Hoje quem escreve a tônica sou eu, Eliseu Mânica Júnior, e o meu amigo Breno Bonani. Começo por uma questão que já comentei uma ou duas edições atrás, sobre o forte movimento de ingresso de capital estrangeiro que começou e permanece nesse mês de novembro.
Continuamos com um forte ingresso e chegamos a US$ 30 bilhões que ingressaram nesse mês de novembro, sendo o melhor mês do ano:
Nota-se uma recuperação grande quanto ao fluxo de entrada de estrangeiros, em que chegamos a cerca de US$ 70 bilhões de saída na B3 (SA:B3SA3) e agora estamos com cerca de US$ 27 bilhões negativos. contra os US$ 57 bilhões que estávamos em outubro.
Mesmo com esse surpreendente ingresso de capital estrangeiro em novembro no Brasil e com o Real subindo quase 8% no mês, uma das moedas que mais se valoriza no globo, podemos ver que o Real contra outras moedas emergentes, como por exemplo, o Peso Mexicano, ainda está muito desvalorizado, um dos fatores que vêm atraindo os investimentos estrangeiros para o Brasil.
O fato é que, com esse fluxo voltando ao Brasil, teremos um tradicional ingresso de capital para as ações de empresas com maior liquidez e, posteriormente, empresas de pequena capitalização, o que já vem acontecendo.
Já a Bovespa está negociando cerca de um desvio-padrão acima da média histórica de negociação. Lembro que temos os menores juros da história e que isso faz que com os múltiplos tenham uma elevação de forma natural, pois o custo de capital é mais barato, além de outros somatórios.
Um fato negativo, e que deve ser observado, é o débito mundial não considerando o setor financeiro, que está cerca de 240%, ou 2,4x, o GDP (PIB) mundial. Esse indicador é muito usado por Warren Buffett, junto com o regime de capitalização da bolsa americana e o PIB americano, cujo múltiplo também está acima da média.
Por estarmos próximos do final do ano, as previsões de crescimento da economia aumentam, e o BNP Paribas acredita que o Brasil é o país que menos sofrerá com a queda do PIB até o final do ano, e que a China e a Ásia irão crescer fortemente.
Já a total recuperação para os emergentes deve acontecer apenas em 2022, para a Àsia no primeiro trimestre de 2021, para a Europa no terceiro trimestre e mercados emergentes em geral entre o terceiro e quarto trimestres.
Na última edição da tônica, comentei sobre os ativos que mais tinham me chamado atenção. Tivemos uma disparada de grande parte desses ativos e seus respectivos preços, como Eternit (SA:ETER3), Petrorio (SA:PRIO3), Vale (SA:VALE3) e outras. Você pode conferir abaixo o que mais me chamou a atenção.
Resultados que chamaram atenção até o momento
Mesmo sendo consultor CVM, sócio-fundador de uma asset, ter tirado a prova da CNPI (não exerço mais a função de analista, mesmo já tendo passado na prova anteriormente), comento que essa não é uma indicação de compra de ativos, mas sim um pequeno resumo do que chamou-me atenção até o momento:
- Setor de proteínas: acredito que, como esperado, entregaram ótimos resultados. Marfrig (SA:MRFG3) fechando exclusividade com o Nusr-Et (aquele Turco, que joga o sal no estilo na carne, que virou meme, mas que tem uma qualidade gigante na carne, que vem sendo vendida em Miami por US$ 180). Além disso, vem reforçando a atuação em carnes vegetais, muito na moda aqui nos Estados Unidos. JBS (SA:JBSS3) foi outra que surpreendeu, ambas vêm diminuindo a alavancagem. No pior dos casos, podem estar em uma carteira visando proteção, pois há correlação com o dólar.
- Minério de ferro: Vale continua a impressionar com os resultados. O custo de produção próximo de US$ 42 e a venda acima dos US$ 115 propicia uma margem de segurança altíssima para a empresa. É geradora de caixa, tem uma provisão que tende a ser revertida em grande parte no próximo ano e está negociada a cerca de 5x lucros, 2,9x Ebitda, muito abaixo dos pares, BHP (ASX:BHP) e Rio Tinto (LON:RIO).
- Seguradoras: gostei de BB Seguridade (SA:BBSE3) e Sulamérica (SA:SULA11). BB Seguridade com contratos até 2033 nas agências bancárias do BB, teve um retorno muito alto da corretora BB e, assim como a Sulamérica, com o aumento dos juros que deve ocorrer no Brasil, tende a aumentar a receita financeira;
- Empresas de energia elétrica: gostei de Taesa (SA:TAEE11), Copel (SA:CPLE6) e Neo Energia (SA:NEOE3). Algumas com TIR entre 11-13%, muito acima da precificação atual. Acredito que o mercado não reconheceu o valor, por serem empresas consideradas “old” e que podem ser classificadas como value, entrando no que comentei acima.
- Bancos: Bradesco, BB... O presidente do Bradesco (SA:BBDC4) comentou sobre termos atingido o piso da possível questão quanto provisão. Bradesco via ADRs (NYSE:BBD); (NYSE:BBDO) negocia ao mesmo preço de 2005, porém com o lucro em reais é 4x maior, isso colocando o momento de pandemia no cálculo (ok, não é o mais correto colocar valor de mercado em dólar e lucro em reais, mas mesmo assim seria o dobro de 2005 de lucro, pela metade do preço). O que chamou atenção de Banco do Brasil (SA:BBAS3) foi a carteira prorrogada de 17,8%, acima de outros bancos, porém essa carteira tem 97,8% da sua posição sem atrasos. Além disso, grande parte dos empréstimos são para o setor do agronegócio, que é um dos setores (senão o mais!) resilientes.
- Empresas menores de vários setores: Eternit, Profarma (SA:PFRM3), Atom (SA:ATOM3), São Carlos (SA:SCAR3), Petrorio (SA:PRIO3) e até Enauta (SA:ENAT3). Eternit diminuiu a dívida em cerca de R$ 120 milhões em 3 trimestres (perto de 20% do valor de mercado), vem se reinventando e surfando o ciclo de construção civil que começou com a queda forte de juros de 2017. Profarma em um setor resiliente, muito abaixo dos pares e descontada. Atom, empresa de difícil previsibilidade, mas que com o ingresso massivo de pessoas físicas na bolsa, vem estando muito descontada. São Carlos negociando com Net Asset Value de R$ 70,00 por ação e valendo no mercado cerca de R$39,00. Petrorio diminuindo o lifting cost e gerando muito caixa, até de maneira surpreendente (sou um especial entusiasta da empresa, adquiri ações em 2016 a R$ 2,20 como preço médio) e Enauta, que vem gerando valor, tem recebíveis + caixa de cerca de R$ 2,6 bilhões para 2021, o que daria perto de R$ 11,00 apenas com esses valores. Colocaria essa última empresa como o azarão entre todas.
Mas sempre lembro: faça sua própria avaliação, é importante sempre estudar e evoluir por conta própria, pois o que comentei acima não é uma indicação de negociação, apenas uma visão de alguns ativos.
Fico por aqui!
Um grande abraço