A tempestade perfeita acontece quando uma conjunção de fatores negativos acontece. O que presenciamos é isso. Vivemos no pior dos mundos, no Brasil, a agenda de reformas segue em discussão, mas pouco avança e a economia, que estava retomando, com a variante delta da covid-19, e as várias crises latentes no exterior, deu uma derrapada.
No mundo, o susto é com a variante Delta, com vários países retomando os lockdowns. Nos EUA, a mudança de dosagem da política monetária segue na ordem do dia, com o tapering já debatido abertamente entre os diretores do Fed. Muitos já consideram como certo o início deste processo ainda neste ano. Aguardemos o simpósio de Jackson Hole, nos dias 26 a 28 de agosto, para reunir novos elementos.
No Afeganistão, o clima é de caos. Não nos parece plausível, razoável que seja, uma milícia, uma “tribo”, governar um país complexo e estratégico para o mundo como este. Joe Biden errou ao anunciar a retirada das tropas deste atoleiro. Neste “tênue equilíbrio”, se isso é possível, tinha que ter convocado o Conselho de Segurança da ONU para discutir o tema.
No Congresso
No Senado, Rodrigo Pacheco, presidente da casa, tenta estabelecer alguma “ponte” entre o governo e o STF de Luiz Fux, tentando reaproximar as partes, mas parece não ser bem sucedido, visto que Bolsonaro segue em críticas contra Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso, ministros da casa.
Fux tinha uma reunião com Bolsonaro, mas depois de tantas patacoadas, desmarcou e colocou o presidente na geladeira.
Ele, com a sua “claque de sempre”, continua nos seus ataques, ao meu ver, “suicidas”, por mostrar um posicionamento radical neste momento. Sua contrariedade se explica pelo “praticamente” veto de Barroso ao “voto auditável” a também pela prisão de Roberto Jefferson. Para Celso de Mello, este posicionamento do presidente é “inconsequente”. Não sabemos qual será o desfecho disso tudo, mas desde já consideramos a estratégia do presidente, com certeza, orientada pelo filho Carlos Bolsonaro, algo temerário para o seu futuro político.
O isolamento das suas posições só piora suas chances políticas para 2022. E isso se reflete nas pesquisas políticas. Numa recente, mostrou que ele perderia para quase todos os candidatos da “terceira via”, além de, claro, Lula e Ciro Gomes.
Pelo lado de Rodrigo Pacheco, o que se observa é uma postura cada vez mais independente, se descolando, inclusive, de Arthur Lira, presidente da Câmara. Muitos falam que o presidente do Senado tem pretensões para 2022, com uma “terceira via”. Resta saber se, dentre tantas, ele decola. Pacheco já anunciou o ingresso no PSD, de Gilberto Kassab.
No Congresso como um todo, muitos consideram esta postura de Bolsonaro um total desatino. A nomeação de André Mendonça para o STF, por exemplo, está parada. Soma-se a isso, uma clara má vontade em votar junto com o governo diversas pautas, como a reforma do IR, ainda na Câmara e na CPI da Covid, coordenada por senadores, o ambiente é cada vez mais acirrado. Não há esvaziamento, mas sim aprofundamento nas investigações, sobre as negociatas de membros do ministério de Pazuello.
Há de se observar que sempre foi esta a postura do presidente. Falar meia dúzia de besteiras no “cercadinho” e na sua live, e depois esperar o desfecho. Nos parece óbvio que boa parte da agenda econômica que ficou pelo caminho, na reforma da previdência, no pacote contra o crime, agora na reforma tributária, teve como culpado o presidente Bolsonaro, e sua total falta de capacidade de aglutinar, tumultuar, num flaxflu permanente. Isso é bom? Não, claro que não. Muitos dos eleitores que votaram nele pensando em se livrar do PT, não devem voltar fazê-lo, e seguem ansiosos por uma outra alternativa. Esta é a mais pura realidade. E quanto isso representa? Difícil saber neste momento, mas não são poucos.
Sobre a reforma do IR, segue na gaveta e só deve ser retomada em duas semanas. O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos, reconhece que esta reforma “subiu no telhado” e que o texto terá que ser reconstruído para ter chances de aprovação. Disse ele que o foco de Bolsonaro pelos gastos públicos visando as eleições, acabou com a política de austeridade de Paulo Guedes. Este virou um simples serviçal do presidente.
Enquanto isso, a Euroasia rebaixou a perspectiva do Brasil, de neutra para negativa, dado o front fiscal e as tensões institucionais, que impactar na retomada.
Reunião trimestral do BACEN com o mercado
Chama atenção o tom pessimista dos economistas de mercado neste evento que acontece no Banco Central a cada três meses. Há uma rápida deterioração das expectativas econômicas, em especial para 2022, e o incômodo do mercado com o relaxamento fiscal, já que o presidente busca recursos para bancar sua “bolsa família turbinada”. Isso tudo significa desgaste e dólar e juro nas alturas.
Ata do FOMC
Disseram as autoridades monetárias que o “referencial de emprego para reduzir o suporte à economia, pode ser atingido neste ano. Mas isso ainda não aconteceu”. Na reunião do FOMC do mês passado, os diretores do Fed discutiram quando encerrar os estímulos, no chamado tapering, e como responder à inflação acima do esperado. Isso serviu para estressar o mercado cambial doméstico, elevando o dólar a R$ 5,374 (+1,99%). Para o Fed, o início do tapering pode ser ainda neste ano. Tudo piorou também com mais um dia de impasse na reforma do Imposto de Renda, ainda empacada, pelas perdas previstas para os Estados. Aguardemos o simpósio de Jackson Hole, dias 26 a 28 de agosto, quando novidades devem ser ditas.
No Afeganistão
Joe Biden, talvez pesando sua decisão, anunciou que os soldados americanos se manterão em Kabul até que todos os americanos possam deixar o país. O problema é que não se contam apenas os americanos, mas os inúmeros afghans, que prestaram serviços às forças de ocupação, aprenderam a admirar o modo de vida americano, seu conforto, praticidade e bem estar, e agora foram abandonados a sua própria sorte. Como faz? Dizem que os americanos darão asilo a cerca de 40 mil. Não são poucos, mas como selecionar? Agora, devem sofrer perseguição e até a morte. Isso não está correto. Não vale os americanos e a OTAN se mandarem, depois de 20 anos, e deixaram um povo cheio de esperanças para trás. Uma transição tinha que ter sido patrocinada pela ONU.
Pandemia
A pandemia, com esta nova variante Delta, segue derrubando os mercados. Nos EUA, voltaram a mais de mil mortes por dia, pela primeira vez em cinco meses. Em adição, já são vários os países optando pela terceira dose.
Mercado
As bolsas internacionais operaram em queda nesta quarta-feira (dia 18), refletindo a proximidade de um tapering nos EUA, depois do comunicado da ata do FOMC, as novas ameaças do Covid e o clima tensa no Afeganistão.
Em Wall Street, o Dow Jones recuou 1,08%, a 34.960 pontos, o S&P 500 queda de 1,07%, a 4.400 pontos, e o Nasdaq, -0,89%, a 14.525 pontos. No Brasil, o Ibovespa registrou mais um pregão de queda, -1,07%, a 116.642 pontos. Já são 2% em perdas neste ano na bolsa paulistana. Já o dólar “estressou”, elevando a R$ 5,374 (+1,99%).
Tudo nos leva a crer que teremos mais um dia de sell-off nesta quinta-feira (dia 19).
Nesta madrugada, na Ásia (5h05), os mercados fecharam em forte queda. Nikkei recuou 1,1%, Kospi, na Coréia do Sul, -1,93%, Shanghai Composite, -0,57% e Hang Seng, -2,18%.
Na Europa (04h05) todos os mercados imbicavam em fortes em queda. DAX recuando 1,48%, a 15.729 pontos; FTSE 100, -1,93%, a 7.031 pontos; CAC 40, -1,82%, a 6.646 pontos; e Euro Stoxx 50 -1,59%, a 4.122 pontos.
Nos EUA, vemos a de NY, S&P 500, recuando 0,76%, a 4.361 pontos, Nasdaq 100, -0,84%, a 14.732 pontos e Dow Jones, -0,77%, a 34.617 pontos. No mercado de treasuries, US 2Y, -3,38%, a 0,2116; US 10Y, -2,85%, a 1,237 e US 30Y, -2,20%, a 1,871.
No dólar, o DXY atingiu o maior nível neste ano, 93,433 pontos, em alta de 0,31%. Isso pode trazer mais volatilidade aos mercados ao redor do mundo nos próximos dias.
No mercado de petróleo, o barril Petróleo WTI recuava 2,93%, a US$ 63,30 e o Brent -2,49%, a US$ 66,53.
Na agenda desta quinta-feira, atenção para os pedidos semanais de {{ecl-294||seguro-desemprego nos EUA } }e os indicadores antecedentes da economia americana em julho pelo Conference Board. A expectativa é de continuidade de queda nos perdidos e melhora no indicador do “Conference”. Teremos também a divulgação da Sondagem Industrial do Fed da Filadélfia. No Brasil, de novidade o IGP-M na segunda prévia e a Sondagem da Indústria pela CNI.