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Helena Veronese: Situação do investimento é delicada e deve ser ponto de atenção

Publicado 15.03.2024, 16:32
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Investing.com – Os motores que tendem a mover a economia em 2024 não são os mesmos de 2023, que foi impulsionado pelo agronegócio. Entre os fatores que podem comprometer uma expansão maior do Produto Interno Bruto (PIB) do país neste ano estão os juros ainda em patamares elevados, ainda que o mercado de trabalho siga resiliente, e investimentos considerados em níveis preocupantes, segundo Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.

“Percebemos uma situação de investimentos delicada no país e esse vai ser o principal ponto de atenção”, alerta a economista.

O Investing.com Brasil publica neste mês uma série de entrevistas com mulheres no cargo de economista-chefe de destaque no ramo, incluindo Veronese. A primeira entrevista foi publicada na última sexta, 08, Dia Internacional da Mulher, com Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos.

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De acordo com a economista, entre os principais riscos percebidos pelo investidor externo na hora de pensar em alocar no país está, no entanto, na situação fiscal. A economista não acredita que o déficit possa ser zerado neste ano, e também não espera que o governo promova cortes de gastos em ano eleitoral, mesmo que o pleito seja municipal.

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Inv.com – Em relação ao comércio exterior e à nossa balança comercial, você acredita que ocorreu alguma mudança mais significativa de tendência em relação ao patamar de outros anos?

Helena Veronese – Acho que não tem tanta mudança não. O que mudou no ano passado foi mais por conta do agro, teve uma mudança por conta da safra, mas em relação ao que a gente tem visto nos últimos anos, eu acho que trouxe algumas surpresas, principalmente importação, que veio um pouquinho mais forte, mas isso na minha leitura não muda o viés para o ano e não muda o que a gente espera para os próximos anos.

Veronese – Em relação ao fluxo de investimento direto, que vem sendo positivo nos últimos doze meses, quais que são os drivers para esse indicador e possíveis riscos vistos pelo mercado externo em relação à percepção que os investidores têm do Brasil nesse momento?

Veronese – O principal risco, na minha opinião, é o fiscal. O gringo não olha assim no detalhe o que está acontecendo no cenário fiscal, ele não vai olhar no mês a mês se o país está cumprindo meta, mas ele vai olhar o macro.

Quando ele olha o macro, verifica como está a relação dívida/PIB, se o Brasil cumpriu a meta fiscal e ao que tudo indica, neste ano não vai cumprir. Então ele olha de forma mais distante, não tanto no detalhe, mas acho que esse é o principal risco.

O que a gente tende a ter em 2024 é uma entrada de fluxo muito por conta também de juros mais baixos, se de fato acontecer. Só que mesmo assim, para o investidor externo entender que o risco/retorno para estar em um emergente vale a pena, no caso do Brasil, tem que ter um fiscal minimamente responsável e a gente tem hoje.

Esse é um dos motivos de a gente achar que há uma chance razoável do governo revisar a meta a meta de zerar o déficit para esse ano porque é uma meta que provavelmente eles não vão conseguir alcançar. Então acho que tem uma chance grande de se revisar para não ter o risco de não cumprir a meta logo no segundo ano do governo.

Inv.com – Como você avalia essa estratégia do governo de estar em procura de mais medidas que elevem arrecadação, mas ainda não promovendo um corte mais profundo de gastos? Essa estratégia tem se demonstrado acertada ou não no seu entendimento?

Veronese – A estratégia funciona. Quando a gente vê os dados de arrecadação de janeiro, houve uma arrecadação recorde e uma parte pequena desse aumento de arrecadação se explica já por novos tributos, como tributação de offshores e fundos exclusivos. Então a estratégia funciona de fato, o governo está conseguindo aumentar a arrecadação. Mas apesar de essa estratégia funcionar, ela não é suficiente, pelo menos não da forma que está desenhado o programa fiscal para zerar o déficit.

Para ter o cumprimento dessa meta de déficit zero, é imprescindível realizar um corte de gasto. E não estaria com “a menor cara” de que vai haver.

Então é uma estratégia que precisa ser realizada e a forma como foi feito até aqui, de aumentar a receita, não é algo necessariamente negativo. Se a gente pensar no eleitorado, é algo fácil de justificar ter aumentado a tributação sobre os mais ricos, mas essa medida não vai ser suficiente para o governo conseguir atingir a meta.

O que precisaria acontecer é esse corte de gastos que, desde outubro do ano passado, o próprio Presidente da República falou abertamente que não deveria acontecer. Então me parece que a revisão de meta ou não cumprimento da meta que a gente tem hoje é algo quase que inevitável.

Inv.com – Temos um cenário de eleições municipais esse ano. Pode haver um aumento de gastos?

Veronese – A eleição municipal não é algo que costuma fazer tanto preço, mas talvez esse ano faça mais, justamente por conta do fiscal. Ano eleitoral, claramente, é um ano de mais gastos do governo, tanto dos estados quanto do próprio governo federal. E isso tende a se repetir em 2024.

Pode ser que, além de não ter corte de gastos, mesmo que haja medidas para aumentar a arrecadação, se a gente tiver aumento de gastos, fica mais difícil ainda de cumprir a meta. Então eu acho que o ano eleitoral vai ser importante por conta de comprimento ou não de meta fiscal.

Inv.com – Em relação aos principais motores do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, quais podem ser, além dos os possíveis entraves?

Veronese – Teremos um PIB neste ano em que o agronegócio não vai crescer tanto, até por conta da base de comparação anterior e a safra recorde, mas alguns pontos são relevantes, e a soja deve ter uma boa safra.

Embora o agro não tenda a representar uma grande contribuição para o crescimento como ocorreu em 2023, não vai ser uma contribuição negativa e vai ter alguma relevância. Pensando em consumo, do ponto de vista da demanda, acredito que vamos ter um consumo um pouco mais forte, principalmente no segundo semestre, tendo em vista que ainda temos o impacto de juros altos na economia.

Já começamos a notar alguma recuperação de crédito, um início de queda de inadimplência, isso tende a ser repassado para o consumo depois, mas eu acho que esse é o movimento que em um primeiro momento ainda não vamos observar. A mesma coisa acontece com serviços. A gente tem visto uma resiliência forte de serviços, mas no segundo semestre tende a vir com mais força, pois a partir do segundo semestre entendo que o corte de juros vai ter mais impacto na economia. Na primeira metade do ano, o PIB ainda vem ainda fraco, não negativo, não recessivo, mas uma economia perto da estagnação, com uma retomada no segundo semestre.

O que me preocupa e o que me incomodou no PIB de 2023 é o investimento. A gente tem investimento negativo há muito tempo já. Em 2023, foi um ano muito marcado por isso. Percebemos uma situação de investimentos delicada no país e esse vai ser o principal ponto de atenção.

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