Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O conglomerado de energia e logística Cosan (SA:CSAN3) está priorizando recompras de ações da companhia e de subsidiárias como a Rumo (SA:RAIL3) e a Raízen, diante de uma conjuntura econômica de maior custo de capital no país que torna mais caros os investimentos, disse o vice-presidente de Estratégia da empresa, Marcelo Martins.
Em um cenário de aumento da taxa de juros e de inflação mais alta no Brasil, a Cosan vai ser mais rigorosa na alocação de capital para investimentos para crescimento do grupo, mas isso deve ser considerado um movimento "pontual" e "imediato".
Ou seja, não significa que Cosan vai deixar de investir em crescimento no futuro, tão logo as condições econômicas fiquem favoráveis, afirmou o executivo em teleconferência com analistas, destacando que a empresa é ágil nas mudanças de estratégia.
"Como nós somos uma holding, um gestor de portfólio, as nossas decisões são feitas e implementadas com muita velocidade, neste momento o que faz sentido é deslocar capital desses projetos para a holding fazer recompras de ações", destacou Martins.
"Neste momento, o que vamos fazer é usar o capital para recomprar ações, (mas) somos uma empresa que foca em crescimento, não queremos deixar de crescer, não queremos que o mercado interprete este movimento como foco mais no portfólio atual, menos em crescimento, isso não é verdade", declarou.
Um exemplo da maior cautela da Cosan na alocação de capital foi a rescisão, anunciada na véspera, de um acordo com a seguradora Porto Seguro (SA:PSSA3) que formaria uma joint venture de mobilidade chamada Mobitech.
Questionado se o impacto da maior disciplina de capital poderia interferir em aportes da Cosan em um projeto de minério de ferro no Pará, Martins lembrou que não se espera grande capex no segmento em 2022, após a recente conclusão da fatia remanescente de porto em São Luís, fundamental para o escoamento da produção do empreendimento.
Segundo ele, os investimentos neste projeto de minério de ferro poderão ficar mais fortes em 2023, à medida que se confirme o potencial mineral do ativo.
"A alocação de capital é baixa no primeiro momento (no projeto de mineração), dá flexibilidade pra tomarmos decisões. Ano que vem as coisas devem começar a acelerar."
Ele disse, por outro lado, que o objetivo da empresa no momento não é desinvestimento de portfólio.
"O que temos aí é o IPO da Compass (SA:PASS3), deve gerar diluição, mas não é um desinvestimento", afirmou, destacando que a oferta de ações será realizada quando a situação econômica fizer "sentido", e que a companhia de energia e gás da Cosan está bem capitalizada.
O CEO da Cosan, Luis Henrique Guimarães, acrescentou que com a Compass a empresa continua olhando oportunidades de expansão geográfica em distribuição de gás natural.
Enquanto isso, ele disse que a empresa está "otimista" quanto ao processo no órgão antitruste Cade que avalia a aquisição da fatia da Petrobras (SA:PETR4) no Gaspetro. E que espera ter alguma decisão para o final de junho.
RAÍZEN
As recompras de papéis da Raízen, gigante de produção de etanol, açúcar e distribuição de combustíveis, poderiam ocorrer em momento em que a Cosan não está satisfeita com a liquidez das ações.
Questionado sobre o assunto, Martins afirmou que apesar de questões relacionadas a exigências de "free float" da ação da Raízen, a B3 (SA:B3SA3) deu flexibilidade para a Cosan realizar recompras neste momento, considerando que, quando o cenário ficar mais favorável, a empresa volte a vender os papéis.
Em sua avaliação, a ação da Raízen tem "um problema maior de liquidez do que de fundamentos".
"Acreditamos que a liquidez acontecerá em algum momento, neste momento nosso objetivo é comprar ação.. Mas isso vai retornar para o mercado, no momento em que fizer sentido, vamos vender também."
Isso, defendeu ele, para a liquidez seja aumentada em momento mais adequado para o mercado, "quando o papel não estiver tão deprimido como estamos vendo agora".
(Por Roberto Samora)