Muitos comentam que preferem ficar de fora do mercado em agosto, conhecido também como “mês do desgosto”, visto que é nesta época que os piores prognósticos se confirmam. É um mês de férias de verão no Hemisfério Norte, um sufoco de calor, daí, muitos conhecerem o período, também, como “mês do cachorro louco”. Lá em cima, todos saem das suas cidades e vão para o campo ou as praias. Como resultado, acaba se tornando um período fraco de negócios para os mercados de ativos, com poucas novidades e volume fraco. A bolsa paulistana, por exemplo, “abastecida” com metade de recursos de fora, acaba mais fraca e com poucas novidades.
Neste agosto de 2021, no entanto, para contrariar, isso não aconteceu.
Tivemos uma série de eventos marcantes. Uma “retirada desastrada dos EUA” no Afeganistão, os mercados operando, todos, de olho nos comunicados e declarações de Jerome Powell, sobre o início do tapering, e no Brasil, um festival de declarações polêmicas e desastradas deste presidente, “conspirações” aos montes, muitos torcendo para acabar logo, ao nosso ver, um dos mais desastrados ciclos de governo da história republicana.
Muitos vão se colocar contra os meus argumentos, mas é absolutamente despropositado um presidente viver em campanha, a tumultuar o processo político, desafiando as instituições, em declarações desastradas e incendiárias.
Um presidente, em regime presidencialista, é o “farol” desta nação. O que diz, repercute, para o bem ou para o mal.
O problema é que Bolsonaro só dá declarações erradas, fora do tempo e do espaço. Defender que as pessoas se armem, mesmo faltando comida no prato? “Esticar a corda” contra o STF e o TSE, neste papo de “voto impresso”? Atacar os poderes da república a todo momento? Falar em ruptura, de manhã, de tarde, de noite? Ser contrário ao uso de mascaras, à vacinação, ao isolamento social, quando sabemos que foram estes protocolos de comportamento que salvaram vidas no mundo inteiro?
Acreditamos que passado estes quase três anos de governo, o apoio ao presidente Bolsonaro, em termos eleitorais, não chegue a 20%, mais localizados nas classes mais pobres, nos evangélicos e em parte da “família militar”.
Importante um adendo.
O alto comando das Forças Armadas rejeita qualquer discurso que pregue a “ruptura”, na opinião deles, uma “aventura”. Dito isso, as Forças Armadas não estão “fechadas com Bolsonaro”. Talvez soldados, policiais, baixa oficialidade o apoiem, mas isso não representa um peso considerável para se tentar um “golpe”.
No dia 07 de setembro teremos novas manifestações, mas até neste caso, não há apoio dos militares que, pelo clima açodado, já cancelaram qualquer desfile militar.
Retornando ao mundo real
Na agenda no Congresso e no esforço hercúleo do ministro Paulo Guedes de tentar entregar o que prometeu, uma boa notícia veio da entrevista de Arthur Lira, presidente da Câmara, reforçando a responsabilidade fiscal e o teto dos gastos. Isso, inclusive, vem sendo apregoado por Roberto Campos Neto, presidente do BACEN, mais blindado do que nunca, depois do STF ter rejeitado as “puxadas de tapete” dos esquerdistas de sempre (PT e PSOL), contra a autonomia do Banco Central. Disse RCN que o governo precisa reforçar a narrativa sobre a situação fiscal do País.
Falando do lançamento do Auxílio Brasil, parece que um crédito extraordinário está sendo “negociado”. Neste contexto, o Congresso teria que autorizar a execução e, desta forma, o governo teria controle sobre os gastos com a medida.
E a crise hídrica segue incomodando
Segundo o economista Gesner Oliveira, ex-presidente da Sabesp (SA:SBSP3) e do Cade, um dos motivos do problema é a pouca flexibilidade nas matrizes energéticas disponíveis. Para ele, “o Brasil deveria pensar em alternativas de energia de médio e longo prazo, com estratégia e planejamento para ter as fontes eólica e solar como opções”.
E a crise hídrica, a maior da história, mesmo com o País cheio de usinas termoelétricas, tende a provocar impactos em cascata sobre a “tríade inflação, juros e recuperação econômica”. Muitos acham que o governo está segurando a decisão do racionamento ou da redução do consumo, pensando nos seus impactos eleitorais. Achamos esta leitura totalmente equivocada. Pior que está não fica. A cada declaração amalucada deste presidente, num “sincericídio” inútil, menos pontos na popularidade se verificam. Não é adotar as medidas corretas que irão minar sua já escassa base eleitoral.
Por fim, o IPEA divulgou nesta sexta-feira a previsão de que o PIB do Brasil deverá ficar praticamente estável no segundo trimestre deste ano, crescendo 0,1% contra os três meses anteriores, pela série dessazonalizada. Na projeção anterior sobre a atividade econômica, o Ipea previa alta de 0,2% do PIB no segundo trimestre.
Nesta semana, estejamos atentos aos dados de mercado de trabalho nos EUA, para termos noção de quão aquecido está este segmento da economia dos EUA. Lembremos que o Fed se baseia no que chamam de “duplo mandato”, de olho atento na inflação e no emprego.
Mercados
Iniciamos a semana com os mercados buscando um norte, uma direção.
Nos EUA, Jerome Powell deu mais ênfase ao gradualismo, mesmo não descartando o “desmonte”, pelo tapering. Em paralelo, causa preocupação o furacão monstro Ida no litoral dos EUA; no Afeganistão, segue o impasse sobre a retirada dos “refugiados”.
No Brasil no dia 27, no fechamento, a moeda norte-americana recuou 1,15%, cotada a R$ 5,197, no menor patamar em mais de duas semanas, desde 10 de agosto. Já o Ibovespa, na sua volatilidade habitual, refletindo estes descaminhos da arena política, voltou a avançar forte, +1,65%, a 120.678 mil pontos, na semana avançando 2,22%.
Neste dia 30, na Europa (05h05) os mercados futuros operavam em queda. DAX recuando 0,01%, a 15.850 pontos; FTSE 100, +0,32%, a 7.148 pontos; CAC 40, +0,01%, a 6.682 pontos; e Euro Stoxx 50 0,06%, a 4.193 pontos.
Nesta madrugada, na Ásia (5h05), os mercados fecharam em ALTA. Nikkei avançou 0,54%, a 27.789 pontos; Kospi, na Coréia do Sul, +0,33%, a 3.144 pontos; Shanghai Composite, +0,17%, a 3.528 pontos, e Hang Seng, 0,32%, a 25.488 pontos.
Nos EUA, as bolsas de NY operavam em suave alta no futuro (05h05). O Dow Jones avançando 0,04%, a 35.418 pontos, o S&P 500, +0,05%, a 4.507 pontos, e o Nasdaq 0,11%, a 15.449 pontos. No mercado de treasuries, os US 2Y recuando 0,88%, a 0,2151, os US 10Y -0,89%, a 1,300 e os US 30Y, -0,47%, a 1,910. No DXY, o dólar recuava 0,99%, a 92,688. Petróleo WTI, a US$ 68,06 (-0,99%) e Petróleo Brent US$ 71,41 (-0,40%).
Na agenda de hoje, o PMI Industrial da China em agosto, para o qual se prevê ligeiro recuo. Na agenda semanal, como destaque o payroll de agosto nos EUA. Estejamos atentos o PMI também dos EUA, Zona do Euro, Japão, Alemanha e Reino Unido.