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Rodrigo Almeida: Equilíbrio fiscal e aumento da produtividade são desafios de 2023

Publicado 22.12.2022, 16:52
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Por Jessica Bahia Melo

Investing.com – Em meio ao processo de mudança de governo após as eleições de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o time do Investing.com realiza uma série de entrevistas com economistas sobre as perspectivas para a economia brasileira a partir do ano que vem. O economista Rodrigo Octavio Marques de Almeida, gestor de portfólio na Nest Asset Management, é o terceiro especialista entrevistado. Ele avalia como desafios econômicos do governo eleito o aumento de gastos sem geração de desequilíbrios fiscais, além da elevação da produtividade e alocação do emprego com eficiência diante das novas tecnologias – sejam elas da indústria 4.0 ou energia verde.

Em entrevista exclusiva, Almeida afirma que está otimista para o mercado de ações para o ano que vem, principalmente em ativos relacionadas a bancos e consumo.

Confira abaixo a entrevista com o gestor:

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Investing.com – O que esperar do mercado de ações brasileiro em 2023 com a troca de governo?

Rodrigo Almeida – Antes da eleição, a ideia era de que o Banco Central provavelmente ficaria estável do ponto de vista de taxa de juros, durante pelo menos mais uns oito meses. Ainda, havia a percepção de que um Congresso razoavelmente conservador eventualmente ajudaria a coibir excessos de gastos do então governo Lula, na visão do mercado.

Agora, a restrição a um excesso de gastos é um grande tema que já vem sendo debatido nos últimos dois anos e que vai continuar sendo tratado durante os próximos quatro. Eu não tinha tanto medo de gasto público, pois, na minha visão, ele pode até gerar um pouco de problema na curva de juros, mas, para o mercado de ações seria razoavelmente bom, principalmente para as ações ligadas ao mercado doméstico.

A parte de commodities fica mais dependente da trajetória de crescimento chinês e da taxa de crescimento da economia americana, que, na média, estava razoavelmente boa. O pior cenário de recessão nem aconteceu, hoje há provavelmente um pouso suave. O mercado de ações nos Estados Unidos caiu esperando uma recessão que ainda não chegou. A China era um problema, então todo o contexto indicaria um gasto público visando evitar uma recessão no primeiro semestre, o que ajudaria uma série de setores.

Por exemplo, o setor de bancos. Um pouco mais de injeções de gasto público pode auxiliar a suavizar um pouco da inadimplência que já está começando a bater. Ainda lembramos que o governo Bolsonaro tinha características que, do ponto de vista fiscal, traziam aumento de gastos de forma transitória, mas que ocorriam toda vez. Era o transitório que era permanente. E o futuro governo veio com uma ideia de um permanente transitório. Vou aumentar gastos, mas vamos ter que rever isso a cada ano.

Minha visão no começo era de um grande otimismo para o mercado de ações. O mercado reviu as expectativas, acabei errando essa visão desse último trimestre, mas eu continuo razoavelmente otimista para a volta do mercado de renda variável.

Avalio que até por conta da manutenção de determinado patamar de gasto público, com pedaço de recomposição de renda, o resultado das empresas pode vir um pouco melhor, principalmente as voltadas para os mercados internos. O outro lado da moeda é que os juros controlados pelo Banco Central devem demorar um pouco mais para cair. Mas, pode haver um fluxo mais forte para investimento público, que acaba ajudando o setor privado, o que poderia impulsionar o mercado de ações.

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Inv.com – Quais setores são interessantes para investir ano que vem?

Almeida – Estou otimista para bancos e para consumo, mas com visão mais tática para commodities. Elas podem demorar um pouco mais, a depender da abertura da China e dos ajustes da política monetária americana.

Na minha visão, com China voltando do lockdown em um processo mais progressivo, com commodities tendo alcançado um piso, indo para cima, a situação no mercado de ações vai se refletir através das ações de commodities, mas a situação como um todo fica melhor para o Brasil, que é um exportador de commodities, ainda que o setor doméstico tenha uma certa defasagem.

Inv.com – O mercado de capitais se tornou mais robusto nos últimos anos. Em um novo governo, quais ações podem afugentar o investidor e afetar essa tendência?

Almeida – Eu acho que o investidor hoje está preocupado com a trajetória de gastos públicos, mas se o governo tiver uma boa capacidade de comunicação, ele é capaz de transmitir que o aumento de gasto público pode ir para determinadas áreas que foram abandonadas ao longo dos últimos anos, o que acaba refletindo de forma positiva no mercado.

Eu acho que é o que afugenta o gestor em primeiro momento é dizer que vai mudar as regras, que vai ser bom. O mercado se pergunta como vai ser isso, objetivamente. O que afugenta o investidor é a percepção de aumento em intervenções microeconômicas. Como realizar investimentos se pode ter perdas caso o governo avalie que está na hora de mexer naquele setor? É um pouco do que aconteceu em governos passados do PT. Isso pode deixar o investidor em compasso de espera.

Nos últimos anos, havia um conjunto de medidas macroeconômicas voltadas ao gasto público e o resto acontecia via mecanismo de preços, o mercado se ajusta. O governo eleito já vem apresentando um problema, que é de comunicação. O mercado quer começo, meio e fim. Não adianta dizer que vai aumentar gasto público e depois olhar qual a fonte de receita. Isso gera novas alocações que precisam ser reprecificadas. O mercado precisa de alguém que fale a linguagem dele.

Antes, o presidente do Banco Central (BC) era, de certa forma, o interlocutor do governo junto ao mercado. Como agora o BC é independente, tem o mandato, não vai ficar explicando o que o governo tentou fazer, até mesmo porque talvez ele nem saiba. Falta agora alguém com capacidade de dialogar com o mercado para explicar o que vai fazer. Não tem essa figura ainda e isso gera uma série de incertezas.

Inv.com – No último governo foi feita uma tentativa de tributação dos dividendos. O senhor avalia que o próximo governo deve seguir em frente, com base nas falas dos seus dirigentes? Como isso poderia afetar o mercado de capitais?

Almeida – Como afetou da última vez. Toda vez que sai essa notícia, o mercado vai lá, dá uma balançada em alguns setores específicos. Muda bastante a alocação. Vai ser um longo e penoso processo de debates. Há uma tendência maior a ter imposto sobre dividendos, mas acho que um pedaço já está até meio precificado. Vai ter um momento de estresse, mas dependendo da política pública feita pelo governo, esse resultado negativo inicial pode ser amortecido. Se, em compensação, as empresas vão lucrar mais, em uma economia que está crescendo, passa a ser uma questão distributiva, e não uma questão somente arrecadatória.

Assim, o tamanho do impacto negativo de uma eventual tributação de dividendos vai depender muito mais da situação econômica que estiver na hora. Se o câmbio, a taxa de juros tiver mais ou menos em equilíbrio, se a inflação estiver caindo e commodities estiverem subindo, a gestão das más notícias fica mais fácil.

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Inv.com – Quais os principais desafios econômicos do governo eleito?

Almeida – O governo precisa definir como aumentar determinados gastos de forma a não gerar desequilíbrio para não precisar manter uma taxa de juros alta durante muito tempo. O segundo desafio é como diminuir a dependência do Brasil da exportação de commodities ao longo do tempo. O governo transmite essa ideia, de que precisa reindustrializar o país, que tem uma produtividade muito baixa, que caiu ainda mais depois da pandemia. As pessoas ficaram longe dos estudos. Então esse é o outro desafio.

Não basta somente aumentar gasto público para o emprego, pois há uma desalocação com indústrias que querem contratar e pessoas que querem emprego, mas não encontram. Novas competências necessárias não são encontradas. O novo ciclo de inovação tecnológica é, em parte, poupador de mão-de-obra. Inteligência artificial, mecanização, automatização, o Brasil está querendo se inserir nisso, além de tecnologias verdes, geração de energia renovável, entre outros temas. Nesse sentido, parece um pouco a história do pré-sal, o Brasil ia ser a nova Arábia Saudita, mas não virou. O petróleo caiu de moda. Agora a gente tem uma nova uma nova tecnologia, mas como realizar essa passagem, quanto será gasto e como isso vai afetar os termos de eficiência econômica, são pontos de atenção.

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