Dia de cautela nos mercados globais, diante do discurso de Jerome Powell em Jackson Hole. Espera-se o anúncio do timing para o início do processo de tapering, redução de estímulos (US$ 120 bilhões/mês na compra de Treasuries e títulos de hipotecas), já na reunião do FOMC de setembro, a ser iniciada em outubro. Se isso se confirmar, se preparem para muita volatilidade nos mercados hoje. Isso porque, eram maioria os que acreditavam no seu início apenas em 2022.
Outro foco de tensão vem de Kabul, Afeganistão, depois de duas explosões e mortes entre soldados americanos e civis afegãos. A autoria, o Exército Islâmico (ISIS).
Não tem outro discurso.
O Afeganistão se transformará numa grande plataforma de exportação de terrorismo, tal o caótico viés deste novo governo que se configura. Os Talibans são apenas isso, caos, obscurantismo e retrocesso. Não possuem a mínima capacidade para formar um governo coeso, de união nacional, organizado e focalizado. Por isso, o drama humanitário de milhares de pessoas fugindo.
Que país, a não ser pelo interesse econômico, se aliaria a eles?
Tudo nos parece uma perigosa aventura política, numa zona em que a geopolítica é predominante para os EUA, China e Rússia. Por enquanto, os chineses saem na frente, na sua “política suave” de aproximação e “engate de negócios”. Já se comprometeram inclusive, em reconstruir o país. Não usam armas, exércitos, usam sim a persuasão econômica. Por isso, estão em todos os continentes. É a “rota da seda” se espalhando pelo mundo.
Em Jackson Hole
Três membros da diretoria do Fed - Esther George (Fed Texas), Robert Kaplan (Fed Dallas) e James Bullard (St Louis) - já deixaram nas entrelinhas que o início do tapering deve ser neste ano, talvez anunciado em setembro e iniciado em outubro.
Esther George, da ala mais hawkish do Fed, defende que a autoridade monetária inicie em breve a retirada de estímulos. Robert Kaplan, do Fed de Dallas, a participar dos votos em 2023, acha que seria muito saudável o Fed começar a desacelerar na compra de ativos em setembro (“ou um pouco depois disso”). Disse que uma gradual redução está próxima, será gradual e num prazo de oito meses. Já o diretor do Fed de St Louis, James Bullard, disse que o Fed está se “unindo em torno do plano de começar a reduzir na compra de títulos, no total de US$ 120 bilhões ao mês”. Espera uma boa avaliação sobre o cenário atual no discurso de Jerome Powell.
Acreditamos que este processo deve acontecer mesmo neste ano, mas é importante que parte da ala mais hawkish do Fed não tem direito a voto em 2021. Não será surpresa se o balanço de Jackson Hole for mais equilibrado ou dovish.
Tudo está em aberto. Aguardemos.
No Afeganistão
As coisas seguem bem complicadas para o presidente Joe Biden no plano de retirada do Afeganistão. Por enquanto, o que se tem é o caos em Kabul.
Ontem, duas bombas explodiram no aeroporto, matando 13 soldados americanos e muitos civis (60 mortos e mais de 100 feridos). É crítica, cada vez mais generalizada, de que faltou tato ao presidente no anúncio desta retirada. Poderia ter sido algo mais gradual e sem a necessidade do espalhafato do anúncio. Tudo bem, os Talibans vinham avançando, mas será que teriam “peito” para entrar em Kabul com as tropas da OTAN e dos EUA ainda baseadas por lá? O elemento surpresa sempre é um fator importante num campo de batalha. E os americanos sabiam deste avanço.
Mesmo assim, Joe Biden, em discurso ontem, reforçou a retirada dos cidadãos envolvidos e das tropas de Kabul até o dia 31. Recomendou, junto com outros chefes de Estado, que as pessoas que estão fugindo, se encaminhem para as fronteiras. Uma intervenção aguda da ONU, do Conselho de Segurança, se faria urgente neste momento tão crucial. Afinal, foi para isso que esta instituição foi criada, administrar “situações limite”, e não ficar na retaguarda de tropas de ocupação.
Paulo Guedes
No Brasil, seguem as tratativas para a reforma ministerial de abril de 2022. Este é o prazo para a desincompatibilização de muitos ministros do governo Bolsonaro a se lançarem nas eleições daquele ano. Um deles será o da Infraestrutura Tarcísio Freitas, talvez se lançando ao governo do estado de São Paulo.
Chama atenção, no entanto, a “sanha” do Centrão por fatias de poder nesta reforma. Boatos são crescentes de que Paulo Guedes estaria (mais uma vez!) na “bola sete”, com o seu ministério podendo ser desmembrado. Quer o Centrão recriar os ministérios da Fazenda e do Planejamento. É objetivo deles abocanhar o Tesouro, ou seja, o direcionamento de recursos públicos.
Cabe ao presidente resistir. Se ceder, terá entregue a “chave de cofre” para a corrupção. Outro ministério alvo e o de Minas e Energia, de Bento Albuquerque.
São literalmente, os despojos, aproveitado pelos abutres. Que outra denominação para este momento? Aguardemos.
No Congresso
Arthur Lira, presidente da casa, parece conformado com o “arquivamento” da reforma tributária. Disse ele ontem que só volta à pauta quando cada partido se convencer do que é proposto. Quer com isso, evitar uma derrota nesta proposta de reforma do IR.
Sobre a PEC dos precatórios, a costura está sendo feita com o STF, devendo evitar o envio de uma PEC. A ideia é recalcular o valor das dívidas judiciais desde 2016 e fixar um teto para o pagamento no corrente ano.
Enquanto isso, no texto da Reforma Administrativa, apresentado pelo relator Arthur Maia, a mensagem é de que “é moderno, trazendo elementos de gestão e desempenho e garantindo direitos para quem já está trabalhando. É um avanço para o Brasil”.
Indicadores
Sobre os dados do CAGED, o saldo líquido de empregos formais em julho foi positivo em 316,5 mil vagas, no ano, 1,84 milhão de vagas formais geradas. A Agropecuária abriu 25,4 mil, a Indústria 58,8 mil, a Construção Civil 29,8 mil, o Comércio 74,8 mil e os Serviços 127,7 mil.
No front inflacionário, além da crise hídrica e a quase inevitável necessidade de racionamento, observamos também choques decorrentes da alta dos combustíveis no horizonte. Como observamos no gráfico a seguir, inevitável seguir a “trilha dos preços internacionais”, e isso vem sendo feito pela Petrobras (SA:PETR4). Lembremos que Castelo Branco caiu por isso.
Mercados
No Brasil, no dia 26, diante de um cenário de muita tensão e incerteza, o dólar avançou ante o real. No fechamento, a moeda norte-americana avançou 0,87%, para R$ 5,2568. Já o Ibovespa voltou a recuar forte, -1,73%, a 118.723 mil pontos. No mês, o índice paulistano acumula perdas de 2,53% e no ano, no negativo em 0,25%.
Nesta sexta-feira, dia 27, as bolsas internacionais operavam cautelosas, na expectativa do discurso de Jerome Powell em Jackson Hole, e diante da escalada de violência em Kabul, sem esquecer da preocupação com a pandemia e a retomada da economia global.
Na Europa (04h05) os mercados futuros operavam em queda. DAX recuando 0,20%, a 15.761 pontos; FTSE 100, -0,06%, a 7.120 pontos; CAC 40, -0,27%, a 6.648 pontos; e Euro Stoxx 50 -0,07%, a 4.162 pontos.
Nesta madrugada, na Ásia (5h05), os mercados fecharam em sinais mistos. Nikkei recuou 0,36%, a 27.641 pontos; Kospi, na Coréia do Sul, +0,17%, a 3.133 pontos; Shanghai Composite, +0,59%, a 3.522 pontos, e Hang Seng, -0,04%, a 25.406 pontos.
Nos EUA, as bolsas de NY operavam em suave alta no futuro (05h05). O Dow Jones avançando 0,32%, a 35.273 pontos, o S&P 500, +0,34%, a 4.481 pontos, e o Nasdaq, 0,36%, a 15.333 pontos. No mercado de treasuries, os US 2Y avançavam 0,67%, a 0,2406, os US 10Y +0,00%, a 1,344 e os US 30Y, -0,12%, a 1,939. No Índice Dólar, o dólar recuava 0,06%, a 93,025. Petróleo WTI, a US$ 68,59 (+1,74%) e Petróleo Brent US$ 71,19 (+1,44%).
Na agenda de hoje, como já dito, em destaque o que será dito por Jerome Powell em discurso no encontro anual de presidentes dos Bancos Centrais, às 11h00 de Brasília, em Jackson Hole. Em paralelo, conselheiros de Biden já recomendam mais um mandato para o atual presidente do Fed, com Lael Brainard como vice.