Após as disparadas de preços do petróleo na semana passada, quando o barril de WTI fechou um pouco acima de US$123 e o de Brent saltou para quase US$128, vimos uma forte correção do mercado na primeira metade desta semana. Ambas as referências do petróleo caíram mais de 25% até a região intermediária de US$90 por barril.
Ainda assim, trata-se de uma cotação bastante elevada, se comparada com a do fim de 2021, mas reflete a significativa correção desde os picos de três dígitos da semana passada, quando a commodity energética quase registrou novos recordes. No momento da publicação, o Brent mais uma vez tentava superar a marca de US$100, com o petróleo americano seguindo na mesma direção.
Evidentemente, ainda há razões para que os preços permaneçam elevados e talvez subam ainda mais, sobretudo por causa de temores com eventos geopolíticos. Contudo, é importante examinar alguns dos elementos que podem ter provocado o recuo dos preços, a fim de compreender para onde o mercado pode ir a partir de agora.
Quatro questões estão em foco:
1. Euforia especulativa está acabando?
Nem os fundamentos, nem o temor dos distúrbios gerados pela guerra na Ucrânia bastavam para justificar os preços recordes. A Opep assumiu essa posição relaxada desde o início das hostilidades e da escalada de preços.
Mas o mercado petrolífero não se baseia unicamente nos fundamentos. Também leva em consideração o sentimento dos traders, pessoas que estão atrás dos computadores em Nova York, Londres, Hong Kong, Cingapura, Buenos Aires e Mumbai.
A corrida de alta nos preços devido ao medo de transtornos no mercado era razoável em vista do conflito bélico e das reações a ele na imprensa. A incerteza também contribuiu para a disparada. A guerra ainda domina o noticiário, mas a especulação parece ter arrefecido com o tempo, sobretudo porque a incerteza com as sanções ganha contornos mais concretos e intensos.
Alguns levantam a hipótese de que a correção deveu-se ao fato de os traders fecharem seus contratos para o mês.
2. A Europa Continental irá parar de comprar energia da Rússia?
A região não pode nem vai fazer isso. No início do conflito, havia a percepção de que a Europa poderia se isolar do petróleo, gás natural e carvão provenientes da Rússia, mas agora tudo leva a crer que se trata de um passo que os países europeus não estão dispostos a dar.
A Alemanha, por exemplo, não pode nem irá abrir mão da oferta de energia da Rússia. A Europa não irá sacrificar seu próprio bem-estar socioeconômico por um esforço diplomático. Agora que isso está claro, os preços começaram a refletir uma percepção mais arrazoada.
3. Outros países estão dispostos a comprar energia da Rússia?
Saíram notícias nesta semana de que a Índia estava comprando petróleo russo – com desconto – e poderia comprar ainda mais. Isso era inevitável tão logo começassem os rumores de sanções contra a Rússia.
Existem muitos mercados fortes no mundo em busca de petróleo barato. Isso significa que os EUA ou qualquer outro país não conseguem evitar que tais economias comprem o petróleo russo.
A China quer, precisa e não para de comprar petróleo e gás da Rússia através de tubulações diretas. A Índia, com mais de 1,3 bilhão de habitantes, precisa aproveitar as melhores oportunidades para comprar petróleo, inclusive da Rússia.
Devido à pressão política para não comprar petróleo russo, as empresas que o estão oferecendo para venda o fazem com bons descontos. Quando o petróleo da Rússia se esgota, o preço do produto em geral cai.
4. Bloqueios sanitários na China
A China implementou bloqueios em Xangai e Shenzhen, o que contribuiu para a queda do barril de petróleo. De acordo com a CNN, 37 milhões de chineses estão atualmente confinados. Apenas trabalhadores essenciais têm permissão para deixar suas casas nessas regiões. Em Xangai, o tráfego caiu 36%, o que gera grandes preocupações com a queda de demanda de petróleo provocada por esses lockdowns na China.
Outros eventos também podem gerar volatilidade
O mercado ainda está sujeito a muita volatilidade e diversos eventos podem causar fortes oscilações de preço, similares às vistas no início desta semana. Por isso, os investidores devem ficar de olho nos seguintes fatores para avaliar o mercado:
- Recrudescimento nas tratativas de paz na Ucrânia e maior ação militar por parte da Rússia;
- Possibilidade de novas restrições contra a Covid nos EUA e Europa em reação aos lockdowns na China. Algumas autoridades estão alertando para a possibilidade de elevação de casos, com a flexibilidade das restrições a viagens e uso de máscaras em todo o mundo;
- Maior demanda por gasolina e combustível de aviação durante o verão e temporada de viagens nas principais economias;
- Queda na produção petrolífera da Rússia se o país não conseguir vender petróleo suficiente e ficar sem capacidade de estoque. (A produção russa aumentou em fevereiro, de acordo com a Platts, mas continua abaixo da sua cota na Opep+);
- Uma reversão na atual política da Opep+ em relação aos aumentos graduais de produção quando o grupo se reunir em 31 de março;
- Ampliação das sanções contra o setor energético da Rússia por parte dos Estados Unidos e aliados;
- Uma resolução do acordo nuclear com o Irã capaz de encerrar as sanções ao petróleo do país;
- Continuidade da alta da inflação nos EUA e outras regiões do mundo. Quando o dólar se desvaloriza, o preço do petróleo tende a subir, já que sua cotação geralmente se dá na moeda americana. No entanto, a desaceleração econômica no mundo pode reduzir a demanda por petróleo, levando a correções de preço.
Nota do autor: Esta coluna sai geralmente às quintas-feiras, mas será publicada esporadicamente nos próximos dois meses. A publicação retornará à sua programação semanal regular a partir da segunda quinzena de maio.
*Publicado originalmente em inglês em 17/03/2022