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Na contramão do exterior, Ibovespa sobe 1,21%, a 112,2 mil, 3º ganho seguido

Publicado 06.09.2022, 05:00
© Reuters.  Na contramão do exterior, Ibovespa sobe 1,21%, a 112,2 mil, 3º ganho seguido
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Mesmo sem a referência de Nova York na sessão, pelo feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos, o Ibovespa e o câmbio continuaram a refletir um descolamento benigno do Brasil de fatores de risco externo, que punem neste momento em especial os ativos europeus, com a aproximação do inverno no Hemisfério Norte em meio a incertezas tanto sobre o custo como sobre o nível de abastecimento de gás natural no velho continente. Nesta segunda-feira, a referência da B3 (BVMF:B3SA3) emendou o terceiro ganho em uma largada de setembro até aqui sem revés.

Entre mínima de 110.864,76 e máxima de 112.671,39 pontos, o índice fechou em alta de 1,21%, aos 112.203,35 pontos, saindo de abertura aos 110.867,93 pontos. Muito enfraquecido pelo feriado em Nova York, o giro financeiro ficou em R$ 19,4 bilhões na sessão. Em setembro, o Ibovespa avança 2,45%, colocando os ganhos do ano a 7,04%. No câmbio, o dólar fechou nesta segunda em baixa de 0,59%, a R$ 5,1540, com mínima a R$ 5,1507 na sessão.

O desempenho das ações de commodities como petróleo e minério de ferro, em recuperação parcial de preços nesta segunda-feira, foi fundamental para que o Ibovespa subisse na abertura da semana. Ao fim, contudo, Petrobras (BVMF:PETR4) refugou ao fechar em baixa de 0,21% (ON) e de 0,27% (PN), após ter chegado a se alinhar, ainda que a uma grande distância, ao sinal de retomada do Brent na sessão, em alta de quase 3% em Londres, a US$ 95,75 por barril para novembro. A Opep+ informou nesta segunda-feira corte de 100 mil barris por dia na oferta da commodity, na contramão da pressão ocidental por aumento de fornecimento.

"Enquanto uns sofrem, outros comemoram. O Ibovespa hoje foi fortemente beneficiado pelo mesmo fator que preocupa mercados europeus: a oferta limitada de commodities", observa Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos, destacando o desempenho do segmento de materiais básicos na B3 nesta segunda-feira, com o IMAT em alta de 1,97% no fechamento. O dia também foi positivo para as ações com exposição à economia doméstica, com o índice de consumo (ICON) em alta de 0,94%.

Lá fora, o corte de oferta de petróleo vem em momento de muita cautela no mercado de energia, com novas interrupções no fornecimento de gás russo à Europa. A perspectiva de temperaturas mais baixas já em outubro, com o outono, traz pressão adicional sobre a inflação no continente. "Esta nova onda pode contribuir para a curva da inflação ao consumidor continuar em linha crescente no gráfico, com raízes no preço do gás natural, em disparada desde o início do ano", diz Rodrigo Simões, professor da FAC-SP especializado em economia e finanças, referindo-se aos efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia sobre o setor de energia.

"A zona do euro tem cenário desafiador nos próximos meses para tentar controlar este jogo de xadrez: uma combinação dura de inflação com subida de taxa de juros e diminuição da atividade econômica", acrescenta Simões. Assim, nesta segunda-feira, o sinal foi majoritariamente negativo especialmente no horário de negócios na Europa, onde as perdas nas principais praças chegaram a 2,22% (DAX, de Frankfurt).

"Houve estresse grande na Europa num dia que era pra ser tranquilo com o feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos. O anúncio da Gazprom, da Rússia, de interromper o fluxo do Nordstream, que começou ainda na quinta, sexta-feira com alegação de motivos técnicos, de vazamentos, vem agora com alegação de que, se não tirarem as sanções, não mandarão o gás", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

"Semana importante para a Europa com a decisão sobre juros do BCE (Banco Central Europeu), em que o mercado está dividido entre um aumento de 0,50 ou de 0,75 ponto porcentual para esta reunião, no momento em que o continente parece caminhar para uma recessão. As notícias de seca, de que seria a maior em 500 anos, também estão muito fortes", acrescenta o economista.

No domingo, a Alemanha, maior economia do bloco, anunciou um pacote de iniciativas para mitigar os efeitos da escalada dos custos de energia para os consumidores, mas o plano foi considerado curto demais pelo mercado. "Embora o pacote (de 65 bilhões de euros) traga algum alívio para os financeiramente mais fracos, é duvidoso que seja suficiente para compensar totalmente o impacto das contas de energia mais altas", aponta o ING, acrescentando que 65 bilhões de euros são menos de 2% do PIB alemão. "O estímulo fiscal alemão durante a pandemia, excluindo garantias, totalizou cerca de 15% do PIB", acrescenta o banco, em relatório a clientes.

Na B3, o desempenho positivo foi assegurado pelo setor de mineração e siderurgia, com Vale (BVMF:VALE3) à frente (ON +3,66%), ainda em patamar de preço muito depreciado, a R$ 65 a ação, acumulando perda de quase 9% no ano. Nesta segunda, a alta de cerca de 4% para o minério de ferro na China (Dalian), embora ainda abaixo de US$ 100 por tonelada, contribuiu para o avanço das ações do setor, com destaque também para Gerdau (BVMF:GGBR4) (PN +1,45%) e CSN (BVMF:CSNA3) (ON +2,01%). Os grandes bancos foram outro ponto favorável do dia, com ganhos até 1,62% (Itaú (BVMF:ITUB4) PN), à exceção de BB (ON -2,12%).

Na ponta do Ibovespa nesta segunda-feira, Pão de Açúcar (BVMF:PCAR3) (+9,72%), PetroRio (BVMF:PRIO3) (+6,45%), Sul América (BVMF:SULA11) (+3,77%) e Vale (+3,66%). No lado oposto, Positivo (BVMF:POSI3)(-2,68%), Marfrig (BVMF:MRFG3) (-2,41%) e Banco do Brasil (BVMF:BBAS3) (-2,12%). "O mercado esteve mais esvaziado hoje por conta do feriado americano. De novidade, uma depreciação de Europa até maior do que a gente imaginava, principalmente pela inflação no preço do gás, o que causou uma deterioração dos ativos de lá", diz José Simão, sócio e head de renda variável da Legend Investimentos.

"Aqui, a gente tem ainda um pouco do reflexo positivo do PIB, que veio na semana passada. A fotografia que fica é Brasil com números um pouco melhores especialmente em relação à atividade econômica, e lá fora, dando continuidade, Europa em situação bem pior, com PMIs índices de atividade andando pra baixo, e Estados Unidos trazendo juros para ao menos 4% (ao ano) para, futuramente, ancorar as expectativas em direção à meta de inflação", acrescenta o gestor.

"Os investidores seguem preocupados com a crise energética do continente europeu devido ao corte de fornecimento de gás pela Rússia por tempo indeterminado, e também ainda receosos com a possível alta de juros, mais elevada, que será decidida na próxima reunião de política monetária do Banco Central Europeu", nesta quinta-feira, dia 8, observa Letícia Sanches, especialista em renda variável da Blue3.

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