Entre os observadores do mercado, o mês de setembro tem a fama de ser o pior mês do ano. E setembro de 2021 corroborou plenamente essa visão.
As ações precisam agora passar pelo mês de outubro, que também tem sua própria “mitologia”, já que seu efeito costuma ser bastante perigoso para os investidores. De fato, os riscos podem começar já na próxima sexta-feira, com a divulgação do relatório de empregos nos EUA.
Surpresa de setembro
As perdas registradas durante o mês de setembro parecem ter surpreendido a maioria dos investidores e Wall Street.
O índice S&P 500 caiu 4,8% no mês; o Dow Jones Industrial derrapou 4,3%, e o Nasdaq Composto recuou 5,3%.
O Nasdaq 100, que representa as maiores ações de tecnologia e algumas das empresas com crescimento mais rápido nos EUA, caiu 5,7%, de longe a maior desvalorização mensal do ano e a pior desde março de 2020.
A volatilidade pressionou os ganhos do S&P 500 no ano, caindo de 21% até 2 de setembro para 14,7% no fim do mês. O mercado mais amplo registrou um fechamento recorde e tocou a máxima de 52 semanas em 2 de setembro, depois passou a cair.
Enquanto isso, o Dow experimentou quatro dias em que os ganhos ou perdas diárias somaram 500 pontos ou mais.
Mesmo assim, os principais índices americanos continuam apresentando fortes ganhos no ano, com o S&P 500 acumulando alta de 16% após o rali de sexta-feira. O Dow encerrou o mês com uma alta cumulada de 12,2%, enquanto o Nasdaq registra valorização de 13%. Entretanto, o terceiro trimestre produziu resultados mistos. O S&P 500 ficou perto da estabilidade, ao passo que o Nasdaq caiu 0,4% e o Dow recuou 1,9%.
Perdas em um conjunto maior de ativos
A correção não se limitou às ações.
O bitcoin caiu 7,6% em um mês bastante agitado. Em 6 de setembro, ele se valorizava 11% e, em 16 de setembro, caía 15,5%, antes de um rali no fim do mês. Se bem que a criptomoeda acumule uma alta de 65% em 2021, ela encerrou setembro cerca de 26% abaixo do seu pico histórico tocado em 16 de abril.
O cobre, um dos indicadores mais puros da demanda econômica mundial, caiu 6,5% no mês e 4,7% no trimestre.
Os juros começaram a subir, diante das declarações do Federal Reserve de que começaria a normalizar suas atividades, sinalizando que as taxas provavelmente começariam a subir no próximo ano. O rendimento da nota de 10 anos do Tesouro americano atingiu 1,58% na terça-feira, fechando o mês a 1,49%, uma aceleração de 14,2% no mês. Mesmo assim, ficou abaixo do fechamento de 31 de março de 1,75%.
O recuo nos mercados americanos espelhou os resultados ao redor do mundo, uma indicação de como os mercados estão integrados. O índice S&P Global Broad Market, que rastreia os resultados de um conjunto de benchmarks ao redor do mundo, caiu 4,1% em setembro, embora tenha acumulado alta de 0,4% no trimestre.
Entre os resultados de setembro estão ganhos e perdas abruptas. O S&P 500 caiu 52 pontos na quinta-feira e voltou a subir quase 50 pontos na sexta-feira, uma indicação de que os computadores estavam a cargo da maioria das operações de compra e venda.
Mais recuos no 4º tri?
A volatilidade vista ao longo de todo o mês, especialmente no fim de setembro, despertou o medo de que os mercados – em todo o mundo – poderiam recuar a partir do quarto trimestre.
Diversas causas estão alimentando as preocupações. Entre elas se destacam:
- Covid-19. A variante Delta está impactando a maior parte do mundo, causando – pelo menos até recentemente – uma alta nas taxas de hospitalização nos EUA. As mortes causadas pela pandemia nos EUA superaram 700.000 até a semana passada, e as taxas de fatalidade estão aumentando, apesar de pedidos e até ameaças de demissão de colaboradores que não se vacinarem.
- Problemas na cadeia de fornecimento. Os consumidores americanos estão enfrentando dificuldades para adquirir um carro novo ou até mesmo uma geladeira nova. As peças de computadores e outros componentes produzidos fora dos Estados Unidos estão bastante restritos, à medida que o vírus atinge as forças de trabalho na Ásia e outras regiões.
- Medo da inflação. Os preços vêm subindo ao longo de todo o ano por causa de problemas logísticos criados pela disseminação do vírus. E bancos centrais e economistas estão se dando conta que essas pressões podem não diminuir até 2022 ou mesmo depois.
- Ansiedade gerada pela incessante disputa legislativa no congresso americano e perspectiva de eleições acirradas em 2022 e 2024. Além disso, a retirada das forças americanas do Afeganistão pelo governo Biden fez erodir o apoio à sua administração.
- Preocupações de que os bancos centrais vão começar diminuir os estímulos e elevar as taxas de juros, possivelmente no ano que vem, a fim de conter as pressões inflacionárias.
- Incerteza econômica e política na China. O governo chinês está proibindo as criptomoedas e indo para cima de várias empresas multinacionais do país, principalmente no setor de tecnologia. É possível ver a reação dos investidores no comportamento do índice Hang Seng, de Hong Kong, que caiu 5,6% em setembro, 14,8% no terceiro trimestre e 9,8% no acumulado do ano.
Quem se lembra do crash de outubro de 1987 ou de 2008 pode atestar que outubro pode ser temeroso. Desde 1928, houve vinte e cinco dias em que o mercado recuou 7,5% ou mais, sendo que oito deles ocorreram em outubro. Metade deles ocorreu em 1987 e 2008, de acordo com Howard Silverblatt, da S&P Dow Jones Indexes.
Setor de energia se destaca após grande salto do petróleo
O setor de energia foi o único do S&P 500 a terminar o mês de setembro crescendo em valor: ele subiu 9.3%, graças à alta de 50% nos preços do petróleo em 2021. O barril de petróleo fechou a US$75,03 na quinta-feira, uma alta de 9,5% em setembro.
Sete das 10 principais ações do S&P 500 em setembro pertenciam ao setor de energia.
Entre os destaques estão Cabot Oil & Gas (NYSE:COG) (SA:C1OG34), alta de 36,9% no mês e +33,7% no ano. (Obs.: até o fim de setembro, um acordo de fusão da Cabot Corp. (NYSE:CBT) com a Cimarex Energy (NYSE:XEC) foi aprovado pelos acionistas. A expectativa é que o acordo seja fechado no fim do quarto trimestre com a nova companhia sendo renomeada para Coterra Energy.)
Além de liderar os ganhos até agora no ano no S&P 500, o setor produziu os maiores ganhos tanto no S&P 400 quanto no S&P 600. Todos os ganhos refletem as expectativas dos investidores de que os preços do petróleo continuarão se fortalecendo no futuro próximo.
A contagem de sondas quase dobrou nos últimos 12 meses, de acordo com as estatísticas da Baker-Hughes. No entanto, esse número ainda está cerca de 75% abaixo da máxima do verão de 2008.
Não se sabe até quando o setor de energia permanecerá na liderança. Nos últimos três anos, de acordo com dados da S&P, o setor CAIU 29.4%, enquanto os preços do petróleo recuavam.
Setor de tecnologia despenca; materiais têm baixo desempenho; mercado imobiliário sobe
No mesmo período de três anos, o setor de tecnologia subiu 98,5%. No mês de setembro, no entanto, o segmento recuou, -5,8%.
O pior desempenho setorial foi o de materiais em setembro, incluindo ações ligadas a metais e ouro. Nucor (NYSE:NUE) (SA:N1UE34) recuou 16,2% no mês. O (ouro caiu 3,4% em setembro, acumulando uma desvalorização de 7,2% no ano.)
As principais mega-ações de tecnologia sofreram: Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34) caiu 6,8%; Microsoft (NASDAQ:MSFT) (SA:MSFT34) derrapou 6,6%: Amazon (NASDAQ:AMZN) (SA:AMZO34) caiu 5,4%; Intel (NASDAQ:INTC) (SA:ITLC34) se desvalorizou 1,44%.
O gigante das redes sociais Facebook (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34) caiu 10,4%. Sua capitalização de mercado ficou abaixo de US$1 trilhão.
Para os investidores atentos, nada disso seria inteiramente uma surpresa. O mercado já vinha dando sinais de topo por algum tempo.
A começar pela aceleração do repique do mercado acionário desde o fundo tocado em março de 2020 – os ganhos são de tirar o fôlego: cerca de 120% para o Nasdaq; quase 100% para o S&P 500, e 88,5% para o Dow.
Em seguida, os índices de força relativa para o S&P 500, Nasdaq e Nasdaq 100 superaram 70 no início de julho. Esses eram sinais de que esses índices estavam se esticando demais. O IFR é um indicador bastante popular de força do mercado. Quando ele supera 70, sugere a probabilidade de ocorrência de vendas, sem, no entanto, mostrar quando.
Considere a lacuna entre as máximas de 52 semanas e os preços atuais. O S&P 500, Dow, Nasdaq e Nasdaq 100 finalizaram o mês com mais de 5% abaixo das suas máximas de 52 semanas. O Nasdaq 100 ficou 6.4% abaixo da sua máxima de 52 semanas, atingida pela última vez em 7 de setembro. O topo do S&P 500 havia ocorrido cinco dias antes, e a do Dow, em 16 de agosto.
No índice de small caps Russell 2000, a máxima foi tocada em 15 de março.
Outro sinal vermelho indicando cautela no mercado é o cálculo diário de novas máximas líquidas. Trata-se da diferença entre as novas máximas e novas mínimas de 52 semanas.
O número atingiu 822 em 12 de março, com 823 ações estabelecendo novas máximas e apenas uma atingindo nova mínima. Na última quinta-feira, o número era de -58. Havia 77 ações registrando novas máximas enquanto 135 atingiram novas mínimas. A linha de tendência de novas máximas líquidas moveu-se lentamente para baixo desde o pico de março.
Isso posto, os lucros do segundo trimestre ficaram, em sua maioria, acima das estimativas e um número significativo de analistas preveem fortes resultados para o quarto trimestre. O emprego segue estável nos EUA. Os pedidos de seguro-desemprego pela primeira vez no país ficaram abaixo de 400.000 na última semana, subiram um pouco nas últimas três.
O Federal Reserve deseja reduzir seu impacto nos mercados financeiros. Pode ser que o banco central americano reduza suas compras de ativos durante o último trimestre do ano e comece a elevar juros em 2022. A perspectiva de juros maiores amedronta Wall Street. Os investidores mais experientes sabem que os crashes de 1987 e 2008 foram precedidos de aumentos de juros.
Mas diversos fatores desconhecidos também devem ser acompanhados. Será que a pandemia já foi controlada? Será que as pressões inflacionárias causadas por problemas de cadeia de fornecimentos e custos maiores de commodities – principalmente de energia e materiais – manterão os mercados em xeque? As atuais preocupações em torno de problemas geopolíticos nos EUA e no exterior podem aumentar a volatilidade, à medida que a primeira semana completa de negociações de outubros se inicia.