Os bancos centrais já começam a inverter as trajetórias das suas políticas de juros, diante da ameaça de choques de oferta inflacionária no horizonte. As fortes altas das commodities, destaque para energia e alimentos, impõem uma inflação mais elevada e um olhar mais atento das autoridades monetárias. Soma-se a isso, os vários gargalos de produção nas várias cadeias industriais, gerando desequilíbrios de oferta e demanda.
Nos EUA, o Fed resolveu anunciar o início do tapering, com redução na compra de ativos, embora deixando a taxa de juros estável. O Banco da Inglaterra deve hoje anunciar a elevação do juro, algo seguido pelo Canadá, Austrália, Rússia, Turquia e Brasil. Já o BCE e o Banco do Japão devem anuncia também a redução na compra de ativos.
No comunicado do Fed, Jerome Powell parece ter agradado aos mercados. Mesmo com a inflação se mostrando resiliente, ele nem discutiu a possibilidade de elevar o juro neste momento (entre 0 e 0,25%). Com isso, as bolsas em NY “surfaram numa boa onda”, batendo recordes de alta, e no Brasil, os ativos absorveram bem estes movimentos, mas de olho na PEC dos precatórios, em complicadas negociações.
O câmbio recuou bem ontem, -1,42%, a R$ 5,5897, mas no mercado futuro de juros houve stress diante de uma ata do Copom mais dura do que o esperado, na perspectiva de um ajuste mais forte da Selic no próximo Copom. Já o Ibovespa chegou a acompanhar os pares de NY, mas no final do pregão, perdeu tração diante da queda da Vale (SA:VALE3) e das siderúrgicas, com as incertezas na China e problemas de energia, queda da oferta de minério de ferro e de demanda do aço.
Sobre a ata do Copom, numa inclinação mais hawkish o Bacen indica uma movimentação mais forte na elevação da Selic na reunião de dezembro e nas próximas de 2022. Nas projeções de mercado, a taxa de final de ciclo já é de 11%, e não 10,75%, com elevação de +1,5 ponto percentual agora em dezembro (por enquanto). Diante de uma conduta fiscal irresponsável, o Bacen “implica maior probabilidade a cenários alternativos que considerem taxas de juros neutras mais elevadas”.
Sobre o comunicado do Fed, Powell, dovish como sempre, não acha que o Fed esteja atrasado, considera prematuro elevar a taxa de juros agora e “há terrenos para cobrir nos ganhos de emprego”. Segundo ele, “quando atingirmos o nível máximo de emprego, é possível que o teste de inflação já tenha sido cumprido”.
Na verdade, embora havendo uma inflação mais resiliente neste momento, a retomada da economia ainda é desigual e o mercado de trabalho ainda insuficiente. Os salários, por exemplo, pela produtividade elevada da economia norte-americana, não têm crescido acima da inflação, o que é um bom sinal. Ou seja, esta inflação não se dá pelo mercado de trabalho, pelos salários, mas sim pela ainda desorganizada oferta de suprimentos nas cadeias produtivas. Os gargalos de oferta explicam o cenário atual.
Sobre o tapering, na redução das compras mensais de títulos, tem início agora em novembro devendo terminar em 2022. Serão cortes mensais de US$ 15 bilhões nas compras mensais de US$ 120 bilhões em títulos do Tesouro e lastreados em hipotecas. Serão menos US$ 10 bilhões mensais em treasuries e US$ 5 bilhões em hipotecas (MBS).
Este ciclo de redução deve se completar entre junho e julho do ano que vem, o que pode ser o start para a elevação do juro. Muitos consideram o FOMC de setembro como um bom momento. Tudo dependerá dos indicadores de emprego, atividade e inflação. O problema aqui é que esta deve se manter acima de 3% em 2022.
Sobre a PEC dos precatórios, foi aprovada em primeiro turno na Câmara, por 312 a 144, depois de muitos adiamentos e negociações. A emenda aglutinativa passou, com alterações como a dívida judicial aos professores do Fundef, a ser paga em três parcelas, 40% em 2022, 30% em 2023 e 2024, todos pagos dentro do subteto. Muitos consideravam esta emenda uma “fraude processual”, ferindo o regimento da Câmara. Ao fim, caso a PEC não seja aprovada, o governo terá que arrumar um jeito para estender o auxílio emergencial. Importante observar que o Senado segue com a reforma do IR parada em plenário. Esta seria importante para tornar o Auxilio Brasil de R$ 400 permanente. Não resta dúvida uma postura mais política de Rodrigo Pacheco neste imbróglio.
Na reunião da OPEP+ de hoje, as negociações se radicalizam, caminhando para a confrontação. Há riscos da Arábia Saudita e seus parceiros rejeitarem as demandas de Joe Biden por mais oferta de petróleo. Atualmente a produção é de 400 mil bd.
Na Europa, o gás natural disparou 17% ontem, diante dos temores de que a Rússia não cumpra sua promessa de elevar as remessas para o velho continente. Estes estoques são necessários diante da proximidade do inverno. No contrato futuro do gás TTF (negociado na Holanda e referência neste mercado), a subida foi de 17,46%, a 79,41 euros por MWz. Isso aconteceu, pois embora Putin tenha prometido o envio de gás, a Gazprom não fez reservas de gasodutos para envio de volumes extras. Isso alarmou os mercados.
Indicadores
No Brasil
Em outubro o saldo comercial veio positivo em US$ 2,0 bilhões, acumulando no ano US$ 58,57 bilhões, exportações somando US$ 22,52 bilhões (+27,6%) e importações US$ 20,51 bilhões (+54,9%).
Nos EUA
O PMI Composto IHS Markit subiu a 57,6 pontos, contra 55 em setembro; o PMI Serviços foi a 58,7 contra 54,9 em setembro; o índice de gerentes de compras do setor de serviços, elaborado pela ISM, avançou de 61,9 em setembro para 66,7 em outubro.
Na Zona do Euro
Taxa de desemprego foi a 7,4% da PEA em setembro.
No Japão
O PMI Composto atingiu 50,7 pontos em outubro, contra 47,9 no mês anterior.
Sobre a COVID
Preocupa o crescimento de casos em países da Europa Oriental, onde o ritmo de vacinação está em atraso. Um país em destaque é a Romênia.
Mercados
No Brasil, o Ibovespa apresentou alta de 0,06% na quarta-feira, a 105.616 pontos e o dólar maior queda em um mês, a -1,42%, R$ 5,5897, mesma direção da inclinação da curva de juros.
Nesta quarta-feira temos mais um leilão de swap cambial, de até 14 mil contratos. Este visa suprir uma demanda adicional de final de ano de overhedge (proteção cambial adicional) dos bancos.
Na madrugada do dia 04/11, na Europa (04h05), os mercados futuros operavam mistos: DAX (Alemanha) avançando 0,03%, a 15.959 pontos; FTSE 100 (Reino Unido), -0,36%, a 7.248 pontos; CAC 40 +0,34%, a 6.950 pontos, e Euro Stoxx 50 +0,31%, a 4.309 pontos.
Na madrugada do dia 04/11, na Ásia (05h05), os mercados operaram em alta: S&P/ASX (Austrália), +0,48%, a 7.428 pontos; Nikkei (Japão) +0,93%, a 29.794 pontos; KOSPI (Coréia), +0,25%, a 2.983 pontos; Shanghai Composite +0,81%, a 3.526, e Hang Seng, +0,52%, a 25.154 pontos.
No futuro nos EUA, as bolsas de NY, no mercado futuro, operavam em alta neste dia 04/11 (05h05): Dow Jones, +0,02%, 36.043 pontos; S&P 500, +0,09%, a 4.656 pontos, e Nasdaq +0,30%, a 16.192 pontos. No VIX S&P500, 17,02 pontos, recuando 0,51%. No mercado de Treasuries, US 2Y recuando 0,86%, a 0,4739, US 10Y +0,99%, a 1,595 e US 30Y, +1,94%, a 2,024. No avançando 0,30%, a US$ 5,69 e Minério de Ferro, -0,34%, a US$ 582,50.
Nos mercados, dia de reunião da OPEP+, com os EUA pressionando pelo aumento da produção, atualmente, em 400 mil bd.
Na agenda desta semana, nos EUA balança comercial e pedidos de seguro desemprego. No Brasil produção industrial de setembro, no Reino Unido, reunião do BoE. Muitos indicadores de PMI Composto, Alemanha, Reino Unido e Brasil.