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Estratégias de Investimento: O “Efeito Momentum” na Bolsa Brasileira em 2022

Publicado 27.05.2022, 08:13
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Olá, pessoal!

O “efeito momentum” se refere a uma expressão originária do latim que identifica o atual momento de cada empresa. Este efeito já foi constatado pela literatura acadêmica em muitos mercados internacionais e aqui no Brasil por diversos autores acadêmicos (e me incluo aqui, já tendo publicado em revistas científicas a respeito).

Claro que o efeito não diz que empresas que performaram bem recentemente seguirão performando muito bem no futuro. Não é bem isso. A diferença é sutil, mas relevante. O efeito momentum afirma que uma carteira bem diversificada com ações que vem performando bem recentemente tem boas chances de performar acima da média no futuro próximo.

Para isso, a carteira precisa estar bem diversificada para minimizar efeitos idiossincráticos, isto é, efeitos peculiares que atingem uma ou outra empresa em específico que fogem a qualquer controle. Nem todas as ações com bom momento seguirão performando acima da média, mas há razões para se acreditar que a performance média dessas ações tende a se apresentar acima da média do mercado no futuro próximo. Isso é especialmente mais robusto com o passar do tempo, para análises de médio e longo prazo.

Ficou confuso? Deixa então eu explicar com um exemplo. No futebol, se olharmos no passado e sempre apostarmos no último campeão brasileiro, erraríamos bem mais do que acertaríamos, pois tivemos poucos bicampeões nacionais (campeões em sequência). No entanto, se pegarmos uma carteira com os cinco melhores times de um ano, nossas chances de acerto do campeão aumentariam e muito para o ano seguinte. Parece óbvio né? Então, por que não aplicamos esse conceito com ações? Esse é o cerne da questão por detrás do efeito momentum.

Um ponto importantíssimo que preciso destacar é que, se por um lado a ideia do efeito momentum parece bacana (e sustentada por pesquisas), por outro sua implementação pode se dar de uma miríade de formas diferentes, o que pode culminar em resultados bem diversos. Aliás, esse tema é fruto de minhas pesquisas por anos. Várias perguntas precisam ser analisadas e, melhor dizendo, pesquisadas, tais como uma pequena amostra delas que cito a seguir.

  1. Qual o universo de ativos no qual a estratégia tentará se beneficiar do fator momento?

  2. Como medir o momento de um papel: retorno? Alguma métrica fundamentalista? Alguma métrica de performance ajustada a risco? Se sim, qual a melhor?

  3. O momento de um papel é capturado na última semana, no último mês, no último ano ou por quanto tempo afinal?

  4. Quantos papéis devo colocar na minha carteira de investimento para diversificar o bastante e ao mesmo tempo lançar mão de uma estratégia baseada no efeito momentum?

  5. Como devo ponderar cada papel escolhido na minha carteira de investimento?

  6. Quanto tempo levarei para fazer rebalanceamento, ou seja, para medir novamente o momento dos papéis e atualizar a carteira?

  7. Haverá alavancagem com papéis vendidos na carteira?

Todas essas perguntas (e algumas outras mais!) fazem parte do dia a dia de um pesquisador de estratégias de investimento. Na análise que preparei, precisei definir respostas para cada uma das perguntas acima. Assim o fiz baseado em minhas pesquisas. Não que as respostas abaixo sejam as ideais, longe disso, até porque elas dependerão sempre do contexto considerado, mas servem ao menos de base para a análise. Vamos lá!

(1) Considerei os 95 papéis constituintes do IBrX 100 com dados completos no ano passado.

(2 e 3) Atribui o fator momento como dado pelo índice Campani (IC) do papel ao longo de todo o ano passado. Para quem não me acompanha e desconhece tal métrica de performance ajustada a risco, sugiro ler esses três artigos que escrevi há dois anos (esse, esse e mais esse). O IC tem a mesma interpretação que o famoso índice Sharpe (retorno médio por unidade de risco), mas utiliza métricas de retorno e risco conceitualmente corretas e bem fundamentadas.

(4) Usei 15 papéis na minha carteira (em cada ponta – vide ponto 7 abaixo).

(5) Ponderei cada papel na carteira com o clássico 1/n, ou seja, compramos o mesmo montante financeiro de cada papel selecionado (carteira igualmente ponderada). Esta técnica, simples e até ingênua, surpreendentemente funciona e já escrevi sobre ela aqui. Decerto, não é a ponderação que uma estratégia sofisticada com técnicas mais avançadas de alocação de carteiras irá escolher. Não obstante, assim como a maioria das pessoas não têm uma Ferrari e ainda assim estão contentes com seus carros, tais técnicas mais elaboradas nem sempre estão ao alcance do investidor não sofisticado e, a bem da verdade, a simplicidade e a facilidade de implementação do rebalanceamento igualmente ponderado pode, sim, justificar seu uso por esse tipo de investidor.

(6) Por simplicidade novamente, montei a carteira no início de 2022 e não rebalanceei mais, ou seja, fiz buy-and-hold até a última terça-feira, dia 24 de maio.

(7) Gosto de alavancagem porque se o efeito realmente existe na ponta vencedora, então ele também deverá estar presente, mesmo que relativamente, na ponta perdedora. Desta forma, utilizar alavancagem quando a tese funciona potencializa bastante a performance da estratégia. Por conta disso, trabalhei com alavancagem de 50%, ou seja, comprei 150% dos 15 papéis com melhores ICs em 2021 e vendi 50% dos piores 15 papéis.

Faz-se mister ressalvar que sempre utilizo retornos totais, ou seja, que incorporam eventuais dividendos, JSCP, splits, bonificações etc. Esses retornos, naturalmente, podem ser diferentes dos retornos baseados puramente em variação de preços, tais como os retornos dados pela maioria dos sites de busca. Os dados para esta análise me foram gentilmente disponibilizados pela plataforma Quantum Finance.

QUAIS OS 15 PAPÉIS DO IBRX 100 DE MELHOR FATOR MOMENTUM EM 2021?

Os quinze papéis que entraram na ponta comprada da estratégia foram:

QUAIS OS 15 PAPÉIS DO IBRX 100 DE PIOR FATOR MOMENTUM EM 2021?

Os quinze papéis que entraram na ponta vendida da estratégia foram:

COMO ESTARIA A RENTABILIDADE DA ESTRATÉGIA EM 2022?

Como se trata de uma carteira buy-and-hold, sua rentabilidade nada mais é do que a média das rentabilidades dos 15 papéis comprados multiplicada por 1,5 (efeito da alavancagem) menos a média das rentabilidades dos 15 papéis vendidos multiplicada por 0,5. Aqueles que quiserem checar os cálculos, disponibilizo a planilha completa em minha página pessoal (carlosheitorcampani.com, seção “Na Mídia”).

A carteira baseada no fator momentum e de acordo com as definições acima estaria com uma rentabilidade de 11,7% até o fechamento da última terça-feira. Compare esta rentabilidade com o Ibovespa (5,5%) ou com o CDI (4,1%) até então.

Pessoal, gostaria de frisar que o objetivo de um artigo como esse não é o último parágrafo, com uma rentabilidade “legal”. O grande objetivo é compartilhar com vocês conteúdos e conceitos teóricos. Por exemplo, nesse texto, pude explicar o que é o efeito momentum e quais são as grandes questões com as quais um investidor precisa se deparar ao montar uma estratégia alinhada com determinada tese de investimento. E isso é muito importante: toda estratégia sempre deve vir acompanhada de uma tese, jamais se esqueçam disso. Pode ser que esse artigo contribua para fomentar ideias e estratégias. Mas, se contribuir para o seu conhecimento e sua forma de enxergar e analisar investimentos, já me sentirei profundamente satisfeito.

Ah, e fica o convite: vamos nos conectar nas redes sociais @carlosheitorcampani, notadamente Instagram e LinkedIn. Se você tem ideias diferentes e/ou perguntas, vamos conversar, de forma construtiva e gentil? “Bora lá!”

Um forte e respeitoso abraço.

* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Professor do Coppead/UFRJ, Pesquisador da Cátedra Brasilprev em Previdência e Pesquisador da ENS – Escola de Negócios e Seguros. Ele pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na sexta-feira.

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