Investing.com - A longa espera pela reunião do comitê de políticas monetárias do Federal Reserve (FOMC) terminou nesta semana com um final já esperado: as taxas de juros foram mantidas e a próxima elevação está desenhada para ocorrer no encontro de dezembro. O banco ainda reviu para baixo a sua expectativa de novas altas para os próximos anos.
A posição dovish do Fed voltou a ser criticada por parte do mercado que acredita que já há sinais claros de geração de emprego nos EUA e, por isso, os juros devem subir, linha defendida por três dos dez diretores que votaram pela elevação já nesta reunião. Na entrevista de quarta-feira após o encontro, a presidente Janet Yellen reforçou que vê sinais mais claros para apoiar o aumento das taxas, mas que a maioria dos diretores ainda acha que o momento não chegou.
Yellen teve ainda que rebater acusações de que o banco estaria trabalhando com viés político de manter as taxas baixas para auxiliar a eleição da democrata Hillary Clinton frente ao republicado Donald Trump, que se aproxima nas pesquisas. Segundo ela, nunca houve nenhuma discussão de ordem política em qualquer reunião do banco que tenha participado.
O mercado, contudo, descarta qualquer novidade na próxima reunião, em novembro, no meio do tenso processo eleitoral norte-americano. Segundo o Fed Rate Monitor Tool do Investing.com, 90% dos analistas não acreditam em aumento nesse encontro, enquanto as apostas para dezembro estão em 57% em taxas mais altas.
A última vez que o Fed elevou os juros foi em dezembro do ano passado, após sete anos de juros zero, adotado em 2009 como medida para sair da crise, que eclodiu no fim de 2008. No início deste ano, a expectativa era de que o banco promovesse quatro novos aumentos em 2016 para evitar a formação de bolhas em uma economia tida como aquecida.
De lá para cá, o banco comandado por Janet Yellen tem seguidamente tomado posições mais conservadoras e adiado a alta de juros em meio a uma redução no crescimento chinês, preocupações com a Europa e o Brexit, além de manter dúvidas em relação à economia dos EUA.
A semana também marcou a surpresa com a decisão do Banco do Japão (BoJ) em alterar sua política para estimular a inflação. O banco anunciou meta de taxa zero nos títulos públicos de 10 anos com o objetivo de elevar a inflação acima dos 2%, em uma tentativa de retirar o país da estagflação que atravessa há anos.
A expectativa por menor juros nos EUA e o incentivo no Japão levou as bolsas internacionais a novas altas ao longo da semana, interrompidas pela realização com a queda do petróleo na sexta-feira. Na semana, Dow 30 avançou 0,7%, enquanto o S&P 500 subiu 1,3% e o Nasdaq valorizou 1,1%.
Brasil
No cenário interno, a política, Petrobras (SA:PETR4) e as declarações de Ilan Goldfajn movimentaram o humor dos mercados nesta semana, amplificando a volatilidade vinda do exterior.
A aprovação da PEC que limitará o crescimento dos gastos públicos aparenta ter ganhado força com o apoio de mais partidos e declarações públicas de políticos. A expectativa do presidente da Câmara dos Deputado, Rodrigo Maia, é encaminhar a votação em 17 de outubro, entre o primeiro e o segundo turnos das eleições municipais.
A grande dúvida do projeto reside na limitação que terão os estados, que atualmente enfrentam grandes dificuldades em fechar seu caixa. Há o receio de que os parlamentares poderão abrir mais brechas para gastos dos estados, apesar da negação pública do governo federal.
Na semana passada, os governadores se reuniram com o ministro da Fazenda Henrique Meirelles para negociar mais recursos para os estados em uma estratégia que não foi bem-sucedida. Os governadores decidiram publicar uma carta pública na qual pressionam - ou chantageiam - a União com a paralisação de serviços à população.
Já a reforma da Previdência e a trabalhista foram adiadas e só deverão ser tratadas em 2017. Em relação à primeira, o Globo informou que o projeto do governo deverá abranger inclusive parlamentares e militares.
A semana também trouxe um novo capítulo da Lava Jato, que alcançou o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega. A prisão do político foi autorizada após depoimento espontâneo de Eike Batista que informou ter sido orientado por Mantega a doar R$ 5 milhões para o PT através do depósito em conta do publicitário João Santana e de sua esposa Mônica Moura.
Bovespa. A bolsa brasileira acompanhou o exterior e fechou em alta de 2,8% na semana com ganhos em quatro dos cinco pregões. Pela segunda semana seguida o mercado não testa o patamar de 60 mil pontos, alcançado no início do mês.
Dólar. A moeda desvalorizou 0,6% e encerrou a semana valendo R$ 3,24 com a perspectiva de menos juros nos EUA e a renovação das esperanças em redução da Selic. O mercado avaliou que o presidente do BC Ilan Goldfajn indicou que as taxas poderão cair, após falar que o Copom decidirá com fatos concretos no mesmo dia em que foi divulgado a queda no IPCA-15.
Petrobras. A semana foi movimentada para a empresa que divulgou seu plano de negócios com corte de 25% dos investimentos previstos para 2017-2021. A companhia também descartou ter decidido reduzir os preços da gasolina e informou que pretende deixar os setores de distribuição de GLP, fertilizantes, petroquímico e biocombustíveis. A estratégia faz parte do plano de desinvestimentos para antecipar a desalavancagem da empresa para 2018. Na sexta-feira, a petroleira anunciou ter aprovado a venda de 90% de parte de sua rede de gasodutos para consórcio liderado pela canadense Brookfield. A ação ganhou 4% na semana, prejudicada pela forte queda na sexta-feira, acompanhando o petróleo.
Vale (SA:VALE5). A mineradora negou ter aprovado a venda de sua área de fertilizantes para a Mosaic, em operação de US$ 3 bilhões. Nesta semana, a empresa conseguiu zerar as perdas do início do mês emplacando uma alta de quase 10%.
Itaú (SA:ITUB4). O banco confirmou negociar a aquisição da área de varejo do Citibank no Brasil ao comentar notícia de que teria exclusividade para a operação.
CPFL (SA:CPFE3). O Cade aprovou a venda da participação da Camargo Corrêa na CPFL para a State Grid por R$ 6 bilhões. A chinesa ainda confirmou que poderá adquirir a participação de demais sócios, em operação que poderá se elevar a R$ 25 bilhões.
Commodities
Petróleo. As especulações em relação à reunião informal da Opep na próxima semana continuam a trazer volatilidade ao mercado. A Arábia Saudita propôs reduzir sua produção se o Irã congelar sua extração. O plano saudita impõe uma realidade refutada anteriormente pelo país persa. Enquanto o reino continuaria em seus níveis máximos, após meses elevando a produção, o seu rival ficaria limitado abaixo de sua extração histórica. A estratégia derrubou a commodity na sexta-feira. Na semana, o petróleo acumulou alta de 3,5% com a queda dos estoques dos EUA e posições otimistas em relação ao acordo.
Combustíveis. As vendas no Brasil caíram quase 2% em agosto, segundo a ANP.
Aço. A produção de aço bruto caiu 1,1% no país em agosto.
Soja. A venda antecipada atinge 20%, atraso em relação a 2015, em meio ao início do plantio.
Café. A expectativa em relação à safra de robusta de 2017 fica cada vez pior com o clima adverso. Mercado projeta colheita de 54,9 milhões de sacas de café no Brasil.
Energia. Leilão promovido pelo governo contratou energia de 30 pequenas usinas hidrelétricas, com investimento estimado em R$ 1 bilhão
Indicadores
Desemprego. O Caged do Ministério do Trabalho indicou redução de 33.953 vagas formais de emprego em agosto, ritmo menor de corte de postos na comparação com mês anterior.
Inflação. O IPCA-15 desacelerou a 0,23%, trazendo alívio à inflação que vinha pressionada nos últimos meses. IGP-M avançou para 0,27%, enquanto o IPC-S caiu para 0,18% e o IPC-Fipe ficou em 0,01%
IBC-Br. A atividade econômica decepcionou e veio negativa em 0,09% em julho, contrariando expectativas de avanço.
PIB. Argentina registra terceira retração trimestral consecutiva.