Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar tinha forte queda frente ao real nos primeiros negócios desta segunda-feira, apesar da força da moeda norte-americana no exterior, com investidores reagindo positivamente a falas recentes mais conciliadoras do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva sobre a futura postura fiscal do Brasil.
Às 10:46 (de Brasília), o dólar à vista recuava 1,17%, a 5,3123 reais na venda.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 10:46 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,22%, a 5,3235 reais.
Lula disse no sábado que a responsabilidade fiscal é importante, afirmando que "não podemos gastar mais do que a gente ganha", embora tenha reforçado seu compromisso com o investimento na economia e no bem-estar social do país.
Na sexta-feira, Lula já havia dito ter ficado feliz com a carta aberta de economistas que alertaram para o risco de se subestimar reações adversas dos mercados financeiros a medidas que vão contra a responsabilidade fiscal, e garantiu ter compromisso com o controle das contas públicas.
"Além de um tom mais conciliador utilizado pelo presidente eleito, ... dizendo que gosta de seguir os que são bons e que irá governar com responsabilidade fiscal, a expectativa de que o texto da PEC de Transição seja amplamente desidratado no Congresso através da sua substituição por uma PEC alternativa também traz algum alívio", disse a Guide Investimentos em nota a clientes.
Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, atribuiu a queda do dólar nesta manhã a esperanças de que o rompimento do teto embutido na PEC da Transição seja reduzido para 70 bilhões de reais, bem como a expectativas de que seja apresentada no texto uma proposta de âncora fiscal que substitua o teto de gastos --ferramenta que Lula quer eliminar.
Na sexta-feira, o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), disse que a equipe de transição pode incluir na PEC o compromisso de propor uma nova âncora fiscal para o país a ser determinada via projeto de lei complementar.
As perdas da divisa norte-americana nesta manhã vinham na contramão do exterior, onde o índice que compara o dólar a uma cesta de seis pares fortes disparava 0,85%. Ao mesmo tempo, vários pares arriscados do real operavam em forte queda nesta segunda-feira, com peso mexicano, dólar australiano, rand sul-africano e peso chileno perdendo de 0,3% a 1,3%.
O Banco Inter (BVMF:BIDI4) citou em nota "cautela de investidores à medida que os casos de Covid-19 aumentam e novos lockdowns vão sendo impostos na China", bem como desconforto dos mercados com sinalizações mais duras contra a inflação de autoridades do banco central dos Estados Unidos.
A China está lutando contra vários surtos de coronavírus. Duas mortes foram relatadas em Pequim no domingo, e o distrito mais populoso da cidade pediu aos moradores que ficassem em casa nesta segunda-feira. Já nos EUA, o foco estará sobre a ata da última reunião de política monetária do Fed, que será publicada na quarta-feira.
Veronese, da B.Side, disse que o mercado de câmbio doméstico deve "reagir muito mais ao noticiário político local" do que ao ambiente externo ao longo desta semana, principalmente em meio a expectativas de que comecem a ser anunciados em breve os nomes da equipe ministerial de Lula.
A moeda norte-americana spot fechou a última sessão, na sexta-feira, em queda de 0,58%, a 5,3750 reais na venda.