Incertezas sobre rumo da balança comercial crescem com tarifaço de Trump, avalia FGV no Icomex

Publicado 14.07.2025, 06:17
Atualizado 14.07.2025, 09:40
© Reuters Incertezas sobre rumo da balança comercial crescem com tarifaço de Trump, avalia FGV no Icomex

O tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, ao Brasil adicionou mais incertezas aos rumos da balança comercial brasileira este ano. A avaliação é do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) divulgado nesta segunda-feira, 14, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

"A Secretaria de Comércio Exterior reduziu a sua previsão do superávit de US$ 70,2 bilhões para US$ 50,4 bilhões. Sem o efeito Trump, a nossa previsão seria um pouco mais otimista (algo ao redor de US$ 60 bilhões), supondo desaceleração das importações. No entanto, com a possibilidade da implementação do tarifaço Trump inclusive, as previsões ficam incertas", afirmou o relatório do Icomex.

O texto lembra que o governo foi surpreendido pela adoção de uma tarifa de 50% nas exportações brasileiras para os EUA. O anúncio, feito por Trump em carta, rompe o discurso de que o alvo das tarifas americanas seriam países com superávit contra Washington: o Brasil acumula déficit com os norte-americanos desde 2009, de US$ 1,7 bilhão no primeiro semestre deste ano. O mesmo texto enviado a Brasília cita o processo do ex-presidente Jair Bolsonaro e decisões do Supremo Tribunal Federal sobre plataformas digitais - sinais de que a sanção mira, antes de tudo, questões políticas internas.

O tarifaço atinge uma pauta de exportações diversificada: dez produtos respondem por 57% das vendas externas ao mercado norte-americano, com destaque para siderurgia, aeronaves, sucos concentrados e escavadeiras. Setores agropecuário e industrial, concentrados em São Paulo, já avisaram que "a tarifa de 50% poderá inviabilizar exportações".

"A pauta de exportações para os Estados Unidos é bastante diversificada. Enquanto 10 produtos explicaram 57% das exportações brasileiras para esse mercado, no caso da China três produtos (petróleo, soja e minério de ferro) explicaram 96% das vendas brasileira para esse mercado em 2024", explica o relatório.

A dependência da venda para os EUA, porém, é menor que no passado: de 2001 a 2024, a fatia dos Estados Unidos no total exportado pelo Brasil caiu de 24,4% para 12%, enquanto a China avançou. Analistas lembram que, historicamente, Trump recua depois de endurecer.

"No momento, é esperar que negociações sejam possíveis, que Trump siga o comportamento ’Trump Always Chickens Out’ (TACO), que em tradução livre significa Trump ’amarela ou volta atrás’. Avaliações mais detalhadas devem esperar para o resultado final desse contencioso", diz o relatório do Icomex.

O texto destaca ainda que, como lembrou o prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, as exportações dos Estados Unidos representam cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Além disso, parte das vendas para os Estados Unidos são de empresas multinacionais estadunidenses, que poderão pressionar o governo Trump, da mesma forma que empresas nos Estados Unidos que utilizam os bens intermediários do Brasil na sua produção.

Balança comercial

Enquanto o contencioso se arrasta, a balança comercial doméstica já sente os ventos contrários. Em junho, o superávit ficou em US$ 5,9 bilhões, abaixo dos US$ 6,3 bilhões de 2024; no semestre, o ganho encolheu de US$ 41,6 bilhões para US$ 30,1 bilhões.

A piora no saldo acumulado e a melhora na corrente de comércio são explicadas pelo maior crescimento das importações do que das exportações. Na comparação dos resultados do primeiro semestre de 2024 com os de 2025, o recuo no valor exportado foi de US$ 1,1 bilhão, uma queda de 0,7%. Já as importações aumentaram em US$ 10,4 bilhões, um crescimento de 8,3%.

O relatório informa que a Secretaria de Comércio Exterior cortou a projeção de saldo de US$ 70,2 bilhões para US$ 50,4 bilhões, admitindo incerteza adicional caso a sobretaxa seja mantida. "Sem o efeito Trump, a nossa previsão seria um pouco mais otimista, com algo ao redor de US$ 60 bilhões, supondo desaceleração das importações. No entanto, com a possibilidade da implementação do tarifaço Trump inclusive para o Brasil, as previsões ficam incertas", diz o relatório.

A piora do saldo acumulado e a melhora da corrente de comércio são explicadas pelo maior crescimento das importações do que das exportações.

O recuo das commodities, que representam 67% das exportações, foi compensado apenas parcialmente pelo bom desempenho da indústria de transformação: as vendas do setor cresceram 14,5% em volume e 10,2% em valor em junho, impulsionadas por itens não classificados como commodities - caso dos automóveis, cujo embarque em toneladas saltou 114%. No front geográfico, o superávit com a China despencou de US$ 22,4 bilhões para US$ 12 bilhões, enquanto o déficit com os Estados Unidos avançou para US$ 1,7 bilhão, refletindo tanto o impacto das novas tarifas quanto a dinâmica de preços.

O relatório mostra ainda que a pauta de importações do Brasil não mudou. No primeiro semestre de 2024, a participação porcentual das categorias de uso nas importações totais era: bens de capital (15,5%); bens duráveis (5,2%); bens não duráveis (9,2%); bens semiduráveis (2,7%); e, bens intermediários (67,4%). No primeiro semestre de 2025, os porcentuais são: bens de capital (17,8%); bens duráveis (4,4%); bens não duráveis (9,2%); bens semiduráveis (2,9%); e, bens intermediários (65,7%). Houve um aumento na participação dos bens de capital, mas os bens intermediários continuam, como ocorre na maior parte dos países no comércio mundial, a dominar a pauta de importações do Brasil.

De acordo com o Icomex da FGV, a queda no superávit nos seis primeiros meses do ano foi liderada pela redução no saldo comercial com a China, que passou de US$ 22,4 bilhões para US$ 12,0 bilhões entre 2024 e 2025 e o aumento do déficit com os Estados Unidos de US$ 300 milhões para US$ 1,7 bilhões. A Argentina contribui de forma positiva, passando de um déficit para um superávit de US$ 3,0 bilhões e com a União Europeia o déficit aumentou da ordem de cem milhões para seiscentos milhões de dólares.

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