Arhur Lira segue “manobrando” no Congresso. Deu algum “apoio” ao discurso mais radical do presidente Bolsonaro, o que incentivou a “cisão” na votação da PEC do voto impresso, num placar relativamente mais apertado (229 a 218); mas adiou, sem data, a discussão sobre a reforma tributária, depois do relator ter mexido no IRPJ e na taxação sobre CSLL.
Na PEC do voto impresso, o risco será Bolsonaro manter este discurso de ataques à urna eletrônica, dado o placar apertado alcançado. Não foi uma derrota acachapante. Seu objetivo, claro, é desviar o foco para a pandemia e a CPI da Covid, ontem tendo convocado um executivo da indústria farmacêutica, produtor de ivermectina. Os senadores desta CPI anunciaram que ao final dos trabalhos encaminharão ao MP Federal um pedido de indiciamento do presidente Bolsonaro pelos crimes de charlatanismo e curandeirismo. A verdade é que o presidente estimulou o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid, no caso, a cloroquina e a ivermectina.
Sobre a gestão do Centrão, até achamos haver algum avanço, como ter colocado a privatização dos Correios e da Eletrobras (SA:ELET3) na agenda, assim como a reforma tributária, mas algum vacilo é perceptível neste debate, considerado mais desgastante. Lira vem se “equilibrando”, dados os vários movimentos abruptos do presidente, sempre soltando seus petardos em declarações polêmicas ou intempestivas. Estas sempre possuem um “custo político” e só o presidente pode balizar como sair dele. Na verdade, é o presidente a responder pelas suas pautas e movimentos, mais ninguém.
No Congresso
Artur Lira resolveu retirar da pauta a discussão sobre mais uma versão da reforma tributária na Câmara, depois do relator Celso Sabino ameaçar alterar o IR sobre as empresas, reduzindo o corte, visando amenizar as críticas dos governadores com a perda de arrecadação, e reduzir a CSLL. Sabino pensava em reduzi-la em 2,5 pontos percentuais, além de aliviar o corte no IRPJ para agradar estados e municípios.
No seu lugar, foi colocada em votação a reforma eleitoral, aprovada em primeiro turno, com o retorno das coligações proporcionais e a rejeição do “distritão”. Resta saber como estas decisões devem ser encaradas no Senado. Lembremos que a ideia do “distritão” só existe no Afeganistão e numa ilha distante do Pacífico. Sua adoção reduz a diversidade de candidatos, eleitos os mais votados e descarta os perdedores. Já pelo sistema de coligação proporcional, deputados e senadores são eleitos pelo sistema proporcional, ou seja, de acordo com o número de votos. Isso visa agradar os interesses das pequenas legendas.
Sobre a MP dos precatórios, o governo resolveu abrir mão da “regra de ouro”, neste caso, para permitir a autorização ao Congresso no uso de créditos suplementares, única forma de emitir dívida para pagar despesas correntes. O objetivo aqui é permitir que a autorização seja solicitada ainda no projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA). Desta forma, a aprovação deste Orçamento já viria com o aval do descumprimento desta “regra de ouro”. Na leitura de muitos, esta mudança representa a morte deste mecanismo de disciplina fiscal (“regra de ouro”). Desde 2014, sucessivos rombos fiscais forçaram os governos a recorrerem ao Congresso para a obtenção de créditos suplementares. Só em 2020 foram R$ 343,6 bilhões.
Nos EUA
Joe Biden anuncia a ocorrência de uma cúpula sobre democracia. A lista de convites ainda está em elaboração, mas o brasil já se colocou a ser convidado. Será que vai acontecer? Esta cúpula parece mais um esforço do presidente norte-americano em se reposicionar no cenário internacional e fazer frente ao G-20, em especial, a Rússia e a China. No plano interno, pretende com isso ser um contraponto a gestão Trump e seus inúmeros ataques à democracia.
Sobre a inflação norte-americana, o CPI de julho registrou 0,5%, dentro do esperado, com o núcleo registrando 0,3%, contra estimativa de 0,4%. Em taxa anualizada, o CPI foi a 5,4%, enquanto o núcleo registrou 4,3%. Boa notícia para a manutenção da política monetária acomodatícia de Jerome Powell, que segue condicionando alguma mudança aos novos dados econômicos (“data dependente”). Ou seja, novas mudanças estarão na dependência dos dados que forem sendo divulgados.
Indicadores
As vendas de varejo vieram mais fracas em junho. Recuaram 1,7%, bem abaixo do consenso. Isso sinaliza que a crise política e o desencontro na liberação das vacinas, assim como os avanços da variante Delta, continuam a causar estragos.
No mercado
O mercado doméstico acabou destoando mais uma vez do exterior, diante da preocupação com o front fiscal, pelo fim da regra de ouro nos precatórios, dificuldades em aprovar a reforma do IR e insistência do presidente com o voto impresso. Com isso, dólar e juro operaram em alta, enquanto que bolsa em queda. Nos EUA as bolsas operaram em rally, renovando recordes, depois da inflação mais fraca, devendo manter a política de estímulos do Fed.
Na quarta-feira (dia 11), o Ibovespa encerrou em queda de o,12%, a 122.026 pontos. Já o dólar subiu a R$ 5,221 (+0,47%), dada a piora no cenário fiscal e os impasses na aprovação da reforma tributária.
Nesta madrugada (05h05 do dia 12), no mercado asiático os índices operaram, na maioria, em queda. A bolsaKospi, da Coréia do Sul, recuando 0,38%, a Nikkei -0,20%, Shanghai -0,22% e Hang Seng -0,82%. No DXY, o recuo do dólar era de 0,03%, a 92.888 pontos, os TNotes de 10 anos recuavam 1,12%, a 1,344% e os barris de petróleo, WTI a US$ 69,23 (-0,03%) e Brent a US$ 71,46 (+0,03%). Na abertura da Europa (04h05), os mercados operavam com sinais mistos DAX avançando 0,04%, FTSE 100 -0,26%, CAC 40 +0,04% e Eurostoxx50 +0,05%.
Na agenda, estejamos atentos aos dados de volume de serviços do IBGE em junho, importante para sabermos como está a retomada da economia brasileira. No exterior, uma série de indicadores de atividade, como a produção industrial da Zona do Euro, Japão e Reino Unido. Nos EUA, o PPI de julho, devendo desacelerar.