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Mercados Não Perdoam

Publicado 22.10.2021, 08:48
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Quando os governos adotam medidas intempestiva, contra o transcurso normal de uma economia de mercado, contra regras e bom senso, os ativos volatilizam e o desmonte de posições, se torna inevitável. A impressão que se tem neste momento é de que o mercado já “desembarcou deste governo”. Se antes acreditava na retórica do ministro Paulo Guedes, agora não mais. E como disse um amigo, “não adianta chamar o mercado de “malvadão”. Os investidores até demoraram para perceber o desgoverno atual e o populismo”.

A ficha caiu. Agora o desembarque é fato. O olhar dos investidores passa a ser de cautela e desconfiança.

Depois destas decisões populistas, tomadas nesta semana, a debandada de importantes quadros da área econômica, como Tesouro e Orçamento, lideradas por Bruno Funchal, e equipe, se tornaram inevitáveis. Pediram para sair, porque uma das regras pétreas da gestão econômica, nos dias de hoje, a definição de um “teto dos gastos”, foi desrespeitada.

Em resposta, e na certeza de que as bases atuais serão flexibilizadas para acomodar novos aumentos de gastos sociais, visando as eleições do ano que vem, quinta-feira (dia 21) foi dia de sell-off. Se no início do dia, os prenúncios já eram bem ruins, dado que Guedes havia dito que pediria “licença para gastar” além do teto, tudo piorou quando surgiram alternativas (pedaladas sim!) para acomodar estes gastos dentro do teto.

Se as regras do teto não se adequam ao momento, alteremos estas regras. Nada mais casuístico e condenável.

Em decisão da PEC dos precatórios, alterou-se o período de apuração da inflação na correção dos gastos, não mais de junho a junho do ano seguinte, agora pelo “ano cheio”, de janeiro e dezembro. Claro, isso foi alterado pensando na inclusão de novas despesas. É a mesma lógica, muitas vezes usada, quando se têm dois índices de preço para correção, um mais amplo, outro mais restrito. Escolhe-se sempre, e depois da porta arrombada, o mais restrito ou com menor variação.

Nesta PEC, o que foi decidido é que a regra fica alterada e aplicada retroativamente a 2016. Só assim, tem-se um adicional de teto de R$ 40 bilhões. Limita-se também o pagamento de precatórios, o que dará ao governo, ao fim, um espaço para gastar mais de R$ 83,6 bilhões.

Para piorar, quando não faltava mais nada, Jair Bolsonaro, entorpecido por esta farra fiscal, por esta irresponsabilidade com recursos públicos, resolveu que irá dar um “agrado” aos caminhoneiros, de R$ 400. Bom, neste caso, tem que dar agrado aos médicos e enfermeiros, que se sacrificaram sobremaneira na pandemia, aos parentes das 603 mil vítimas da Covid, a todos que são obrigados a pagar 36% da sua renda anual em impostos e não ter nunca um retorno razoável em bens públicos. Enfim, como faz? As demandas são infinitas, mas os recursos limitados...Não dá para agir desta forma.

Em resposta, os mercados “sentiram o tranco. A reação foi mais negativa no mercado de juros, com as taxas intermediárias chegando a subir 90 pontos no pico do dia. Já as taxas curtas, diante de tantas revisões para o Copom da semana que vem, já precificam um aperto monetário de 1,5 ponto percentual neste evento.

O que é fato. Aqui, a lógica é uma só. Se temos um desbalanceamento pelo lado da demanda agregada, muito mais do setor fiscal, o Bacen tem que intervir fundo, puxando a Selic para evitar que este não piore e caíamos numa “dominância fiscal”. Recai tudo sobre a política monetária, a responsabilidade pelo combate à inflação. No front fiscal, a demanda política se impõe. E isso foi dito pelo ministro Guedes, argumentando que foi até onde podia ir, agora é com os políticos. Neste contexto, porque não pede para sair? O tal núcleo político deste governo, formado pelo Centrão, não entende a saída de Bruno Funchal e equipe, e já classifica Guedes, “como homem difícil de entender”.

Saíram desta vez, além de Bruno Funchal, seu assessor direto, Jeferson Bittencourt, além dos secretários adjuntos. Ou seja, saíram os titulares e os reservas!

Guedes já perdeu 19 assessores desde o início deste governo. É um processo de esvaziamento a chamar atenção. Do time principal só resta Carlos Da Costa, da área de produtividade, o secretário de política Econômica, Adolfo Sachsida, e mais alguns. Boa parte da equipe já saiu.

Como já dito, a PEC dos precatórios passou por Comissão Especial, por 23 votos a favor e 11 contra, e agora vai a plenário, a ser votada em dois turnos, precisando de 3/5 dos votos para ser aprovada. Lembremos que ainda deve passar pela Câmara e depois, pelo Senado, totalizando quatro turnos. Será um longo processo. Nesta PEC, o relator, Hugo Motta, alterou o regramento do teto do IPCA, não mais entre junho e junho do ano seguinte, mas entre janeiro e dezembro, retroativo a 2016, o que deve representar uns R$ 80 a R$ 90 bilhões a mais para o governo gastar.

O que é fato. Foi uma decisão casuística, com o jogo já em andamento, visando reforçar o “caixa” do governo e as eleições. E este “discricionarismo”, não respeito às regras, torna o ambiente doméstico ainda mais incerto e volátil, se refletindo no comportamento dos mercados. Não há uma sinalização clara deste governo sobre o que será feito no futuro, apenas preocupação com o projeto político do presidente e isso é péssimo. Na visão de Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro deste governo, “falta convicção política em Brasília”. Pode até haver alguma quebra de teto, mas tem que ser um evento único e especial. O governo não pode viver de “puxadinhos e improvisos”. Isso acaba resultando na “desancoragem das expectativas” sobre o regime fiscal, resultando na perda de credibilidade (se já não perdeu).

Na semana que vem, teremos reunião do Copom, e “a assimetria altista do balanço de riscos”, se confirmada, tendo em vista o populismo fiscal, deve indicar uma atitude mais agressiva do Bacen. Cresce a opinião de que uma puxada da Selic, mais agressiva, entre 1,25 e 1,50 pontos, terá que ser sancionada. Nos últimos três dias, a taxa DI jan23 já subiu 120 pontos e precifica a Selic a 11,75% ao fim de 2022. E isso deve colocar o País numa espiral de desaceleração econômica, inflação e saída de recursos. Um dos pilares de uma política econômica hoje em dia, a âncora fiscal, está sendo perdido.

Neste contexto, o dólar já passa a rondar os R$ 5,60, maior alta desde o início do Covid. É uma valorização de 25% sobre um “preço justo hipotético”, ou de equilíbrio, em torno de R$ 4,50. Ontem, o Bacen não atuou despejando dólares em oferta de “swap extra”, por entender que em momentos agudos como este, atuar desta forma seria como “enxugar gelo”. O negócio é esperar a calmaria para voltar a atuar. E isso deve ser hoje, com um leilão de 15 mil contratos de swap tradicional.

Na China, a mega incorporadora, China Evergrande Group (HK:3333) (OTC:EGRNY), supostamente deve ter pago o tranche de juros de US$ 83,5 milhões que venceu em 23 de setembro.

 

 

Indicadores

Pela Zona do Euro, o Índice de Confiança do Consumidor cai a 4,8 em outubro, contra previsão de 5.Nos EUA, as Vendas de Casas Usadas subiram 7% em setembro, contra queda de 2,0% em agosto. Pelo índice de atividade industrial do Fed da Filadélfia, em outubro caiu a 23,8, contra estimativa de 25,0.Pelo Departamento do Trabalho, os pedidos de auxílio-desemprego recuaram a 290 mil na semana até 16/10, quando o consenso eram 300 mil e a semana anterior 293 mil.

Mercados

No Brasil, o Ibovespa fechou quinta-feira (dia 21) em forte queda de 2,75%, a 107.735. Já o dólar encerrou o dia em alta de 1,90%, a R$ 5,66, pela piora forte no ambiente doméstico.

Na madrugada do dia 22/10, na Europa (04h05), os mercados futuros operavam mistos: DAX (Alemanha) avançando 0,23%, a 15.507 pontos; FTSE 100 (Reino Unido), -0,01%, a 7.189 pontos; CAC 40 +0,53%, a 6.721 pontos, e Euro Stoxx 50 +0,44%, a 4.173 pontos.

Na madrugada do dia 21/10, na Ásia (05h05), os mercados operaram em maioria, em queda: S&P/ASX (Austrália), +0,02%, a 7.415 pontos; Nikkei 225 (Japão) -1,87%, a 28.708 pontos; KOSPI (Coréia), -0,19%, a 3.007 pontos; Shanghai Composite +0,22%, a 3.594, e Hang Seng, -0,47%, a 26.012 pontos.

No futuro nos EUA, as bolsas de NY operavam em queda neste dia 22/10 (05h05): Dow Jones recuando 0,02%, a 35.474 pontos, S&P 500, -0,09%, a 4.537 pontos, e Nasdaq 100 -0,45%, a 15.419 pontos. No VIX S&P500, 18,90 pontos, avançando 1,08%. No mercado de Treasuries, US 2Y avançando 2,11%, a 0,4452, US 10Y +0,10%, a 1,677 e US 30Y, -0,55%, a 2,116. No DXY, o dólar -0,14%, a 93,630, e risco país, CDS 5 ANOS, a 211,5 pontos. Petróleo WTI a US$ 82,64 (+0,17%) e Petróleo Brent US$ 84,71 (+0,12%). Gás Natural em avanço de 1,60%, a US$ 5,20 e Minério de Ferro, -1,50%, a US$ 689,50.

Na agenda desta sexta (22), os dados do setor externo de setembro no Brasil; no Reino Unido, as vendas e o núcleo do varejo; na Alemanha, Zona do Euro, Reino Unido e EUA, o PMI Industrial, Composto e Serviços.

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