Investing.com - O Brasil terminou a semana com um novo presidente definitivo após um longo processo que culminou na quarta-feira (31/8) com o afastamento definitivo da ex-presidente Dilma Rousseff e a posse de Michel Temer. Dilma foi considerada culpada e punida com a perda do cargo por ter ferido a Lei de Responsabilidade Fiscal por 61 votos a 20 dos senadores.
Com o fim do processo de que durou quase 10 meses e paralisou a política e a economia nacional, os investidores olham para o novo governo, que seguirá no comando do país até o final de 2018. E os desafios para o presidente Michel Temer e sua equipe econômica não são poucos.
Apesar de contar com grande maioria no Congresso, os parlamentares já deram sinais de que não serão 100% fiéis aos planos da equipe comandada por Henrique Meirelles. Diversos reajustes foram aprovados e outros estão na fila para apreciação, a extensão e ampliação da DRU quase foi rejeitada e o governo foi obrigado a ceder na negociação da dívida dos estados.
A movimentação dúbia da base aliada põe dúvidas no mercado sobre a capacidade do governo de entregar sua principal obrigação: o ajuste das contas públicas. Com o país se encaminhando para o maior déficit fiscal da história e com um gigantesco buraco nas contas programado para 2017, somente a confiança do mercado na equipe econômica tem mantido as esperanças no sucesso do governo.
Em seu primeiro discurso à nação como presidente da República, Michel Temer enfatizou a necessidade de ajustes e reformas na Previdência e nos direitos trabalhistas. A expectativa é que o governo encaminhe para aprovação ainda neste ano as novas regras para a aposentadoria, que deverão impor a idade mínima obrigatória de 65 aos, elevando o tempo de contribuição.
A Previdência será o grande teste do novo governo. Se Temer não conseguir aprovar nos próximos meses o seu projeto de reforma praticamente selará o fracasso dos seus dois anos e meio à frente do país, que deverá afundar em nova crise de confiança.
E não só do mercado privado que vêm as pressões pelo ajuste. Nesta semana, o Banco Central indicou a taxa Selic hoje em 14,25% poderá começar a cair se o governo conseguir encaminhar a solução para o déficit fiscal. No comunicado que o Copom informa a manutenção dos juros, os diretores retiraram o trecho que não seria viável baixar a Selic, presente no documento da reunião anterior.
Os dados econômicos do país seguem afundando, mas a confiança dos empresários começa a indicar a possibilidade do fim da recessão e crescimento já em 2017, com a indústria e os investimentos começando a dar sinais de recuperação. Sempre mais otimista do que o mercado, o governo já acredita em crescimento do PIB em até 2,5% no próximo ano e revisou para cima a projeção de receita do orçamento federal, que não contém alta de impostos.
Enquanto as previsões para 2017 melhoram, os dados deste ano seguem cavando o fundo do poço. O PIB recuou 0,6% no segundo trimestre, o desemprego subiu para 11,6% no trimestre encerrado em julho e o déficit primário foi de R$ 12,8 bilhões em julho.
Michel Temer, recém-empossado, embarcou para China a fim de buscar reconhecimento internacional para seu cargo e investimentos para o país. A expectativa é que sejam assinados acordos para trazer novos recursos chineses, especialmente para obras de infraestrutura.
Fed. O mercado internacional – e grande parte dos investidores brasileiros – mantiveram o olho na grande dúvida do ano: quando o banco central norte-americano elevará seus juros. As especulações buscando decifrar as falas dos diretores do Fed e interpretar como estes receberão os dados da economia dos EUA trazem volatilidade ao mercado acionário global. Enquanto as apostas em alta cresceram na semana passada com os discursos da presidente Janet Yellen e de seu vice Stanley Fischer, o movimento foi inverso com os dados frustrantes da geração de empregos na maior economia do mundo divulgada hoje.
Dólar. A moeda norte-americana oscilou com as apostas no Fed e com certa incerteza em relação à capacidade do novo governo em entregar as reformas prometidas. Ao fim da semana, o dólar registrou uma leve perda, fechando a R$ 3,25.
Bovespa. Com a expectativa de que os juros nos EUA demorarão mais a subir, as ações da bolsa brasileira receberam o estímulo que faltava para fechar a semana no recorde de dois anos, com ganhos de 3,2% voltando a encostar nos 60 mil pontos.
Braskem (SA:BRKM5). O grande destaque no Ibovespa na semana foi a petroquímica da sociedade entre Odebrecht e Petrobras (SA:PETR4). Os rumores no mercado de que uma possível venda de uma fatia da companhia estaria mais perto com um acordo de leniência da empreiteira. O papel disparou 14,5% em cinco pregões.
Petrobras. A petroleira aproveitou a maré de notícias positivas e embolsou ganhos de 8% na semana, superando os R$ 13,50 na ação preferencial. O PDV da empresa recebeu quase 12 mil interessados. O presidente Pedro Parente foi à Noruega fechar um acordo com a Statoil para estudarem parcerias para o desenvolvimento de ativos na bacia de Campos e Santos. Com o novo governo, também ganha força o projeto que desobriga a companhia de investir pesadamente no pré-sal. O desinvestimento também parece estar avançando e a Liquigás poderá ser vendida nos próximos dois meses, enquanto a BR deverá ser negociada no início de 2017.
Vale (SA:VALE5). A mineradora sofreu no meio da semana com dois dias de fortes perdas acompanhando o mercado internacional e a sequência de seis dias de queda na cotação do minério de ferro. Nos cinco pregões, a alta somada foi de 2,8%. A empresa estima vendas de até US$ 6 bilhões em seus ativos essenciais até o final de 2017 como parte do plano de desinvestimento para reduzir o endividamento. O caso Samarco se arrasta com a apresentação do relatório que concluiu que a barragem de Fundão se rompeu por erro de projeto. O estudo foi recebido como uma peça de defesa pelo MPF, que informou que irá apresentar neste mês sua versão para o ocorrido.
Cemig (SA:CMIG4). A estatal mineira aprovou e ampliou a operação de venda de ações da Taesa para se capitalizar e reduzir dívidas. A operação é estimada em R$ 950 milhões.
Smiles (SA:SMLE3). A empresa vê um cenário positivo para aquisições dentro do setor de turismo.
Fibria (SA:FIBR3). A produtora anunciou a conclusão de 50% da sua unidade fabril no Mato Grosso do Sul.
Estácio (SA:ESTC3). O CEO da educacional renunciou em meio ao processo de venda para a Kroton (SA:KROT3). É o segundo caso do tipo em poucos meses na empresa.
CPFL (SA:CPFE3). A chinesa State Grid adquiriu por cerca de R$ 6 bilhões fatia da Camargo Corrêa na elétrica.
Embraer (SA:EMBR3). A companhia acertou a venda de dois jatos para a chinesa Colorful Guizhou Airlines.
Commodities
Petróleo. A commodity operou com volatilidade nesta semana acompanhando o noticiário que ora aponta para a possibilidade maior de acordo da Opep para congelar a produção e ora inviabiliza a proposta. Apesar da alta de sexta-feira com a expectativa de um dólar mais fraco e da pressão do presidente da Rússia Vladimir Putin por um acordo, o petróleo cedeu 7% na semana.
Minério de ferro. A cotação do minério caiu por seis pregões consecutivos no mercado acionário chinês, maior negociador do produto. Na sexta-feira, porém, os preços subiram e retornaram para os US$ 59/t.
Trigo. Os preços da commodity bateram na mínima de dez anos em Chicago com o aumento dos estoques e a grande safra russa.
Soja. A FCStone prevê safra de 101,85 milhões de toneladas em 2016/17.
Energia elétrica. O consumo subiu 0,9% em julho, puxado pelas residências.
Indicadores
Inflação. O IGP-M desacelerou para 0,15% em agosto. O IPC-S perdeu força e ficou em 0,32%, enquanto o IPC-Fipe caiu para 0,11%.
Superávit comercial. As exportações superaram as importações em US$ 4,14 bilhões em agosto.
PIB. A Índia cresceu 7,1%, enquanto a Coreia do Sul avançou 0,8% e a Bélgica, 0,5%. A economia do Canada aumentou 0,6%, já a de Portugal subiu 0,9%, da Áustria, 0,3%, e da Colômbia, 2%. Itália ficou estagnada.