Por Ana Carolina Siedschlag
Investing.com - Os papéis da Petrobras (SA:PETR4) já recuperaram parte das fortes quedas do início da semana, mas a confiança do investidor na gestão da petroleira, após o anúncio da troca de comando a pedido do governo federal, deve demorar a retornar, disseram analistas ao Investing.com e em relatórios sobre o balanço da estatal, divulgado na noite de quarta-feira (24).
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Hoje, as ações ordinárias e preferenciais da companhia fecharam em queda de 3,87%, a R$ 22,86, e 4,96%, a R$ 23,19, acumulando um recuo perto de 15% na semana.
Para Luiz Francisco Caetano, analista da Planner Corretora, o tombo das ações na última segunda-feira (22) foi uma reação dos investidores à ameaça de que a nova administração possa abandonar o plano de gestão que, desde 2016, levou a uma melhora substancial da saúde financeira da companhia.
“Os pilares de corte de despesas, redução dos investimentos, venda de ativos e paridade dos preços com o mercado internacional tiraram a Petrobras de um lugar muito difícil. Uma ameaça a qualquer um deles lembra um tempo que ainda está fresco na memória, quando o papel chegou a valer menos de R$ 5”, diz.
Caetano e outros analistas levantaram a bola esta semana de que as falas do presidente Jair Bolsonaro, de possíveis interferências nas estatais brasileiras e no preço da energia, que culminaram com a indicação do general Joaquim Silva e Luna para a presidência da Petrobras, assemelham-se às políticas da ex-presidente Dilma Rousseff ao longo de 2015 e 2016, fortemente criticadas pelo mercado.
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Em janeiro de 2016, os papéis preferenciais da estatal, pressionados pelos desdobramentos da então vigente operação Lava Jato e pela queda do preço do petróleo, chegaram a ser negociados a R$ 4,80, o menor valor desde 2003.
Agora, mesmo com um cenário bem diferente do da época principalmente pelos preços da commodity, os receios são de que a interferência política na Petrobras volte a assombrar o investidor.
“A mensagem que fica é que existe um medo do mercado de que a troca de comando seria um sinal de ruptura em toda a tese de investimentos”, diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Para ele, os resultados do quarto trimestre da companhia ressaltam que a gestão do até então presidente Roberto Castello Branco e de seus dois antecessores funcionaram para colocar a Petrobras “no caminho certo”, e que agora está em modo de espera para a próxima gestão.
Ver para crer
Para os analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado, da XP Investimentos, que rebaixaram as ações da estatal para Venda no último final de semana, os preços dos combustíveis da Petrobras ainda estão defasados em relação à paridade internacional.
Eles acreditam que, mesmo após o significativo reajuste de 14,6% dos preços do diesel implementado em 19 de fevereiro, a defasagem dos preços ainda segue elevada, em cerca de 8%, acrescidos da margem adicional para cumprir os custos de importação.
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Com isso, a casa de investimentos calcula que a defasagem dos preços do diesel geram um ônus de R$ 13,7 bilhões à Petrobras, uma queda de 7,4% da projeção para o EBITDA.
“Não consideramos tais perdas como desprezíveis e passíveis de serem ignoradas por sua magnitude”, escrevem.
Já os analistas Thiago Duarte, Pedro Soares e Daniel Guardiola, do BTG Pactual (SA:BPAC11), escreveram em relatório que novos aumentos nos preços dos combustíveis serão necessários em breve, e que isso dificilmente acontecerá sem algum barulho em torno da estatal ou sem colocar os resultados da Petrobras e o abastecimento de combustível do Brasil em risco.
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Com isso, o banco de investimentos manteve a recomendação Neutra para o papel, com preço-alvo de US$ 11 para o ADR negociado em Nova York.
Sobre os resultados
Para a Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, os destaques dos resultados do quarto trimestre da Petrobras ficaram com os diversos recordes apresentados, desde o volume de produção, exportações de petróleo, óleo combustível e de entrega de diesel S10, até o lucro líquido.
Segundo ela, a continuidade da execução do plano de desalavancagem, com redução de custos, venda de ativos, além de maior foco em investimentos e produção nos negócios de exploração em águas profundas e ultraprofundas, que trazem maiores margens de retorno para a companhia, foram os responsáveis pelo balanço positivo.
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Já o banco Safra, em relatório, avaliou os resultados como neutros a positivos, com EBITDA ajustado em linha com o consenso, manutenção da tendência de redução da dívida e, segundo eles o maior destaque do balanço, o pagamento de R$ 10,3 bilhões em dividendos, ou R$ 0,7874 para cada ação ordinária ou preferencial, marcado para 29 de abril.
Os analistas do Goldman Sachs também avaliaram o balanço como positivo, destacando o pagamento dos proventos, mas pontuando que, apesar do bom desempenho, o mercado deve ficar focado nos próximos passos do comando da estatal.