juros encareceram o financiamento, que estava em cerca de 3% em julho de 2021 e alcançou 6,42% na semana passada. Resultado: Houve um aumento de 50% no pagamento de juros e principal no financiamento de 30 anos de uma casa de US$ 275.000, cuja parcela agora é de US$ 1.724 por mês.

    O temor é que a manutenção das taxas em um nível relativamente mais caro provocará uma recessão nos EUA. De fato, muitos analistas e gestores financeiros esperam uma leve recessão neste ano.

    Um alerta: tenha cuidado com o que você deseja. Uma leve recessão pode facilmente acabar se tornando algo pior.

    O que esperar de 2023?

    Por pior que tenha sido o mercado acionário em 2022, a sensação é que o pior ainda não passou, a ponto de ensejar a formação de um fundo.

    Os indicadores de força relativa da maioria dos índices de referência (Dow, S&P 500, Nasdaq, Nasdaq-100 e Russell 2000) ainda não ficaram decisivamente abaixo de 30, nível tido como sobrevendido pelos analistas técnicos.

    O IFR da Tesla está abaixo de 30 desde 16 de dezembro, chegando a alcançar 16 no dia 27 do mesmo mês, um sinal muito forte de sobrevenda. Embora os papéis da empresa tenham saltado 13% nos últimos três pregões, o IFR da Tesla segue abaixo de 30.

    O Fed ainda é o grande direcionador do mercado. Muitos estrategistas de Wall Street consideram que a taxa terminal determinada pelo banco central americano ficará um pouco acima de 5% no primeiro trimestre. Em seguida, a expectativa é que os dirigentes observem os efeitos do aperto.

    Por isso, não alimente a expectativa de grandes cortes de juros neste ano.

    De fato, podem ser necessários 18 meses para que se tenha uma compreensão adequada do cenário completo. O Fed manteve a taxa básica entre 4% e 6% por seis anos entre 1994 e 2000.

    Não sabemos como vai acabar a guerra na Ucrânia. Parece estar havendo uma escalada do conflito no leste europeu, com nenhum dos lados disposto a ceder. O risco é que a guerra acabe se tornando um enfrentamento ainda mais sangrento entre os dois países vizinhos.

    Impasse entre China-Taiwan continua. A China quer controlar a ilha, que tem uma mão de obra altamente capacitada, a fim de expandir sua influência sobre o leste asiático.

    Os resultados das eleições de meio de mandato nos EUA podem gerar um caos no legislativo, ameaçando o avanço de leis importantes. O republicano Kevin McCarthy, da Califórnia, está tentando ganhar votos suficientes para desbancar a atual presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi. Seus aliados partidários estão tentando abrir uma grande investigação do governo Biden e ameaçam tornar seu governo disfuncional.

    Podem ser necessários três meses para que a economia e os mercados se estabilizem. Portanto, os investidores devem planejar muito bem seus pontos de entrada no mercado.

    Aviso: A autora atualmente não possui nenhum dos ativos mencionados neste artigo.

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