Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar rondava a estabilidade frente ao real nesta quarta-feira, com investidores divididos entre acompanhar a aversão ao risco no exterior em meio a novas preocupações com a desaceleração da economia dos Estados Unidos, e aproveitar fatores locais positivos à moeda brasileira.
Às 10h43, o dólar à vista subia 0,04%, a 5,6464 reais na venda. Na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha queda de 0,08%, a 5,658 reais na venda.
Na terça-feira, o dólar à vista fechou em alta de 0,48%, cotado a 5,6439 reais.
Nesta manhã, os mercados globais operavam sob novos temores em relação a maior economia do mundo, após um indicador sobre o setor industrial dos EUA registrar resultado abaixo do esperado na terça-feira e reforçar o diagnóstico de uma tendência contracionista nesta área da economia norte-americana.
Os números provocaram uma onda de aversão ao risco na véspera, derrubando os principais índices de Wall Street e gerando uma busca por ativos mais seguros, o que no mercado de câmbio representa uma fuga de divisas emergentes.
O real, e seus pares emergentes, ainda eram pressionados pelos preços de commodities, como o minério de ferro e o petróleo, uma vez que também pioram as perspectivas para a economia da China, maior importador de matérias-primas do planeta.
"Para a sessão de hoje, não é esperado menos do que aconteceu ontem, justamente pela aversão global a riscos, elevada ainda por grande tombo do setor de tecnologia nos EUA", disse Marcio Riauba, gerente da mesa de operações da StoneX Banco de Câmbio.
Com isso, a moeda norte-americana avançava sobre seus pares emergentes, com altas frente ao peso mexicano, o peso chileno e o peso colombiano.
No cenário nacional, por outro lado, o mercado ainda digeria dados acima do esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, divulgados pelo IBGE na terça-feira, que evidenciaram o aquecimento da atividade econômica e ampliaram as perspectiva de alta na taxa Selic neste mês.
Segundo analistas, o crescimento do PIB no segundo trimestre de 1,4% em relação ao trimestre anterior fornece espaço para que o Banco Central seja mais restritivo em seu enfrentamento da inflação, que tem se distanciado do centro da meta de 3% em leituras recentes.
"O PIB veio mais forte do que o esperado e deixou mais forte a precificação de uma possível alta de juros", disse Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
"A atividade econômica pode fazer a inflação disparar um pouco mais do que se espera. A forma que o Banco Central tem de conter esse determinado momento é realizando um ciclo de alta", completou.
Operadores precificavam 76% de chance de um aumento de 25 pontos-base na Selic, agora em 10,50% ao ano, durante a reunião do Copom deste mês.
As projeções de alta na Selic, somada à expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve, aumentando o diferencial de juros entre Brasil e EUA, é, em tese, positivo para o real, pois torna a moeda brasileira mais atraente para investimentos.
No cenário desta quarta-feira, no entanto, esse fator permitia apenas a compensação das perdas que o real poderia estar acumulando com a aversão ao risco no exterior.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,08%, a 101,620.