Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar se fortalecia frente ao real nesta terça-feira, recuperando-se de perdas registradas no início da sessão, à medida que uma maior aversão ao risco no exterior após novos dados econômicos dos Estados Unidos se sobrepunha a fatores locais mais positivos para o real.
Às 11h55, o dólar à vista subia 0,45%, a 5,6425 reais na venda. Na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,41%, a 5,655 reais na venda.
Nesta manhã, investidores globais buscavam por ativos de segurança, como a moeda norte-americana e os Treasuries, após dados mostrarem que um indicador sobre a atividade industrial dos EUA manteve sua tendência contracionista em agosto, mesmo tendo avançado em relação ao menor patamar em oito meses registrado em julho.
Mais cedo na sessão, o real caminhou na contramão de seus pares, à medida que a perspectiva de uma Selic mais alta neste ano, influenciada por dados acima do esperado para o PIB brasileiro no segundo trimestre, mais do que compensava a cautela vista no exterior.
O Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) informou nesta terça-feira que seu Índice de Gerentes de Compras (PMI) industrial para os EUA subiu para 47,2 em agosto, de 46,8 em julho, que foi a leitura mais baixa desde novembro. Economistas consultados pela Reuters projetavam uma leitura de 47,5.
Uma leitura do PMI abaixo de 50 indica contração no setor industrial, que responde por 10,3% da economia norte-americana. O PMI permaneceu abaixo do patamar de 50 pelo quinto mês consecutivo.
Com isso, agentes financeiros retomavam alguns de seus temores sobre o estado da economia norte-americana, optando por ativos de menor risco ao se posicionar para a divulgação de dados do mercado de trabalho ao longo da semana.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- tinha variação positiva de 0,04%, a 101,700.
O rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 8 pontos-base, a 3,833%.
Operadores ampliavam suas apostas de que o Federal Reserve, preocupado com o enfraquecimento do emprego nos EUA, fará um corte de 50 pontos-base em sua reunião deste mês, indicando 39% de chances de tal movimento, de 33% antes da divulgação do PMI.
Dessa forma, o dólar ganhava sobre moedas emergentes, subindo frente ao rand sul-africano, o peso chileno e o peso colombiano.
No caso dos países emergentes, uma queda nos preços de commodities importantes também influenciava na falta da atratividade das moedas frente ao dólar, assim como a retomada da força do iene, após o Banco do Japão reforçar sua perspectiva de elevar os juros no país.
Os contratos futuros de minério de ferro na Bolsa de Dalian registraram nesta terça sua maior queda diária em quase dois anos, com dados econômicos desanimadores da China obscurecendo as perspectivas de demanda, motivo que também derrubava os preços globais do petróleo.
O dólar tinha queda de 1% em relação ao iene, a 145,43.
"Acho que o front externo passou a se sobrepor em relação ao local", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital. "Então está bagunçado mesmo hoje. (Dólar) abriu forte lá fora, local ajudou a descolar, depois realinhou com exterior."
Dados do IBGE mostraram que o PIB do Brasil cresceu 1,4% no segundo trimestre do ano em relação ao trimestre anterior, acima das projeções de economistas consultados pela Reuters de avanço 0,9%. Na base anual, o crescimento foi de 3,3%.
O resultado evidencia uma economia forte no trimestre de abril a junho, o que permite, segundo analistas, que o Banco Central possa ter uma postura mais agressiva contra a inflação, à medida que a alta dos preços tem se afastado do centro da meta de 3% em leituras recentes.
"A falta de catalisadores em outras partes do mundo está permitindo que o mercado foque na tese local, que recebeu algum suporte do PIB brasileiro. Este foi o penúltimo dado de primeira linha antes da próxima reunião do Copom, o que apenas solidifica o argumento de um novo aumento de juros", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
O dólar atingiu a mínima da sessão às 9h44 (-0,66%), caindo abaixo de 5,60 reais, em meio à perspectiva de força do real com o possível aumento do diferencial de juros entre Brasil e EUA.
Desde a divulgação do PMI industrial dos EUA às 11h, no entanto, o dólar passou a subir, registrando a máxima da sessão menos de uma hora depois (+0,67).